Marcos Degaut, ex-diretor da Defesa e considerado o “homem de Bolsonaro nos Emirados”, vai assumir a direção local da empresa Edge, estatal dos Emirados. A empresa Dark Matters, expert em teorias conspiratórias, pertence ao grupo
O governo dos Emirados Árabes Unidos convidou o ex-secretário de Produtos de Defesa do governo Bolsonaro, Marcos Degaut, para dirigir no país a filial do Edge Group, uma estatal dos Emirados. Uma das empresas controladas pelo Edge Group é a Beacon Red, conhecida anteriormente como Dark Matters, expert em teorias conspiratórias envolvendo empresas de cibersegurança usadas por governos para espionar seus cidadãos.
A empresa árabe é uma das pretendentes a se apoderar da Avibrás, empresa brasileira estratégica do setor de defesa. A prioridade inicial do grupo árabe no Brasil, no entanto, é negociar a compra da Kryptus, a principal empresa brasileira de cibersegurança que, por coincidência, cuida de certificação de urnas eletrônicas – assunto de interesse de Bolsonaro -, a criptografia para as Forças Armadas e Abin, passando por bancos, órgãos públicos e clientes privados.
Degaut confirmou o interesse dos árabes na empresa de espionagem. “Há um início de conversas”, afirmou Degaut. “A Kryptus exporta tecnologia brasileira para mais de 20 países e para isso ativamente procura e mantém parcerias com as principais empresas globais, tanto para negócios no segmento enterprise [soluções de alta complexidade a pedido do cliente] como no segmento governo e defesa”, disse o presidente da empresa, Roberto Gallo.
Em maio do ano passado, Marcos Degaut esteve ao lado do então filho presidencial Eduardo Bolsonaro em uma reunião no Edge Group, em Abu Dhabi. Ele fez diversas viagens ao país árabe e outros, visando entregar o patrimônio brasileiro aos árabes. Começa a ficar claro porque tantos presentes caríssimos foram ofertados aos integrantes do clã Bolsonaro.
Degaut era conhecido no Itamaraty como o homem de Bolsonaro nos Emirados, um dos países mais próximos do então clã presidencial —ficaram famosas as nebulosas visitas de Eduardo, deputado federal pelo PL-SP, a Dubai e Abu Dhabi. Em 20 de abril do ano passado, Bolsonaro enviou ao Senado mensagem indicando Degaut para ser o novo embaixador do Brasil no país árabe. A cúpula da Casa travou a indicação, em um episódio nunca totalmente esclarecido.
Depois de ocupar um cargo estratégico na Defesa, o ex-funcionário de Bolsonaro agora vai trabalhar para um potencial cliente do governo federal, num claro e escancarado conflito de interesses. “Para isso que serve a quarentena”, disse o agraciado. Ele jurou que a Seprod [Secretaria de Produtos de Defesa] não faz aquisições, ela trabalha em formulação de fomento da indústria”, diz.