
Empresários bolsonaristas fizeram doações de carne e emprestaram caminhões e ônibus para a realização das manifestações golpistas em Brasília, revelou o jornal O Globo.
Os mesmos empresários fizeram doações para a campanha de Jair Bolsonaro à reeleição.
Erci Denardin, dona do grupo agrícola Denardin, admitiu ao jornal que enviou os caminhões da empresa para Brasília “para fazer parte do movimento” que pede a anulação das eleições e uma intervenção militar. Cerca de 120 caminhões da empresa foram usados nos atos.
“Votei no Bolsonaro. Quero que o correto seja feito. Se houve fraude nas urnas, não podemos deixar isso. Já foi comprovado que houve fraude. A gente é do agro, o país precisa do agro. Somos uma empresa honesta. Não podemos concordar com falcatrua”, disse. Qual “comprovação” da fraude ela não disse.
O mesmo aconteceu com Felipe Comelli, sócio-proprietário do Grupo Comelli, empresa de transporte de insumos agrícolas. Comelli, que doou R$ 40 mil para a campanha de Bolsonaro, emprestou caminhões para os atos golpistas.
Comelli disse que está usando a estrutura da empresa para se manifestar contra a “censura” do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas redes sociais.
Nas manifestações em Brasilia também foram identificados 10 caminhões da empresa Agrowalker, de Luis Walker. O empresário, que fez uma doação de R$ 6 mil para Bolsonaro usar na campanha eleitoral, não respondeu o Globo sobre os caminhões.
Outros empresários estão articulando e financiando a estrutura e o transporte para os manifestantes. Pedro Defant Filho, dono do Grupo Pampa, que comercializa máquinas agrícolas, divulgou em seu perfil pessoal no Instagram que levantou ônibus que iriam de Tangará da Serra (MT) até Brasília, sem nenhum custo para os manifestantes.
“Já temos três ônibus completos!! Quanto mais voluntários, melhor!!! Boooora povo. Agora ou nunca. Saída para Brasília, todas despesas pagas, começamos hoje nossas saídas!!! Acampamento sendo montado…Todas as despesas pagas”, publicou. Depois, completou: “Muito obrigado a todos, 5 ônibus completos saindo de Tangará”.
O empresário disse que não foi ele quem realizou o fretamento dos ônibus, mas não apontou quem o fez.
As manifestações golpistas contam com caminhões de som, ônibus, tendas e alimentos durante praticamente todo o dia.
A carne foi doada pelo fazendeiro Mário Zinato Santos, dono da fazenda Toca da Raposa, em Planaltina (DF), segundo manifestantes.
O fazendeiro disse que está participando das manifestações, mas que um funcionário levou a carne sem pedir permissão. “Ele [gerente de sua fazenda] que pegou um pedaço [de carne] para levar para lá [manifestação] porque as minhas filhas e meu genro iam e falaram que ia ter churrasquinho. Aí ele levou”, relatou.
Nenhum manifestante ou empresário envolvido explicou de onde vieram os trios, caminhões de som e os mais de 40 banheiros químicos que estão à disposição dos golpistas.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a Polícia Rodoviária Federal (PRF), a Polícia Federal e as polícias militares e civil devem informar tudo o que sabem sobre o financiamento e organização dos atos golpistas.
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo, conversou com Moraes e contou que há financiamento de empresários.
“São empresários que são financiadores, nós já temos alguns nomes, mas que não podemos revelar, que estão sendo investigados”, disse.
“Na nossa visão, há uma grande organização criminosa com funções predefinidas. Financiadores, arrecadadores, tem várias mensagens com número de Pix e tudo mais para que as pessoas possam abastecer financeiramente. E a partir daí nós temos que estabelecer quem exercia qual função. Tem a função financeira, a alimentação. Em São Paulo, a gente percebe ônibus de prefeituras transportando pessoas. Tudo isso está sendo objeto de investigação”, completou.
Todos os envolvidos que participaram direto ou indiretamente de atos ilícitos, precisam serem punidos com todo rigor da lei. A Constituição têm que ser respeitada por todos.