Entidades do setor industrial levaram, na semana passada, ao deputado Onyx Lorenzoni (DEM/RS), futuro ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, a proposta de criação do Ministério da Produção, Trabalho e Comércio, como alternativa à proposta de um Ministério da Economia, anunciada por Paulo Guedes, que sorverá o atual Ministério da Indústria e Comércio (Mdic).
A demanda foi apresentada pelas entidades industriais que, sob a pressão de poderem ver o Ministério do setor se diluir, agora tentam submeter a pasta do Trabalho à mesma pasta dos empresários.
“Precisamos de uma estrutura que funcione e não de um superministério. O que vai resolver o problema do desenvolvimento do país é sentar e trabalhar”, dizem, argumentando que o Ministério do Trabalho apresenta “entraves à produção”.
No entanto, os empresários defenderem “trabalho” submetido à lei da selva – defendida principalmente pelas grandes empresas, patrocinadoras da “reforma trabalhista”, do fim dos direitos, e arrocho salarial – não é nada mais do que um tiro no pé. Isso porque sem trabalho digno, isto é, direitos garantidos, carteira de trabalho e principalmente salário, os produtores terão muita dificuldade em vender seus produtos, obter lucros, investir e reinvestir, e assim, fazerem a roda da economia girar.
O que as entidades desconsideraram é que não há um projeto de governo do futuro presidente voltado à indústria, que está à míngua, registrando agora em setembro sua terceira queda seguida.
Assim como não há, nos projetos de Bolsonaro, planos de crescimento da economia, de retomada da construção civil e das obras de infraestrutura. Até o momento o que se viu foi falar em ataques à Previdência, privatização e ajuste fiscal. Muito mais do mesmo, em altíssima voltagem.
Estão certas as entidades em discordarem do propósito de submeter o Ministério da Indústria e Comércio a um Ministério da Economia, que expressa exatamente o papel desprezível que estará sendo dado à produção.
Agora, ao assinar embaixo das medidas de “curto circuito”, que aprofundariam a miséria entre o povo, só amplia o fosso da distribuição de renda, com o consequente estreitamento do mercado interno, do encolhimento da indústria, agasalhando, ainda, a tese de que é preciso encolher para crescer. Que papel executaria nesse contexto um Ministério como proposto, no âmbito do “trabalho”?
Somente o de capataz, com garantia nenhuma de sobrevivência para o setor.
A proposta, ainda assim, – que foi apresentada pelas entidades Abimaq, Abinee, Abicalçados, Abiquim, Abit, Abrinq, Anfavea, AEB (de comércio exterior), Cbic (da construção civil) e Instituto Aço Brasil – já vê dificuldades em prosperar.
O próprio deputado Lorenzoni, sinalizou que Paulo Guedes, guru de Bolsonaro para a economia, entende que o Mdic deve ficar mesmo atrelado à Fazenda e ao Planejamento e sob seu comando.
J. AMARO