
“Medidas unilaterais e intempestivas não servem aos interesses dos brasileiros ou dos estadunidenses”
Lideranças de diversos setores da indústria exportadora no Brasil reagiu com surpresa e indignação à decisão do presidente dos Estados Unidos de impor a tarifa de 50% aos produtos importados do Brasil, que começa a valer em 1º de agosto contra “qualquer e todo produto brasileiro”, segundo carta divulgada por Trump.
CARNES
Para a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) a medida representa um “entrave ao comércio internacional” e ameaça a segurança alimentar global. “Qualquer aumento de tarifa sobre produtos brasileiros impacta negativamente o setor produtivo da carne bovina”, disse a entidade, em nota, na quarta-feira (9). “Questões geopolíticas não devem se transformar em barreiras ao abastecimento global”, afirmou a entidade. Os Estados Unidos “recebem nossos produtos com qualidade, regularidade e preços acessíveis”, destacou a associação representante do setor que tem nos EUA o segundo principal destino das exportações de carne bovina brasileira.
SUCOS
Para a CitruxBR, os representante de sucos foram “pegos de surpresa” e é uma “péssima notícia”, segundo o diretor executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto. “Entendemos que essa medida afeta não apenas o Brasil, mas toda a indústria de suco nos Estados Unidos, que emprega milhares de pessoas e tem o Brasil como principal fornecedor externo há décadas”, declarou ao Estadão.
Com a tarifa vigente de 10%, “não se sabe, novamente, se essa tarifa de 50% será cumulativa ou não”, completou Neto. O Brasil é o maior exportador de suco de laranja e para os Estados Unidos.
CAFÉ
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) manifestou em nota que a elevação da tarifa a 50% sobre o café trará efeitos negativos para o setor e para os EUA. “Quem vai ser onerado é o consumidor norte-americano. Tudo que gera impactos ao consumo é ruim para o fluxo do comércio, para a indústria e para o desenvolvimento dos países produtores e consumidores”, disse, em nota à reportagem do Estadão, o diretor-geral do Cecafé, Marcos Matos.
“Os Estados Unidos são o país mais importante em termos de consumo de café, com cerca de 24 milhões de sacas por ano, e o Brasil é o principal fornecedor, com mais de 30% de participação no mercado”, afirmou. Até então, lembrou o diretor do Cecafé à reportagem, o Brasil era taxado em 10% para exportar café ao mercado americano, mesma alíquota aplicada a outros concorrentes, como Colômbia e Honduras. Já Vietnã, Indonésia e Nicarágua pagavam entre 18% e 30%.
De acordo com o Cecafé, os Estados Unidos lideraram as importações do produto brasileiro de janeiro a maio deste ano, com 2.874.250 sacas de 60 kg, uma participação de 17,1% em todo o volume embarcado pelo País.
INDÚSTRIA DE PLÁSTICO
O presidente do Conselho da Associação Brasileira da Indústria do Plástico, José Ricardo Roriz, afirmou ao Estadão/Broadcast que o segmento deve ser negativamente afetado pela tarifa de 50% dos Estados Unidos em vários níveis: pelo impacto direto em produtos plásticos vendidos para os americanos, por uma eventual diminuição de exportações de produtos que usam o plástico como embalagem e pelo ambiente econômico de incerteza.
“O impacto está não só nos produtos plásticos que são vendidos diretamente como também nos outros produtos em que participamos do processo produtivo”, declarou Roriz.
ABICALÇADOS
Em nota, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) manifestou que recebeu com “surpresa e preocupação” a taxação de 50% pelos EUA. Segundo o presidente-executivo da entidade, Haroldo Ferreira, a medida foi como “um grande balde de água fria para o setor calçadista brasileiro”.
Em junho de 2025, as exportações do setor tiveram alta de 24,5% em relação ao mesmo mês do ano passado, impulsionadas pelas vendas aos EUA, principal destino das exportações brasileiras do setor, com alta de de quase 40% no mesmo período.
ABIT
Em nota à imprensa, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) afirma que Brasil e Estados Unidos mantêm uma longa e sólida tradição de relacionamento político, econômico e diplomático. “Medidas unilaterais e intempestivas não servem aos interesses dos brasileiros ou dos estadunidenses, que compartilham valores democráticos, forte intercâmbio comercial e cultural, e aspirações comuns de desenvolvimento econômico e social”.