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A presidente do conselho de administração da rede Magazine Luiza, Luiza Helena Trajano, afirma que as empresas “não aguentam mais” os juros altos do Banco Central (BC) e cobra de Gabriel Galípolo (presidente do BC) que pare de comunicar novos aumentos dos juros.
“Quero falar em nome do setor varejista, porque o varejo é o primeiro que sofre e o primeiro que demanda. A pequena e média empresa não aguentam mais sobreviver com isso [juros altos], não tem condição. E é ela que gera emprego”, disse a dona da varejista Magazine Luiza, em evento promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na sexta-feira (14), que contou com a presença de Gabriel Galípolo.
“Quero pedir para ele [Galípolo] por favor não comunicar mais que vai ter aumento de juros, porque aí já atrapalha tudo desde o começo”, completou Trajano.
Com o BC elevando o nível da taxa básica de juros (Selic) desde setembro de 2024 – mês que a taxa nominal de juros estava em 10,5% -, hoje a Selic está em 13,25%, colocando Brasil de volta na primeira colocação do ranking de países com as maiores taxas de juros reais do mundo (quando descontado a inflação).
Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, Galípolo acenou ao mercado financeiro que o colegiado irá realizar mais um aumento de 1 ponto percentual no nível da Selic, no encontro do Copom em meados de fevereiro deste ano. Desta forma, a Selic atingirá os 14,25%.
A última vez que a taxa chegou neste nível foi em 2015, no segundo mandato presidencial de Dilma Rousseff (PT), ano em que a economia brasileira se afundou na recessão, com uma queda de 3,8% no Produto Interno Bruto (PIB).
Já respondendo ao novo ciclo de aumentos de juros pelo BC a produção industrial brasileira recuou –0,3% em dezembro de 2024, em relação a novembro, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse foi o terceiro mês seguido de queda (out, -0,2%; nov, -0,7%; dez -0,3%).
No mês de dezembro de 2024, as vendas do comércio varejista restrito também voltaram a ficar em baixa, ao caírem -0,1% em relação a novembro (-0,2%), enquanto, o comércio varejista ampliado – que inclui veículos, motos, partes e peças; material de construção e atacarejo – recuou -1,1%.
Na média móvel trimestral encerrado em dezembro, tanto as vendas do comércio varejista como as do ampliado apresentaram resultados frustrantes, com o primeiro com variação nula (0,0%) em relação ao trimestre encerrado em novembro de 2024 (0,3%) e a segunda, com variação de queda -0,7%, na mesma base comparativa.
Por sua vez, o volume de serviços prestados no Brasil recuou -0,5% em dezembro, repetindo o resultado negativo mensal, em novembro o recuo foi de-1,4%, desta forma, acumulando nos dois últimos meses de 2024 perdas de -1,9%.
Com a Selic atingindo o maior nível dos últimos 10 anos, os economistas já projetam que a economia deve ficar em recessão entre o terceiro e último trimestre de 2025. O mercado atua para que o BC siga elevando os juros neste ano e já projeta uma Selic acima dos 15% em dezembro.
A economia entrar em recessão não parece preocupar Galípolo. Presente no encontro, Galípolo propôs-se a repetir frases vazias, como, por exemplo: “tem alguém que não tem qualquer tipo de proteção à perda do poder aquisitivo da moeda, é a população”, disse Galípolo – que parece desconhecer que o desemprego e o fechamento de empresas desgraçam vidas.
A inflação no Brasil, que neste ano segue sob controle e baixa, vem sendo pressionada pela disparada dos preços de alimentos – que, em prol da promoção desenfreada da exportação – estão com seus preços internos amarrados às decisões de bolsas de valores estrangeiras, que nunca serão atingidas pela política monetária contracionista da BC brasileiro. Mas para Galípolo, “esse é o mandato do Banco Central e é o mandato que o Banco Central não vai se desviar” da meta de inflação.
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