O desemprego e o arrocho resultantes da recessão econômica elevaram para 62,4 milhões o número de brasileiros inadimplentes em setembro, informou pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL).
Isso representa 40,6% da população adulta (acima de 18 anos), que está com dívidas em atraso e, por consequência, com restrições no CPF que dificultam ainda mais o acesso ao crédito.
Contrariando a propaganda da recuperação econômica do governo federal, as estatísticas registram que em setembro a inadimplência cresceu 3,9% na comparação com o mesmo período do ano passado. Os dados refletem o brutal aumento do desemprego e subemprego nos últimos anos, ao mesmo tempo em que os salários são arrochados e o governo ataca os direitos fundamentais da população, como a Previdência, e os trabalhistas. Segundo números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 27,5 milhões de pessoas iniciaram o segundo semestre do ano desempregadas ou subempregadas.
“O desemprego permanece elevado e a renda não superou os patamares anteriores à crise, prejudicando o orçamento e a capacidade de pagamento dos consumidores. Esse quadro deve só deve ser revertido com a melhora do mercado de trabalho”, avalia o presidente da CNDL José Cesar da Costa.
BANCOS
A agiotagem praticada pelos bancos e instituições financeiras através da cobrança de juros absurdos ainda é o principal fator para o endividamento da população. Segundo os dados do SPC, 52,7% das dívidas se refere à inadimplência com o cartão de crédito, cheque especial ou empréstimos bancários – modalidades de crédito para as quais os bancos praticam taxas de juros de, em média, 300% ao ano. As dívidas bancárias cresceram 8,5% na comparação com setembro de 2017.
Além da agiotagem do sistema bancário, viu-se um aumento impressionante da inadimplência com as contas básicas – representando agora 7,9% do total.
IDOSOS
O arrocho no valor das aposentadorias e o crescimento do desemprego refletem também em um aumento expressivo no número de idosos inadimplentes, avançando 10% sobre o mesmo período do ano passado para 5,4 milhões de pessoas entre 65 e 84 anos.
Enquanto no índice geral a maior parte das dívidas é com o sistema bancário,entre os idosos as dificuldades de pagamento se concentram nos serviços básicos, considerados de primeira necessidade.
Na avaliação de economistas da Serasa Experian, que no mês passado diagnosticaram em pesquisa o avanço da inadimplência de idosos, a recessão fez crescer o número de famílias que passaram a depender predominantemente da renda dos familiares aposentados e pensionistas por conta do elevado desemprego.
Além dos idosos estarem comprometendo os benefícios com o orçamento familiar, em tempos de crise também cresceu a adesão ao famigerado crédito consignado, que desconta o valor dos empréstimos direto da fonte comprometendo o orçamento para as contas de primeira necessidade.
De acordo com a Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas (Cobap), desde o plano real, a falta de reajuste no valor das aposentadorias representou uma perda salarial de 85,83% nos benefícios.
PRISCILA CASALE