Com juros nas alturas e salários baixos turbinando as dívidas dos brasileiros, o percentual de famílias com contas a vencer cresceu de 78,5%, em abril, para 78,8% em maio deste ano.
Os números são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada e divulgada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Segundo a entidade, esse foi o terceiro aumento consecutivo do indicador. O resultado também vem acima do pico registrado em maio do ano passado (78,3%). Conforme a sondagem ainda, 20,8% dos consumidores chegaram em maio com mais da metade dos rendimentos comprometidos com dívidas.
Em maio, também “houve continuação do aumento do percentual de pessoas que se consideram ‘muito endividadas’, 17,8%, o maior percentual desde outubro do ano passado”, destacou a entidade, em nota.
Por outro lado, o percentual de famílias com dívidas em atraso manteve-se em 28,6% pelo segundo mês. Entre as famílias que não terão condições de pagar dívidas, o porcentual ficou em 12%, superando o indicador do mesmo mês do ano passado (11,8%).
Com seus juros absurdamente altos, o cartão de crédito obteve a maior participação no volume de endividados no mês, ao ser apontado por 86,9% do total de devedores. Em segundo lugar, as dívidas com carnês (16%), seguido por crédito pessoal (9,8%), também figuram entre as dívidas mais mencionadas pelos endividados.
As famílias de renda mais baixa e de classe média são as mais endividadas, mas houve aumentos nos volumes das dívidas em quase todas as classes.
No grupo com renda familiar mensal de até três salários mínimos, a proporção de endividados subiu de 80,4% em abril para 80,9% em maio. Já para a classe média, com renda de três a cinco salários mínimos, a proporção de endividados cresceu de 79,7% para 79,9%.
Por sua vez, no grupo de cinco a dez salários mínimos, houve alta de 75,5% para 77,1%. No grupo com renda acima de 10 salários mínimos mensais, essa fatia desceu de 71,7% para 71,4%, “esses consumidores possuem mais recursos, não são tão vulneráveis às variações do crédito”, ressalta a CNI.
“Situação similar pode ser observada no percentual com dívidas em atraso. Essa classe de maior renda teve redução da inadimplência, com a população de baixa renda apresentando um percentual de 35,9%, maior do que no mês anterior e abril de 2023”, acrescentou a CNC.
Na última quarta-feira, o Banco Central decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica de juros (Selic), em 10,5%, elevando ainda mais o custo financeiro das empresas, consumidores e governo, que passam por conta desta decisão a arcar com uma taxa de juros reais (quando descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses) de 6,79% ao ano.
O Brasil é o segundo maior cobrador de juros do planeta, conforme o ranking mundial de juros reais, apurado pelo site MoneYou.