78,1% das famílias afirmaram ter dívidas a vencer e, do total 28,6% estão com dívidas atrasadas. Percentual de famílias que afirmam que não terão condições de pagar as dívidas atrasadas já supera o do mesmo mês do ano passado
Em março de 2024, a quantidade de famílias com dívidas atrasadas cresceu e alcançou 28,6% do total das famílias brasileiras endividadas, que também aumentou no mês e chegou a 78,1% dos lares no país.
Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgados nesta quinta-feira (4).
O número de pessoas inadimplentes avançou 0,5 ponto percentual (p.p.) na passagem de fevereiro a março deste ano, sendo a primeira alta neste contingente em cinco meses. Já o volume de endividados apresentou um aumento de 0,2 p.p. em relação a fevereiro.
Também houve crescimento no percentual de consumidores considerados muito endividados, chegou a 16,8% no mês, registrando um aumento de 0,1 p.p. e interrompendo a queda contínua dos últimos quatro meses.
Já o percentual de famílias com dívidas em atraso por mais de 90 dias permaneceu em 47,5% pelo terceiro mês, com aumento daquelas com período entre 30 e 90 dias para 28,7%.
A CNC observa que a população de baixa renda (até 3 salários mínimos – SM) – diante do orçamento apertado – “foi a que impulsionou o endividamento, com a taxa ficando acima até mesmo do resultado de março de 2023” . Essa parcela da sociedade “foi a principal responsável pelo aumento das famílias com dívidas em atraso, acréscimo de 0,6 p.p”, afirmou a entidade, que também constatou um aumento nas dívidas em atraso no grupo de consumidores com renda média-alta (5–10 SM), mas em menor proporção que as de baixa renda.
De acordo com a CNC, ainda, o aumento das famílias que não terão condições de pagar as dívidas em atraso ocorreu somente nas faixas de renda intermediárias (3-5 SM e 5-10 SM) – ou seja na classe média.
“A alta da inadimplência também é vista pelo crescimento do percentual de famílias que afirmam que não terão condições de pagar as dívidas atrasadas em março, que é o grupo mais complexo dos inadimplentes. Nesse caso, o percentual já supera o do mesmo mês do ano passado”, destaca a economista da CNC Izis Ferreira.
Em 2024, a taxa básica da economia (Selic) do Banco Central (BC) segue alta (10,75% ao ano), para estimular a agiotagem dos bancos no Brasil, mas também restringir os investimentos, o consumo e a geração de empregos no país.
Em fevereiro, a taxa média de juros nos empréstimos livremente negociados entre bancos e tomadores (tanto para pessoas físicas quanto jurídicas), alcançou 40,2% ao ano, segundo dados do BC, divulgados na terça-feira (2).
Para as famílias, a taxa média de juros ficou em 52,5% ao ano. Já para as empresas, alcançou 21,4% ao ano.
A pesquisa da CNC mede as dívidas com cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa. Diferente da pesquisa da Serasa Experian sobre inadimplência das famílias, a CNC não incluiu as dívidas com contas básicas como água, luz e gás, por exemplo.
Conforme a pesquisa da CNC, o cartão de crédito segue com o título de vilão das dívidas, ao ser apontado por 86,9% dos entrevistados como o principal responsável pelo endividamento. Em seguida vem os carnês (16%) e o crédito pessoal (10,2%), entre os maiores culpados pelas dívidas.