Endividamento das famílias segue crescendo e atingiu 79,3% em setembro. Com o orçamento apertado e os juros elevados corroendo o orçamento, para as famílias de menor renda a situação é ainda mais grave, batendo a marca de 80,3%, segundo pesquisa da CNC
O endividamento das famílias subiu pelo terceiro mês seguido, chegando em setembro a 79,3% dos lares do país, segundo números da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgada nesta segunda-feira (10). Em um ano, a proporção de endividados aumentou 5,3 pontos percentual (p.p). Em agosto, eram 79% o total de famílias endividadas.
Frente à explosão dos preços dos alimentos, da queda da renda e do desemprego, que marcam o governo Bolsonaro, a proporção de endividados das famílias mais pobres, pela primeira vez na história da pesquisa, ultrapassou a marca de 80%, chegando a 80,3%. O maior patamar já registrado na série histórica da pesquisa da CNC, que teve início em 2010.
“O orçamento das famílias de menor renda segue apertado com nível de endividamento alto, bem como os juros elevados, que pioram as despesas financeiras associadas às dívidas em andamento”, destacou a CNC.
“Pela primeira vez na história da pesquisa, a proporção de endividados entre os consumidores de menor renda ultrapassou a marca de 80%”
Também pelo terceiro mês seguido houve crescimento do volume de inadimplentes no mês passado, alcançando o novo recorde de 30% do total de famílias no país com contas atrasadas em setembro. Em agosto, o percentual era de 29,3%. O indicador da inadimplência avançou 4,5 p.p., em um ano, o maior aumento desde março de 2016. O percentual de famílias que afirmam não ter condições de pagar as dívidas já atrasadas e que permanecerão inadimplentes ficou em 10,7%.
“Embora os atrasos tenham crescido no mês e no ano entre os consumidores nas duas faixas de renda, as dificuldades de pagamento de todos os compromissos do mês são mais latentes entre as famílias de menor renda. Esses consumidores seguem enfrentando desafios na gestão de seus orçamentos mensais, especialmente no contexto de juros elevados”, observa a CNC.
“Embora os atrasos tenham crescido no mês e no ano entre os consumidores nas duas faixas de renda, as dificuldades de pagamento de todos os compromissos do mês são mais latentes entre as famílias de menor renda. Esses consumidores seguem enfrentando desafios na gestão de seus orçamentos mensais, especialmente no contexto de juros elevados”
O cartão de crédito segue como maior vilão das dívidas entre os brasileiros. A modalidade representa mais de 85,6% das contas. Além dessa forma de endividamento, os brasileiros apontaram as dívidas com carnês (19,4%), Financiamento de carro (9,6%), Crédito pessoal (9,1%), Financiamento de casa (7,9%), cheque especial (5,2%) e Crédito consignado (4,9%).
Com os sucessivos aumentos feitos pelo Banco Central na taxa básica de juros da economia (Selic), em um ano, as taxas de juros nas linhas de crédito para pessoas físicas cresceram 13,5 p.p., de acordo com os dados do Banco Central, chegando à média de 53,9% ao ano – maior nível desde abril de 2018 (56,3% ao ano).
Em agosto, o juro médio total cobrado pelos bancos no rotativo do cartão de crédito chegou a 398,4% ao ano. O do cartão de crédito parcelado atingiu 185,9% ao ano. Já a do taxa do cheque especial para pessoas físicas avançou para 128,6% ao ano, a maior taxa desde junho deste ano (129,2% ao ano).
O cartão e o cheque especial são as modalidades de créditos mais usadas pelos brasileiros nas horas emergenciais, ou seja, para cobrir despesas de itens básicos do dia a dia, numa realidade em que o salário do trabalhador não consegue mais fechar o mês – diante da sua desvalorização, da inflação e dos níveis elevados de desemprego e de informalização do mercado de trabalho, que empurram a renda do trabalhador para baixo.
No Brasil, são mais de 9,7 milhões de pessoas desempregadas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outros 39,3 milhões de brasileiros estão na informalidade do trabalho, vivendo de “bicos”, com jornada de trabalho excessiva e renda que muitas vezes não chega sequer a um salário mínimo.