
Daniel Pimentel Slaviero, presidente da Companhia Paranaense de Energia (Copel), empresa de distribuição de energia do estado do Paraná que foi privatizada pelo governador Ratinho Jr. (PSD) em 2023, anunciou que a companhia irá aumentar o preço das tarifas e reduzir gastos com infraestrutura para pagar mais dividendos para seus acionistas entre 2025 e 2027.
Em discurso para os investidores, Slaviero afirmou que o período para o mercado é “auspicioso” até 2027. “Vemos a Copel, a partir de 2026/27, tendo um crescimento virtuoso pela recuperação dos preços, pela nova base tarifária e pelo nível de eficiência com a estrutura de empresa privada, tendo como objetivo mais pagamentos de dividendos”, afirmou Slaviero.
Quando era majoritariamente estatal, a companhia ficava limitada a distribuir no máximo 50% dos lucros anuais, com os outros 50% sendo destinados para investimentos e melhorias. No governo de Roberto Requião, o valor pago aos investidores foi reduzido a 25%.
Desde quando foi privatizada, a Copel aumentou a fatia dos lucros que é distribuída para os acionistas. De acordo com matéria de Manoel Ramires, no portal “Plural Curitiba”, a empresa foi transformada em uma “Corporação” e a fatia de lucros que pode ser entregue para os acionistas subiu para 75%.
Segundo o presidente da Copel, a Copel DIS, subsidiária de distribuição, é uma das grandes responsáveis pelo resultado da companhia. Slaviero destacou que a prioridade da empresa é gerar lucro para os acionistas. “A Copel é uma empresa que alia bons dividendos e com foco em gerar valor para a companhia”, disse.
“Já pagamos R$ 1 bilhão e estamos propondo aos nossos acionistas mais R$ 1,3 bilhão de dividendos adicionais, totalizando R$ 2,3 bilhões. Isso significa um payout de 86%”, comemorou durante a chamada de resultados com o mercado no quatro trimestre do ano passado, realizada em 28 de fevereiro deste ano.
O lucro também passou a ser ampliado com base em redução de custos, com demissão de 1,4 mil funcionários e previsão de aumento da tarifa com consequente queda na qualidade dos serviços prestados. De janeiro a março de 2025, a companhia registrou lucro líquido de R$ 664 milhões e o lucro operacional ultrapassou R$ 1,7 bilhão. Na quinta-feira (15), a empresa pagou R$ 1,2 bilhão em dividendos aos acionistas.
LUCRO VAI PARA POUCOS
O deputado Arilson Chiorato (PT), líder da Oposição na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), afirmou que os serviços de energia estão em colapso como reflexo direto da privatização. No Distrito de Guaragi, em Ponta Grossa, a interrupção no fornecimento de energia elétrica na última semana comprometeu o abastecimento de água. “Enquanto o povo fica no escuro e sem água, o lucro vai para poucos. Isso não é eficiência. Isso é injustiça”, afirmou o parlamentar.
Arilson lembrou que até ser privatizada a Copel era referência nacional em qualidade de serviço e premiada pelo bom desempenho. Hoje, a empresa lidera o ranking de reclamações por falhas no fornecimento de energia elétrica em todo o país.
Segundo o parlamentar, a situação é agravada pelo processo de regionalização e desmonte da Sanepar, que é entregue gradualmente à iniciativa privada. Trechos operacionais são repassados por mesorregiões, o que, segundo ele, compromete o atendimento à população e prioriza o lucro em detrimento do interesse público.
“Esse modelo fatiado já começa a apresentar os mesmos problemas da Copel: serviço precário, falta de investimento e abandono das comunidades menores […] A população é penalizada duas vezes pela falha no fornecimento e pela tarifa alta”, afirmou.
FALHAS GERAM PREJUÍZOS À POPULAÇÃO
O setor produtivo também sofre com a ganância dos acionistas da Copel. Arilson citou prejuízos em série, causados por quedas constantes de energia elétrica: no sudoeste, onde produtores foram obrigados a descartar leite por falta de refrigeração; no noroeste do estado, onde avicultores relataram perdas em granjas e no oeste, onde piscicultores viram a produção comprometida.
O setor industrial também teve prejuízos. Em Mandaguari, no norte, fábricas suspenderam turnos de trabalho diante da instabilidade no fornecimento. De acordo com levantamento do mandato, 388 municípios paranaenses já registraram episódios de apagões, muitos com prejuízos materiais a residências, comércios e indústrias.
“É o retrato do que virou a Copel depois da privatização. Podem ir a qualquer cidade do estado que a reclamação é a mesma: falta luz e o povo ainda paga mais por isso”, denunciou.
O deputado Arilson ainda trouxe à tona um novo capítulo envolvendo a venda da Copel. A Comissão de Valores Mobiliários abriu processo contra o Bradesco, um dos principais agentes da operação, por suspeitas de irregularidades durante o processo de privatização.
“Não podemos errar de novo. Essa Casa tem a obrigação de rever o que foi feito. A Copel precisa voltar a ser uma empresa a serviço do povo do Paraná e não a serviço do mercado financeiro”, cobrou.
O deputado Arilson fez questão de lembrar que a Copel, antes da privatização, mantinha programas estratégicos familiar e ao desenvolvimento regional, como a irrigação noturna. “Era uma empresa com consciência paranaense, hoje virou uma corporação gananciosa, predadora e voltada unicamente ao lucro”, concluiu.