Defesa do jornalista australiano tem até o dia 18 de maio para contestar a decisão da corte inglesa de extraditar aos Estados Unidos o denunciador dos crimes de guerra norte-americanos
Entidades de jornalistas do mundo inteiro, mais vários clubes PEN, a ong Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e outras organizações de defesa da liberdade de imprensa dirigiram carta à ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, exigindo que recuse a extradição do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, recém emitida por uma corte britânica, e sua imediata libertação.
Assange, o mais conhecido preso político do planeta, se encontra há três anos encarcerado na prisão de segurança máxima de Belmarsh, depois de ter se abrigado na embaixada do Equador em Londres por sete anos como refugiado, no esforço de evitar a extradição.
Os subscritores alertam também para o fato de as acusações contra Assange abrirem «um precedente perigoso, que poderia ser aplicado a qualquer meio de comunicação social que publique artigos baseados em acesso a informação classificada, ou contra qualquer jornalista, editor ou fonte em qualquer lugar do mundo».
A RSF está recolhendo assinaturas pela não extradição e libertação de Assange, cujo ‘crime’ foi expor ao mundo os crimes de guerra dos EUA no Iraque, no Afeganistão e em Guantánamo, o que, segundo Washington, constitui ‘espionagem’.
Também a esposa de Assange, Stella Moris, exortou o primeiro-ministro Boris Johnson e a ministra Patel “tomarem a decisão certa aplicando o quarto artigo do tratado internacional entre os EUA e o Reino Unido, que se refere à proibição de extradição por crimes políticos. Este caso é de natureza política, assim como a assinatura do juiz”.
“O Reino Unido não tem o direito de extraditá-lo para os EUA e, além disso, as obrigações internacionais exigem que essa extradição seja interrompida. Não mande Julian para um país que vai matá-lo”, acrescentou.
O editor-chefe do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, denunciou que, ao emitir a ordem de extradição no dia 20, o Tribunal de Magistrados de Westminster assinou “a sentença de morte de Assange”. A equipe de defesa do jornalista tem até 18 de maio para contestar a decisão.
Na primeira instância, a sentença havia sido favorável a Assange, por temor a que ele se suicidasse sob as draconianas condições de isolamento e repressão em uma prisão de segurança máxima nos EUA.
Apesar de ser incomum uma corte superior derrubar uma sentença de tribunal inferior favorável ao réu em casos de extradição, foi exatamente o que a (in)justiça britânica fez, alegando que, posteriormente à decisão de primeira instância, os EUA haviam fornecido ‘novas garantias’.
A defesa de Assange contestara a decisão da Alta Corte citando denúncias feitas pela Anistia Internacional e apontando que as tardias garantias seriam, explicitamente, revogáveis a qualquer momento, a julgamento de Washington. Isto é, não valiam o papel em que estavam escritas.
A decisão também ignorou abundantes registros na mídia de que Washington por várias vezes, e em diferentes governos, avaliou assassinar Assange.
Conforme denunciou o Relator Especial da ONU sobre Tortura, Nils Melzer, por mais de uma década, Assange foi perseguido e submetido a uma operação de ‘assassinato de reputação’, uma ação nauseante em que estiveram envolvidos os governos dos EUA, da Suécia, do Reino Unido e, depois de 2017, até o do Equador.
Todas as centenas de milhares de documentos expostos por Assange, pela denunciante Chelsea Manning e pelo WikiLeaks são sintetizados no vídeo ‘Assassinato Colateral’, em que um helicóptero de guerra norte-americano em Bagdá, em 2007, assassina 11 civis, inclusive dois jornalistas da Reuters.
Enquanto Assange está ameaçado de extradição e de 175 anos de cárcere, ou coisa pior, os autores materiais e os mandantes do crime de guerra de Bagdá seguem impunes, e a atrocidade segue sem ser investigada – apesar de amplamente provada e inquestionável.