Entidades de notários criticam PEC que transforma BC em empresa: “usurpação de competências”

Representantes das entidades se reuniram com o presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, e condenaram a PEC 65. Foto: Antonio Augusto - STF

A PEC que prevê a “autonomia financeira” para o Banco Central (65/23) traz acúmulo “de poderes” e “usurpação de competências” ao permitir que o órgão “regule, fiscalize e opere no mercado do qual é zelador”, afirmam entidades notariais.

Na segunda-feira (5), o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, reuniu-se com os presidentes da Associação dos Notários e Registradores do Brasil (ANOREG-BR), Rogério Portugal Bacellar, e do Instituto de Estudos de Protesto de Títulos do Brasil (IEPTB), André Gomes Netto.

Ambos se posicionaram contra a PEC 65/23, cujo texto transforma o BC, hoje uma autarquia federal, em uma empresa pública de direito privado, desvinculando-o totalmente do governo federal.

Para Rogério Bacellar, “a usurpação de competências do Estado pode tornar o BC uma figura que ao mesmo tempo regula e executa ações por ele reguladas, fiscaliza e opera no mercado do qual é o zelador”.

“Esse posicionamento coloca em risco conquistas democráticas recentes que são essenciais para a segurança jurídica, com base na separação de poderes e a proteção do direito de propriedade da população, cláusulas pétreas constitucionais”, continuou.

A Associação dos Notários e Registradores do Brasil assinalou, em nota, que alguns trechos da Proposta de Emenda à Constituição “criam a possibilidade de o Banco Central executar atos que não lhe são próprios e regulamentar a cobrança por esses serviços, sem nenhuma fiscalização externa”.

A entidade disse que a PEC coloca o BC na “posição de juiz e carrasco” ao mesmo tempo.

André Gomes Netto, que dirige o IEPTB, declarou que a PEC traz uma “acumulação de poderes incompatível” com a Constituição Federal.

“Tal mudança não apenas viola a separação das funções estatais, como também prejudica a população, que se verá sujeita a novas taxas e custos sem a proteção de uma supervisão independente”, lembrou.

O governo Lula se posicionou contra a transformação do BC em empresa pública, mas disse que pode discutir a autonomia financeira do órgão caso esse trecho seja retirado. A negociação ainda não avançou para um acordo.

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *