Em reunião, representantes do comércio e do setor de serviços afirmam que parcelado sem juros não é responsável pelo aumento da inadimplência e que os juros têm que baixar
O fim do parcelamento sem juros do cartão de crédito foi novamente rechaçado por representantes do setor do varejo e de maquininhas de cartões, na segunda reunião realizada pelo Banco Central, na terça-feira (7), para discutir os juros elevados cobrados no rotativo do cartão de crédito que chegam a 441% ao ano. O BC defende a proposta de limitar a quantidade de parcelas na modalidade em seis vezes sem juros e acima dessa quantidade de parcelas seriam cobrados juros.
No encontro, a Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos (Abipag), a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) e a Associação Brasileira de Internet (Abranet) apresentaram estudos que desmentem a falácia de que o parcelado sem juros é responsável pelo aumento da inadimplência no Brasil, como aventam o presidente do BC, Roberto Campos, e os bancos privados, que não querem reduzir os juros no Brasil.
O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci, afirmou, em reportagem do Valor Econômico, que “se não tem correlação com inadimplência e não mudaria muita coisa na prática, é melhor não mexer [no parcelado sem juros}”.
Em outubro, o Congresso Nacional aprovou a lei que estabelece 90 dias (já em curso) para que o Conselho Monetário Nacional (CMN) defina um limite para os juros do rotativo do cartão. Em caso de o CMN não definir um limite para os juros do rotativo neste prazo, valerá o teto aprovado pelo Legislativo, de que a cobrança de juros não pode ultrapassar 100% do valor original da dívida.
Na primeira reunião para discutir o tema, Campos Neto – após recuar da proposta que fez no Senado pelo fim do parcelamento sem juros no cartão – defendeu que a redução dos juros do rotativo está condicionada à limitação do parcelamento do cartão de crédito. Trata-se de uma condicionante que não consta na lei que deu limites à cobrança de juros no rotativo e que congressistas e o governo são contra.
Além do mais, a inadimplência, que hoje ultrapassa 30% do total de endividados no país, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC), é um reflexo da própria ação do BC de manter a taxa básica de juros (Selic) em níveis elevados, hoje em 12,25% ao ano. Com a Selic nesse patamar, além de elevar os custos dos serviços das dívidas das famílias e das empresas, trava a economia e a geração de emprego no país.
PROTESTE REBATE ARGUMENTO FALACIOSO DOS GRANDES BANCOS
Nesta quarta-feira (8), a Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) rebateu a fala do presidente do banco Itaú, Milton Maluhy Filho, de que a imposição de um teto para juros no rotativo do cartão de crédito traria resultados negativos para economia em que o parcelamento de compras sem juros no cartão de crédito seria o grande impulsionador da inadimplência no país.
Segundo Maluhy, com o limite dos juros do rotativo a 8%, 60 milhões de cartões de crédito precisariam ser abandonados. Ao destacar que não há nenhuma ligação entre o rotativo e o parcelado sem juros, o Diretor de Relações Públicas e de Relações com a Mídia da Proteste, Henrique Lian, afirmou que “o parcelado sem juros é importante instrumento de planejamento para os consumidores e diminui a chance de inadimplência”.
“O argumento dos grandes bancos de que há subsídios cruzados e de que o rotativo financia o parcelado sem juros é falacioso, como mostra estudo do professor Leonardo Rezende, da PUC-Rio. Se a porcentagem é tão pequena como afirma o CEO do Itaú, por que estão tão reticentes?
Na verdade, o que querem é limitar a competitividade de players menores”, disse Lian ao “O antagonista”, acrescentando que “nessa briga quem está ameaçado de ter de pagar a conta é o consumidor”.