Entidades repudiam demarcação de terras indígenas nas mãos de ministério controlado por ruralistas

Derrubada dos vetos presidenciais ao PL do Licenciamento Ambiental ameaçam terras indígenas

Entidades, lideranças religiosas, comissões regionais da OAB, movimentos de trabalhadores sem terra, indígenas, negros e quilombolas do Maranhão lançaram um documento em que repudiam a medida do presidente Bolsonaro que transferiu demarcações de terras para ministério controlado por ruralistas.

O documento se refere a um dos primeiros atos do governo Bolsonaro, a Medida Provisória n. 870, de 1º de janeiro, que transferiu para o Ministério da Agricultura a atribuição de identificar, delimitar e demarcar terras indígenas e quilombolas.

Para a relatora especial da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, a medida é “racista e pode levar ao genocídio”.

A nota das entidades, divulgada na quarta-feira (16), se dá em meio à polêmica sobre a decisão do Ministério do Meio Ambiente, que no mesmo dia suspendeu (16) todos os convênios e parcerias com Organizações Não Governamentais (ONGs) pelos próximos três meses, e à publicação da reportagem da jornalista Miriam Leitão no jornal O Globo, denunciando a invasão e desmatamento de terras indígenas no Maranhão por fazendeiros.

“Neste momento, grileiros estão se sentindo estimulados, pelos sinais exteriores do governo, a invadir terra pública, principalmente terra indígena”, diz a jornalista.

Miriam Leitão afirma ter falado nas últimas horas com uma liderança indígena no Maranhão, que lhe contou que “a Terra Indígena dos Awá Guajá, na qual houve a desintrusão em 2014, está sendo novamente invadida. Há fazendeiros já instalados lá, árvores foram derrubadas e há rebanho pastando por lá”.

Como afirma a nota das entidades e lideranças maranhenses, a transferência da atribuição de identificar e demarcar terras indígenas e quilombolas para o Ministério da Agricultura “coloca em grande risco a promoção dos direitos dos povos e comunidades tradicionais, repassando para estruturas governamentais inadequadas uma tarefa especializada, que requer os cuidados de um órgão indigenista”.

“Além disso, o Ministério da Agricultura estará totalmente voltado aos interesses do agronegócio neste governo, conforme afirmou a ministra Tereza Cristina, ela mesma oriunda da bancada ruralista da Câmara Federal, durante seu discurso de posse, no dia 2 de janeiro de 2019”, prossegue o documento.

“Não há democracia sem defesa de direitos. Mais do que nunca, o Brasil precisa de um governo aberto ao diálogo, que se proponha a conduzir a nação junto dos mais diferentes setores, respeitando a diversidade cultural, de opiniões e ideias sobre as propostas e rumos para o país”.

Assinam a nota:

Comissão Pastoral da Terra – CPT Regional Maranhão

Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu do Maranhão, Pará, Piauí e Tocantins – MIQCB

Conselho Indigenista Missionário – CIMI Regional Maranhão

Dom Valdeci dos Santos Mendes – Bispo da Diocese de Brejo

Comunidades Eclesiais de Base – CEB’s Maranhão

Centro de Estudos Bíblicos – CEBI – Maranhão

CSP Conlutas

Cáritas Brasileira – Regional Maranhão

Movimento Quilombola do Maranhão – MOQUIBOM

Pastoral de DST/AIDS

Agência Tambor

Jornal Vias de Fato

Comissão de Direitos Humanos da OAB/MA

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST/MA

Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Luís

Yuri Costa – Defensor Regional de Direitos Humanos no Maranhão – Defensoria Pública da União

Jean Carlos Nunes Pereira, Titular do Núcleo de Direitos Humanos da DPE-MA

União das Associações das Comunidades Negras Rurais Quilombolas de Itapecuru-Mirim

Associação dos Produtores Negros Rurais Quilombolas de Santa Rosa dos Pretos

Conselho do Povo Indígena Akroá Gamella – Território Taquaritiua

Dom José Belisário da Silva, Presidente do Regional Nordeste 5 da CNBB

Conselho de Leigos do Regional NE 5 da CNBB

Justiça nos Trilhos

Grupo de Estudos: Desenvolvimento, Modernidade e Meio Ambiente –

GEDMMA/UFMA

Núcleo de Estudos e Pesquisas em Questão Agrárias – NERA/UFMA

Grupo de Estudos LIDA – Lutas Sociais, Igualdade e Diversidade – UEMA

Grupo de Estudos Sócio Econômico da Amazônia – GESEA

Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia – PNCSA

Sociedade Maranhense de Direitos Humanos – SMDH

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