O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, contou à Polícia Federal que existia um grupo de aliados que queria um “braço armado” formado por CACs que apoiariam a tentativa de golpe de Estado.
Cid também mostrou que Bolsonaro pressionou o Exército para que interferisse nas eleições.
No depoimento, Mauro Cid falou “que o segundo grupo de ‘radicais’ era a favor de um braço armado; que gostariam de alguma forma incentivar um golpe de Estado; que queria que ele [Bolsonaro] assinasse o decreto; que acreditavam que quando o presidente desse a ordem, ele teria o apoio do povo e dos CACs [Caçadores, Atiradores e Colecionadores]”.
O plano era que os civis com autorização para comprar armas, grupo que foi muito favorecido por Bolsonaro em seu governo, entrassem em ação depois que um decreto instalando uma ditadura fosse assinado.
Esse decreto esteve nas mãos de Jair Bolsonaro, que até sugeriu alterações. Era parte do plano prender o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e anular as eleições presidenciais.
Em 2018, antes do governo Bolsonaro, o Brasil tinha 117,5 mil pessoas com registro CAC.
Com o incentivo do ex-presidente, esse número subiu para 783 mil em 2022.
O grupo também pôde, por decisão de Bolsonaro, comprar mais armas, inclusive as de grosso calibre e uso restrito, e munição.
Em quatro anos, foram emitidos 905 mil registros para aquisição de armas, sendo que quase metade deles ocorreu em 2022.
Ainda segundo Mauro Cid, Bolsonaro pressionou o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, para que ele atuasse de forma “mais contundente (…) em relação à Comissão de Transparência das Eleições montada pelo Ministério da Defesa”.
O Ministério da Defesa acompanhou todo o processo eleitoral e não apontou, em seu relatório final enviado para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nenhum indício de fraude.
Mesmo assim, o Ministério da Defesa destacou em uma nota que o texto, “embora não tenha apontado, também não excluiu a possibilidade da existência de fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas”.
O ex-ajudante de ordens Mauro Cid contou ainda que Jair Bolsonaro encaminhava para para o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira “possíveis denúncias” de fraude “para que fossem apuradas”.
O ex-presidente contava com o apoio do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, e do major da reserva do Exército Angelo Martins Denicoli em seus ataques mentirosos contra as urnas eletrônicas.
“O grupo tentava encontrar algum elemento concreto de fraude, mas a maioria era explicada por questões estatísticas; que o grupo não identificou nenhuma fraude”, afirmou Cid em sua delação.
Valdemar da Costa Neto usou o PL para entrar com um recurso contra as eleições, questionando o uso de uma série de urnas eletrônicas.
Para ele, somente o segundo turno das eleições presidenciais deveria ser anulado. O primeiro turno, quando o PL conseguiu eleger muitos parlamentares com aquelas mesmas urnas, deveria permanecer intocado.