As revelações do ex-ministro Antônio Palocci, homem de confiança de Lula e Dilma, mostram que o ex-presidente Lula não recebeu apenas o apartamento triplex do Guarujá e o sítio de Atibaia como “agrado” pessoal das empreiteiras. Despesas pessoais suas, a partir de 2010, quando deixou a presidência, foram bancadas com dinheiro vivo pelo cartel de construtoras. As informações foram detalhadas pelo ex-ministro Antônio Palocci, em seu acordo de colaboração premiada.
Palocci deu minúcias das entregas. Relatou ocasiões em que foi pessoalmente levar pacotes de dinheiro vivo ao ex-presidente e relacionou datas e valores entregues por um de seus principais assessores, Branislav Kontic, também na sede do Instituto Lula. Em seu depoimento, Marcelo Odebrecht apontou Kontic como o responsável por operar a conta “Amigo”, que abasteceria o ex-presidente Lula. Branislasv teria inclusive, no relato do empreiteiro, levado R$ 13 milhões em espécie ao petista, acusação que Lula reputa de “surreal”.
Segundo Palocci, os pagamentos regulares a Lula, feitos nos últimos meses de 2010, quando ele se preparava para deixar o Planalto, chegavam a somar R$ 50 mil. Dinheiro que seria usado pelo ex-presidente para bancar despesas pessoais.
Na ocasião das entregas, relata o ex-ministro, ele e Lula combinavam o local de encontro para o pagamento. Como o ex-ministro não dirigia seu carro, ele levava um auxiliar ao volante que agora, na colaboração, poderá ser chamado a testemunhar sobre o caso. Além do assessor, cuja identidade é mantida em sigilo, o ex-ministro de Lula e Dilma, listou datas e horários das entregas de dinheiro a Lula como parte das provas que está entregando.
Segundo Palocci, a partir dessas informações, os investigadores poderão atestar os encontros por meio de ligações telefônicas entre Lula e Palocci, e pela posição dos aparelhos celulares no mapa de antenas. O dinheiro saiu, segundo Palocci, diretamente da “conta Amigo”, a reserva de propina atribuída ao petista no Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht.
O ex-ministro narrou uma conversa com Lula no Palácio do Planalto na qual teria tratado do esquema envolvendo a construção de sondas para exploração de petróleo em águas profundas. O objetivo da negociação, feita na presença de Dilma, seria levantar dinheiro para bancar a eleição da ex-presidente, em 2010. Por se tratar de uma colaboração negociada na primeira instância, as revelações feitas pelo ex-ministro dizem respeito a fatos que só podem ser investigados pela 13ª Vara Federal de Curitiba, comandada pelo juiz Sergio Moro, que terá o papel de homologar o acordo.
Dilma Rousseff, que tinha tanta confiança em Palocci que o nomeou para Chefe da Casa Civil de seu governo, divulgou nota na quinta-feira, afirmando que agora não confia mais nele. “O ex-ministro mente para sair da cadeia e não tem provas para sustentar acusações a ela ou Lula”, diz a ex-presidente. O Ministro da Fazenda de Lula, ao resolver confessar seus crimes e ajudar a desvendá-los, agora é enxovalhado também pelo seu ex-amigo. O advogado de Lula, Cristiano Zanin negou envolvimento de seu cliente nos fatos narrados.
Fundador do PT, ex-prefeito de Ribeirão Preto, ex-ministro da Fazenda do governo Lula e ex-chefe da Casa Civil de Dilma, Palocci participou das decisões mais importantes do partido nas últimas duas décadas. Ele era considerado a eminência parda de Lula. Era seu conselheiro e a ponte principal das ligações de Lula com os banqueiros e empreiteiros. Antonio Palocci está preso desde setembro de 2016 por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.