“Encontramos desabastecidas todas as farmácias, tanto públicas como privadas, encontramos hospitais onde não temos camas, encontramos hospitais onde não existem ventiladores mecânicos, que são ferramentas importantes para poder salvar a vida da população. Temos muitas vezes que esperar a morte de um paciente para poder utilizar esta cama, utilizar este respirador em outra pessoa”.
O relato de um profissional de saúde de Guayaquil, no Equador, na condição de anonimato à RT, denunciou não só as mínimas condições de vida das vítimas do novo coronavírus, mas até mesmo a reiterada falta de equipamentos de proteção individual básica para que médicos e enfermeiros possam salvá-las.
O toque de recolher no país foi decretado no país no dia 17 de março e desde então as condições só pioram na província costeira de Guayas e sua capital, Guayaquil, que concentram 74% dos mais de 7.100 casos do novo coronavírus, incluindo cerca dos 300 mortos registrados no país desde a detecção da doença, em 29 de fevereiro.
A cidade de 2,7 milhões de habitantes tem a maior taxa de mortalidade do país por Covid-19 e a mais alta da América Latina: 1,35 mortos por 100 mil habitantes, superior a São Paulo (0,92), segundo o médico sanitarista Esteban Ortiz, da Universidade das Américas do Equador.
“Na área da saúde superamos os 40 profissionais, entre enfermeiros e médicos que morreram nesta pandemia. Estão ocultando estes números da comunidade em geral. Uma das questões principais é que o pessoal da saúde não pode trabalhar, como aconteceu por exemplo em um dos hospitais de Guayaquil na sexta-feira, que teve que fechar porque não existiam equipamentos de segurança”, acrescentou.
O Equador tem sido duramente golpeado pelo covid-19, como bem demonstram as imagens das pilhas de corpos abandonados ou sendo incinerados no meio das ruas na tentativa de evitar uma contaminação ainda maior. Enquanto isso, as pessoas buscam se proteger usando máscaras e caixões fúnebres de papel são distribuídos para dar vazão aos cadáveres que transbordam à beira dos hospitais e necrotérios.
O número exponencial de mortos fez com que as autoridades municipais de Guayaquil – a zona mais afetada pela pandemia – tivessem de se pronunciar dizendo que já não dispõem mais de madeira nem alumínio. De acordo com os moradores as caixas distribuídas também não têm muita utilidade, já que se desintegram rapidamente.
“Os ataúdes de cartão não servem para nada porque arrebentam. Quando o familiar leva muito tempo, o retiram e estouram, se molham. Agorinha mesmo está chuviscando e estão demorando em sepultar”, disse um dos vizinhos, frente às câmaras da RT. Inúmeros corpos têm sido enterrados em bolsas plásticas.
Conforme o entrevistado da RT, “os cadáveres abandonados em estado de putrefação vão ajudar a que esta pandemia viral se transforme ou se complemente com outros tipos de enfermidades provocadas pela decomposição dos cadáveres”.