Os protestos que mobilizam há dias milhares de pessoas nas ruas das principais cidades do Equador se multiplicam. As manifestações começaram em 3 de outubro, logo após o presidente Lenin Moreno anunciar um ‘pacotaço’ que além de levar à majoração dos combustíveis em 123%, ameaça os direitos da população, imposto por um acordo para receber US$ 4,2 bilhões firmado em fevereiro com o FMI, que prevê reformas tributárias, trabalhistas e monetárias no país.
Diante da persistência popular nas manifestações que tentaram tomar o Palácio do Governo e também cercaram o Congresso, Moreno e os demais ministros se refugiaram na cidade litorânea de Guayaquil.
Mesmo diante da insurreição, em pronunciamento desde Guayaquil, na noite da segunda, 7, Moreno justificou a repressão argumentando que os manifestantes “querem romper a ordem democrática” e disse que manterá as medidas que impõem uma redução de 20% nos salários dos funcionários públicos, uma reforma previdenciária que prevê a diminuição das pensões e a privatização da previdência, além da retirada do subsídio estatal à gasolina e ao diesel, que fez o preço dos combustíveis disparar em apenas 24 horas.
A Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), a entidade com a mais ampla base de massas do país, iniciou no domingo, 6, uma marcha de 20 mil indígenas que chegou a Quito na terça-feira, 8, reforçando os protestos e dando mais visibilidade à convocação de outra greve geral marcada para o dia 9. A Conaie exige a liberdade dos manifestantes presos e que sejam revogadas as medidas do pacotaço. Consideram que enquanto não haja uma demonstração do governo de que está disposto a negociar retirando as medidas mais rejeitadas pela sociedade não há pontes para um diálogo de verdade.
Os protestos já deixaram um civil morto, 73 feridos e 570 detidos, de acordo com as agências AFP e Reuters. Ao invés de negociar com os manifestantes, Moreno decretou o “estado de exceção” por 60 dias, atentando contra direitos direitos como livre circulação, reunião e expressão, além de fechar portos, aeroportos e passagens de fronteira. O Exército foi às ruas para conter as manifestações.
Grupos de indígenas também marchavam desde o norte do país para somar-se a uma grande mobilização organizada pelo movimento sindical, para quarta-feira, na capital.
Em 16 das 24 províncias equatorianas aconteceram bloqueios de estradas na segunda-feira, 7, de acordo com um relatório do Serviço de Segurança Integrado ECU 911. Manifestantes indígenas se uniram aos protestos interditando uma importante rodovia de acesso à capital.
Também aconteceram bloqueios e ocupações em fábricas no norte e centro do país. Em Cotopaxi, manifestantes tomaram empresas vinícolas, de produção e embalagem, de laticínios, de papel e de flores.
Ao menos 32 fazendas foram ocupadas em Toacazo, Tanicuchí, San Agustín de Callo, Mulaló, Joseguango Bajo e Piedra Colorada.
As aulas em escolas públicas e privadas seguem suspensas.