Dando continuidade ao processo de capitulação da soberania política e econômica do Equador, o governo do presidente Lenin Moreno entregou a ilha de San Cristobal, em Galápagos, para o uso militar dos Estados Unidos. “Galápagos é para o Equador o nosso porta-aviões, é o nosso transportador natural, porque nos assegura permanência, reposição e interceptação”, declarou o ministro da Defesa, general Oswaldo Jarrín, saudando a “cooperação” estadunindense no que alega ser uma luta comum contra o narcotráfico internacional.
“Por nenhuma razão Galápagos pode ser considerado um porta-aviões natural, já que essa não é sua característica essencial. Galápagos nasceu da natureza como um laboratório vivo e único que devemos proteger ”, reagiu Brenda Flor, deputada eleita pelo arquipélago, recordando o caso da ilha de Baltra, onde uma base militar dos EUA foi instalada durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e cujos efeitos negativos sobre o meio ambiente podem ser notados até hoje.
Com a mesma ênfase reagiu o ex-presidente Rafael Correa, condenando a submissão de Moreno: “Galápagos não é um ‘porta-aviões’ para uso gringo. É uma província equatoriana, patrimônio mundial e da pátria”.
Para o general Jarrin, da mesma forma que a entrega de Assange ou a assinatura do acordo de submissão ao Fundo Monetário Internacional (FMI), o que importa é estar em sintonia com os EUA. “O que a base de Manta fez em seu tempo, pode ser feito agora por apenas um avião, por causa da tecnologia avançada que você tem apenas com a capacidade de um poder como os Estados Unidos”, destacou.
O avião a que Jarrin está se referindo, explica o jornalista Bill Van Auken, do WSWS, é um Boeing 707, Sistema de Controle e Alerta Aéreo (AWACS), com um alcance de mais de 4.500 milhas náuticas (8 mil quilômetros). Voando a trinta mil pés (nove quilômetros), é capaz de monitorar uma área de 120.000 milhas quadradas. “De sua base em Galápagos, esta poderosa aeronave será capaz de ajudar a preparar uma invasão da Venezuela, espionar o próprio povo do Equador ou até rastrear o fluxo para o norte de migrantes da América Central. Será acompanhado por um Lockheed Orion P3, um avião desenvolvido durante a Guerra Fria para rastrear submarinos nucleares soviéticos”, alertou.
Diante da crescente pressão em defesa da soberania nacional e da Constituição do país, o governo negou que o acordo represente a instalação de uma base aérea em Galápagos, alegando que o uso do aeroporto de San Cristobal seria feito ocasionalmente pelas aeronaves americanas. “Será um avião uma vez por mês, no máximo durante três dias para emergência ou reabastecimento”, balbuciou o ministro.
PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE
O arquipélago, composto por 13 ilhas principais, está localizado a mil quilômetros da costa e foi nomeado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, servindo de base para estudos sobre fauna e flora, devido à diversidade de espécies que abriga. Entre as formas únicas de vida animal estão a iguana terrestre, a tartaruga gigante e os muitos tipos de tentilhões, que serviram de inspiração para a teoria da evolução de Darwin.
Há muita preocupação em relação à preservação do meio ambiente, uma vez que a quantidade de turistas que visitou a ilha aumentou de 161 mil em 2007 para mais de 225 mil em 2016, conforme a Associação Internacional de Operadores de Turismo de Galápagos.
O fato é que está prevista a ampliação do aeroporto, que seria custeada integralmente pelo governo dos EUA, a fim de deixar a base apta para comportar aviões militares como o Orion P3. Com o aval de Moreno, desde o ano passado, aeronaves como P3 e Awac já realizam voos para patrulhar o mar equatoriano, tendo como centro de operações o porto marítimo de Guayaquil. Nas palavras do ministro, da mesma forma que os EUA se utilizam de Guayaquil para “combater o narcotráfico”, a ideia é “aproveitar a posição estratégica e geográfica de Galápagos em relação ao continente”.
Desde 2008, a constituição equatoriana consagrou o país como “território de paz” e determina que o “estabelecimento de bases militares estrangeiras ou instalações estrangeiras para fins militares não será permitido”. Em 2009, o país expulsou militares dos EUA de sua base aérea em Manta, na costa do Pacífico, de onde conduzia voos de vigilância sob o pretexto de combater o narcotráfico. O mesmo argumento que volta a utilizar uma década depois.
L.W.S.