Em seu novo depoimento ao juiz Moro, no processo da propina recebida por Lula da Odebrecht – com a compra do apartamento vizinho ao que residia (aliás, uma cobertura) e de um terreno para o Instituto Lula – Marcelo Odebrecht reafirmou que o dinheiro saiu da conta operada por Antônio Palocci, denominado, nas planilhas da empresa, “Italiano”.
“O termo conta ou planilha Italiano, esse termo surgiu no âmbito da Lava Jato. Não existia esse termo. Eu nunca usei esse termo. O que existia era uma conta do Italiano comigo. Era a conta do PT, era assim que a gente chamava.”
A compra do apartamento, com o objetivo de dobrar a área da cobertura de Lula, foi realizada em nome de um “laranja”, Glaucos Costamarques, primo de José Carlos Bumlai, amigo íntimo do ex-presidente. Já o terreno, foi comprado através de uma empresa que prestava serviços à Odebrecht, a DAG, propriedade de Demerval Gusmão, amigo de infância de Marcelo Odebrecht (“conheço Demerval desde o jardim de infância”, disse ele ao juiz Moro).
“Eu avisei a Bumlai e tinha avisado também Paulo Okamoto [presidente do Instituto Lula] que eu não faria nada sem autorização do ‘Italiano’. Em outros e-mails, fica evidente isso. Porque o dinheiro ia sair da conta do ‘Italiano’”, disse Odebrecht a Moro, no último dia 11.
Palocci era o operador de Lula e do PT nessa conta com a Odebrecht, que movimentou cerca de R$ 200 milhões. Em depoimento, também ao juiz Moro, em setembro de 2017, Palocci confirmou a confissão de Marcelo Odebrecht, em seu testemunho anterior:
“… os fatos são verdadeiros”, disse Palocci. “Eu diria apenas que os fatos dizem respeito a um capítulo de um livro um pouco maior do relacionamento da Odebrecht com o governo do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma, que foi uma relação bastante intensa, bastante movida a vantagens, a propinas pagas pela Odebrecht para agentes públicos, em forma de doação de campanha, de benefícios pessoais, em forma de caixa 1 e caixa 2.”
Marcelo Odebrecht relatou que a passagem da propina – R$ 12 milhões – para o terreno e o apartamento foi combinada com Roberto Teixeira, compadre e advogado de Lula, o mesmo que, por anos, foi dono da casa em que Lula morava sem pagar aluguel.
“Esse assunto da compra do terreno, ela veio como um pacote fechado pelo Roberto. E fica evidente em vários e-mails, aqui, que, de fato, todas as informações sobre vendedor, sobre documentação, veio do Roberto Teixeira. Nós recebemos esse pacote fechado. Tudo vinha do Roberto Teixeira. Ele entregou o pacote pronto para a gente pagar.”
[Para um relato e análise mais circunstanciada desse caso, o leitor poderá consultar a segunda parte de “O triplex não é meu” ou as provas que Lula garante que não existem.]
Palocci também se referiu à ação de Roberto Teixeira no caso da compra do terreno e do apartamento que dobrou a área da residência de Lula.
MENSAGENS
O novo depoimento de Marcelo Odebrecht foi realizado por pedido da defesa de Lula, para esclarecer o conteúdo de alguns e-mails, que fazem parte do processo.
No entanto, ao iniciar a sessão, um dos advogados de Lula disse ao juiz que a defesa não ia fazer perguntas, pois considerava que estava havendo “cerceamento de defesa”, porque ainda não tivera acesso ao conteúdo total do computador de Marcelo Odebrecht.
Moro lembrou que o questionamento da defesa de Lula fora em relação aos e-mails já anexados ao processo, em fevereiro, por Marcelo Odebrecht, todos perfeitamente conhecidos pelos advogados de Lula – e por qualquer um que leia os autos.
ADVOGADO DE LULA: Se a audiência é para fazer uma verificação em relação aos e-mails, a defesa ficou prejudicada porque não teve acesso…
JUIZ MORO: Não, doutor, a defesa apresentou perguntas específicas em relação às mensagens que foram já juntadas no processo. Essa audiência foi marcada a pedido da defesa.
ADVOGADO DE LULA: Não, não é isso.
JUIZ MORO: É em relação às mensagens que estão nos autos. Então a audiência vai ser realizada.
ADVOGADO DE LULA: Me permita concluir, vossa excelência. Na verdade há um erro factual. A audiência não foi requerida pela defesa. Requeremos a verificação da autentificação.
JUIZ MORO: Expressamente a defesa juntou perguntas e pediu que fossem respondidas pelo senhor Marcelo Odebrecht. Logo, a audiência foi marcada, e nós estamos aqui a pedido da defesa.
ADVOGADO DE LULA: Insisto que não houve esse pedido.
JUIZ MORO: Então não querem fazer as perguntas ao senhor Marcelo Odebrecht, é isso?
ADVOGADO DE LULA: Não, não tenho perguntas, porque não tive acesso…
JUIZ MORO: Acho que é um pouco brincadeira da defesa, porque a defesa apresenta uma petição com questões escritas, dirigidas ao senhor Marcelo Odebrecht, pedindo que sejam respondidas. Aí o juízo… a pessoa, quando é acusada, ela é ouvida oralmente no processo. Eu vou prosseguir a audiência.
A última parte (“a pessoa, quando é acusada, ela é ouvida oralmente no processo”) é referente às imputações da defesa de Lula, de que o material entregue à Justiça por Marcelo Odebrecht fora adulterado e era “inidôneo”.
[Ver os e-mails entregues por Marcelo Odebrecht em fevereiro. Mais abaixo, em seu recente depoimento, a explicação do que significam os codinomes utilizados.]
O Laudo nº 0335/2018, do Setor Técnico-Científico da Polícia Federal, que analisou os sistemas de computador (Drousys e MywebDay) do “setor de operações estruturadas” da Odebrecht, concluiu pela autenticidade destas e de outras provas contra Lula.
C.L.
Aqui, em três partes, o último depoimento de Marcelo Odebrecht ao juiz Sérgio Moro:
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