O presidente turco entregou as fitas aos EUA, França Inglaterra e Alemanha. “Eles ouviram todas as conversas. Eles sabem”, destacou
O presidente turco Recep Tayip Erdogan, afirmou no sábado (10) que seu país entregou aos governos dos EUA, da França, da Grã Bretanha e Alemanha, além de a Riad, as gravações de áudio com o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado em Istambul. “Nós demos as fitas. Nós as demos à Arábia Saudita, aos Estados Unidos, alemães, franceses e britânicos, todos eles. Eles ouviram todas as conversas neles. Eles sabem”, destacou Erdogan.
O anúncio de Erdogan é feito no momento em que a ditadura saudita está desencadeando o ataque final ao porto de Hodeidah, no Iêmen, o que poderá provocar, conforme a ONU “a maior fome vista em décadas”, que atingirá até a metade da população, 14 milhões de civis, que dependem do porto para receberem ajuda humanitária, alimentos, remédios e combustível. A declaração foi feita após a participação de Erdogan nas comemorações do fim da I Guerra Mundial, em Paris.
Os bombardeios sauditas já mataram 56 mil civis, mas só agora, com o cruel assassinato do jornalista, esquartejamento e dissolução do corpo com ácido, foi que a condenação à ditadura saudita logrou romper a proteção de Washington e atrair a atenção internacional. Conforme a Reuters, a diretora da CIA, Gina Haspel (também conhecida como Gina a Sanguinária) já tinha tido acesso à gravação quando Trump a enviou no mês passado a Istambul.
Fontes asseveraram à Reuters que as gravações em posse dos turcos incluem o assassinato em si e conversas prévias à operação. Foram essas conversas que levaram Ankara a concluir que o assassinato foi premeditado desde o início, apesar das proclamações iniciais de Riad de que nada sabia. A premeditação foi admitida pelo promotor saudita, Saud al-Mojeb, embora a posição oficial de Riad é de que o príncipe coroado Mohammed bin Salman (MBS) – o herdeiro ao trono – de nada sabia.
Ainda segundo a Reuters, uma fonte familiarizada com as gravações disse que as autoridades sauditas que ouviram ficaram horrorizadas. O rei Salman ordenou a demissão de um dos principais assessores do príncipe MBS, Saud al-Qahtani, e mais quatro oficiais pela chacina no consulado. A Reuters afirmou que, no mês passado, recebeu de duas fontes da inteligência – não esclarece de qual país – a informação de que os assassinos no consulado receberam ordens de Qahtani pelo Skype.
Os filhos de Khashoggi pediram ao governo saudita que devolva o corpo – até aqui não encontrado – para um sepultamento digno. Erdogan pediu a Riad que apresente os assassinos, que devem estar entre os 15 sauditas que chegaram à Turquia horas antes da chacina e deixaram o país logo depois. “[Os sauditas] sabem com certeza que o assassino ou os assassinos estão entre essas 15 pessoas. O governo da Arábia Saudita pode divulgar isso fazendo essas 15 pessoas falarem”, disse Erdogan.
Erdogan também acusou o procurador saudita Mojeb que visitou Istambul de “dar desculpas, dificultar as coisas”. Não forneceu qualquer informação às autoridades turcas e ainda pediu a entrega dos celulares que o jornalista assassinado deixara com a noiva antes de entrar na toca do lobo. Na semana passada, outra autoridade turca disse que a Arábia Saudita enviou duas pessoas, um químico e um toxicologista, a Istambul uma semana após o assassinato de Khashoggi para apagar provas, o que considerou um indício de que os altos escalões de Riad sabiam do crime.
SACO PLÁSTICO NA CABEÇA
“Estou me asfixiando, tire essa bolsa da minha cabeça”. Estas foram as últimas palavras de Jamal Khashoggi, antes de ser assassinado, conforme a gravação divulgada domingo pela rede Al Jazeera. Khashoggi, que vinha denunciando o governo saudita por seu papel criminoso na guerra do Iêmen, morreu asfixiado com uma bolsa de plástico enquanto era torturado, assegurou Nazif Karaman, chefe de investigação do jornal turco Sabah.
Segundo Karaman, o comando assassino saudita, integrado por 15 homens, cobriu com plástico o piso do lugar da tortura antes de desmembrar o corpo, em um processo que durou cerca de 15 minutos, dirigido por Salah Al Tubaigy, chefe do Conselho Científico Forense da Arábia Saudita. Os restos de ácido encontrados na residência do cônsul do reinado em Istambul reforçam a tese que o cadáver do jornalista foi dissolvido com produtos químicos para, uma vez decomposto, ser jogado no sistema de esgoto.