
Das 2.320 escolas estaduais do Rio Grande do Sul, apenas 633 possuem aparelhos de ar-condicionado, o que corresponde a 27,3% do total. Os dados, divulgados pela Secretaria de Estado da Educação (SEDUC-RS), mostram que cerca de uma em cada quatro escolas tem climatização adequada. Além disso, mais de 800 unidades devem iniciar o ano letivo com problemas na rede elétrica, segundo a Secretaria de Obras Públicas do estado.
A secretária de Educação do RS, Raquel Teixeira, reconheceu as deficiências na infraestrutura escolar. “Temos o conhecimento do nível de baixos investimentos que o Estado tinha até pouco tempo, o que levou a dificuldades na rede escolar”, afirmou. No final de 2023, mais de 1.000 escolas apresentavam defasagem na rede elétrica, número que vem sendo reduzido com reformas em andamento.
O governo estadual destinou R$ 180 milhões para melhorias nas escolas, e a Secretaria de Obras Públicas (SOP) promete agilizar as reformas na rede elétrica até 2025. No entanto, muitas escolas ainda não têm a infraestrutura necessária para instalar aparelhos de ar-condicionado. “Desde que assumiu o Piratini, Eduardo Leite (PSDB) tem como única regra para a educação a ‘lei da tesoura’: cortar, enxugar e excluir”, criticou o CPERS-RS, sindicato que representa os servidores da rede pública de ensino.
PROBLEMAS ESTRUTURAIS
Em algumas escolas, os aparelhos de ar-condicionado existem, mas não podem ser usados devido à precariedade da rede elétrica. Daniele Noschang Khün, diretora do Colégio Miguel Lampert, relatou que os aparelhos doados pela comunidade em 2015 nunca foram utilizados. “Se nós chegamos a ligar, cai toda a energia, tem risco de incêndio. É uma situação dramática”, disse.
Na rede municipal de Porto Alegre, a situação não é diferente. Aproximadamente dez escolas mantêm aparelhos de ar-condicionado estocados há anos, segundo Isabel Medeiros, diretora da Atempa (Associação dos Trabalhadores em Educação do Município de Porto Alegre). Um exemplo é a EMEF Profª Ana Íris Do Amaral, que armazena 22 aparelhos sem uso desde 2022. Até o ano passado, oito salas de aula sequer tinham ventiladores.
A precariedade da infraestrutura escolar foi agravada por um escândalo de desvios de recursos na Secretaria Municipal de Educação entre 2017 e 2021, durante as gestões de Nelson Marchezan Jr. (PSDB) e Sebastião Melo (MDB). Investigações apontam o desvio de R$ 1,5 milhão que deveriam ser destinados a reformas estruturais e elétricas. “Nem se sabe se esses aparelhos vão funcionar quando puderem ser instalados, porque estão parados, e muitos até obsoletos”, explicou Isabel Medeiros.
CALOR INTENSO
O Rio Grande do Sul enfrenta um verão com temperaturas extremas. Nesta quarta-feira (12), os termômetros registraram mais de 31°C em Porto Alegre, e a previsão indica que as temperaturas podem chegar a 40°C nos próximos dias. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) emitiu um alerta de grande perigo, com temperaturas 5°C acima da média e risco à saúde.
Cerca de 47% das instituições de ensino do estado estão localizadas em áreas conhecidas como “ilhas de calor”, onde a temperatura é pelo menos 3,57°C superior à média urbana, segundo pesquisa do Instituto Alana. Esse cenário afeta diretamente os 700 mil estudantes da rede pública estadual, que retomaram as aulas nesta quinta-feira (13) após o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) derrubar uma liminar que adiava o início do ano letivo.
POSTURA DO GOVERNO VERGONHOSA
Enquanto a comunidade escolar enfrenta o calor, o governador Eduardo Leite recomendou, de dentro do conforto do Palácio Piratini, que alunos e professores “vistam roupas leves, usem protetor solar e fiquem atentos a possíveis situações de mal-estar”. A postura foi classificada como “vergonhosa” pelo CPERS.
O governo estadual afirmou que orientou as coordenadorias regionais de Educação a adotarem medidas preventivas, como avaliação das condições de energia elétrica e água potável, ampliação da hidratação, fornecimento de alimentação leve na merenda escolar e suspensão de aulas de educação física. No entanto, as ações ainda parecem insuficientes diante da magnitude do problema.