Os pagamentos são especificados. Podem ser em cheque, por transferência, por promissória ou em “moeda corrente contada e achada certa”, como está nas escrituras. Foram 107 imóveis comprados pela família Bolsonaro, dos quais 51 foram pagos em dinheiro vivo, num total de R$ 25,6 milhões
Detalhamento feito pelos repórteres Juliana Dal Piva e Thiago Herdy, do site UOL, sobre as aquisições de imóveis em dinheiro vivo pela família Bolsonaro, desmontam a versão de Jair Bolsonaro de que os repórteres teriam confundido intencionalmente os pagamentos em moeda corrente com pagamento em dinheiro vivo. Segundo Jair Bolsonaro, “[em] qualquer escritura está escrito moeda corrente.”
Esta afirmação, feita em uma sabatina da Jovem Pan, na última terça-feira (6), é mentirosa. Ao se analisar cada um dos 51 imóveis comprados pelos bolsonaros nos últimos 30 anos fica claro que há diversas formas de pagamento registradas. Nas escrituras dos 51 imóveis onde houve pagamento em dinheiro vivo, há o registro de pagamento em moeda corrente “contada e achada certa.” O total pago em dinheiro vivo chegou a R$ 25,6 milhões em valores atuais.
Nas escrituras dos 51 imóveis, dos quais 17 foram investigadas pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, no escândalo das rachadinhas, há também registros de pagamentos em cheque ou transferência bancária. Ou seja, as formas de pagamento têm que ser especificadas.
Leia aqui a reportagem com todas as escrituras e o detalhamento das formas de pagamento.
Veja abaixo um exemplo na compra de um imóvel por Jair Bolsonaro na Zona Norte do Rio de Janeiro com pagamento em espécie.
Esta especificação da forma de pagamento é uma determinação dos órgãos de controle do setor imobiliário. No estado de São Paulo é obrigatória a discriminação da forma de pagamento. Isto é determinado pelo provimento 58/1989 da Corregedoria Geral da Justiça de São Paulo, onde 24 imóveis foram comprados pela família Bolsonaro.
No Rio o que rege essas especificações legais é o Código de Normas da Corregedoria Geral de Justiça estadual do Rio de Janeiro. Há também compras de mansões realizadas pelos filhos e pela ex-mulher de Bolsonaro em Brasília.
Algumas destas transações com imóveis foram investigadas pelo Ministério Público do Rio em função das denúncias envolvendo o esquema de lavagem de dinheiro por parte do atual senador Flávio Bolsonaro e de seu faz-tudo Fabrício Queiroz no escândalo que ficou conhecido como rachadinha.
Flávio Bolsonaro contratava funcionários fantasmas, que não trabalhavam, e devolviam parte dos salários para o parlamentar. O operador do esquema era Fabrício Queiroz, que distribuía na família de Flávio o dinheiro devolvido pelos fantasmas. Em um dos depoimentos, Flávio admitiu que houve pagamentos em dinheiro vivo de imóveis comprados por ele.
Queiroz foi flagrado pagando contas do então deputado Flávio Bolsonaro e também depositou 21 cheques na conta da Michelle Bolsonaro, mulher do atual presidente, no valor total de 89 mil reais. Até hoje esses cheques não foram devidamente esclarecidos.
O Ministério Público do Rio, com a ajuda do Coaf e da Receita Federal, descobriu que o filho do presidente usou compra e venda de imóveis para lavar os cerca de R$ 6 milhões desviados da Assembleia Legislativa do estado (Alerj).
Na época foi descoberto também que Flávio Bolsonaro lavava parte do dinheiro roubado da Alerj em sua loja de chocolate que ficava num Shopping de luxo na Barra da Tijuca.
Outro esquema que foi descoberto foi a contratação de parentes de milicianos no gabinete do deputado. A mãe e a ex-mulher de Adriano da Nóbrega, chefe da milícia de Rio das Pedras, região de onde surgiu Fabrício Queiroz, foram contratadas no gabinete e repassavam recursos para o deputado.
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