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Falsário diretor da Kelsie Ventures, empresa que comandou a fraude com as criptomoedas, revela que deu propina à irmã de Mlei, se gabando de ter “controle total” sobre as ações do presidente para desenvolver o ‘negócio’
Hayden Davis, diretor da Kelsie Ventures, tido como autor intelectual do golpe da criptomoeda $LIBRA e um dos principais acusados no escândalo ‘Criptogate’, a ‘puxada de tapete’ que o presidente Milei insuflou em sua própria conta na plataforma X, asseverou a possíveis investidores que pagava propinas à irmã do presidente argentino, Karina Milei, se gabando de ter “controle total” sobre as ações do presidente para desenvolver o ‘negócio’, segundo o jornal argentino La Nacion, que teve acesso às mensagens de texto.
Em pânico, o governo argentino nega que qualquer pessoa no círculo do presidente tenha lucrado com o esquema.
Mas o La Nacion reproduziu a mensagem citada. “Também podemos fazer com que Milei tuíte, faça reuniões presenciais e faça uma promoção. Eu controlo esse crioulo”, escreveu Davis, usando a expressão em inglês “nigga” para se referir ao presidente.
“Eu mando $$ para a irmã dele e ele assina o que eu digo e faz o que eu quero”, insistiu o escroque, após um investidor comentar a “loucura” que isso era.
Com a exposição da pilantragem à luz do dia, assim que a pirâmide de criptomoedas estourou, um representante de Davis desconversou ao La Nación, alegando que este não se lembrava de ter enviado as mensagens, nada tinha em seu celular e jurando jamais ter feito qualquer pagamento a Milei ou sua irmã.
Fontes ouvidas pelo La Nación afirmam que funcionários de Milei mantiveram conversas secretas com Hayden nos últimos dias, em discussões que teriam incluído uma promessa da Casa Rosada de que o presidente não o acusaria de ter cometido qualquer ato ilícito durante o lançamento do $LIBRA.
PROCESSO DE IMPEACHMENT EM PREPARAÇÃO
As novas denúncias complicam ainda mais a situação de Milei. Tanto ele quanto Davis são agora alvo de uma investigação criminal em Buenos Aires, e podem enfrentar problemas com as autoridades dos Estados Unidos. Os dois foram denunciados ao Departamento de Justiça e ao FBI e suas fraudes também foram reportadas à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC). As duas empresas envolvidas na fraude têm domicílio nos EUA.
A oposição peronista, com apoio de setores do Partido Radical e outros, busca abrir um processo de impeachment contra o presidente: “o envolvimento de Milei em um crime de fraude de criptomoedas é um escândalo sem precedentes”.
Nas últimas horas, também houve pedidos de convocação das principais figuras do gabinete do partido de Milei na Câmara dos Deputados para prestação de esclarecimentos, incluindo a própria Karina Milei, o chefe de Gabinete Guillermo Francos, e o ministro da Justiça Mariano Cúneo Libarona.
Na entrevista combinada com um canal do grupo Clarín, destinada a limpar sua barra e exibida na segunda-feira, Milei acabou cometendo a indiscrição de nomear Libarona, o que motivou interrupção por parte de um assessor, advertindo-o sobre os “riscos judiciais”, e foi resolvido cortando tal trecho. O vazamento nas redes de uma versão bruta da entrevista acabou enredando ainda mais a Milei no escândalo.
Documentos públicos confirmam que a irmã do presidente Milei foi o elo do governo a permitir o contato do presidente com o empresário. O outro elo foi Mauricio Novelli, empresário e dono da academia de negociação de ações N&W Professional Traders, que em 8 de janeiro de 2024 visitou Karina e desde então entrou na Casa Rosada pelo menos nove vezes e na Quinta de Olivos (residência oficial do presidente) três vezes para tratar da questão, segundo as denúncias.
Nas redes sociais há também registros de encontros de Milei com outro personagem envolvido no sórdido esquema, Julian Peh, da KIP Network Inc.
Davis, por sua vez, esteve três vezes nas dependências da Casa Rosada. Em 16 de julho, ele e Novelli entraram no local autorizados por Karina, permanecendo por cerca de 40 minutos. Uma outra audiência com aproximadamente a mesma duração aconteceu em 21 de novembro — sem que suas entradas constassem no registro público. No dia 30 de janeiro deste ano, ele e Milei se encontraram pessoalmente.
Há também o agravante de que Milei é recalcitrante em fraudes com criptomoedas. “Esta é a segunda vez que, como funcionário, (Milei) anuncia ativos do mundo das criptomoedas que acabam sendo uma fraude”, denunciou o senador Martín Lousteau (União Cívica Radical). Em 2021, então deputado, Milei promoveu a plataforma CoinX, que oferecia lucros de 8% ao mês em dólares e teve 23 escritórios fechados e quatro diretores presos. Na época, Milei alegou que apenas havia dado uma “opinião profissional” sobre a companhia e que não via irregularidades. (Com La Nación)