Em meio à campanha macartista do governo de Zelensky contra o poeta Alexander Pushkin, considerado o criador da literatura russa moderna, dois homens mascarados jogaram tinta vermelha contra uma escultura sua na estação de metrô de Kiev nesta semana.
Conforme o vídeo divulgado nas redes sociais, elementos vestindo roupas de estilo militar, atacaram o busto do poeta russo do século 19 aos brados de “Glória à Ucrânia”. O crime cometido com uma insígnia do Setor Direita – um dos muitos grupos neonazistas que infestam o país – vem sendo enaltecido pelos vândalos ucranianos como uma performance “criativa”.
A estação parecia estar vazia no momento da agressão e o governo pró-Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) até agora nada falou sobre o ocorrido. Em junho, as autoridades locais de Kiev renomearam várias estações de metrô da capital, acelerando o processo que apelidaram de “desrussificação” e “descomunização” iniciada em 2014, após o golpe da praça Maidan, com a demolição de estátuas de Lenin.
A reação ultraconservadora chegou ao cúmulo de tentar mudar todas as ruas Pushkin da Ucrânia para o nome do escritor estadunidense Stephen King, mas não conseguiu reunir assinaturas suficientes.
Apesar dos ataques, prisões e perseguições do governo, a resistência é visível. O Conservatório de Kiev, oficialmente chamado de Academia Nacional de Música Pyotr Tchaikovsky da Ucrânia (UNTAM) em homenagem ao compositor russo, desde o conflito militar iniciado em fevereiro, se recusou a renomear e remover o nome do compositor.
Há mais armações em curso, como do Ministério da Educação, que prepara a eliminação da literatura russa dos currículos escolares do país, banindo ícones como Pushkin, Fyodor Dostoyevsky, Leo Tolstoy, entre outros expoentes da cultura universal. Segundo o vice-ministro da Educação e Ciência, Andrey Vitrenko, “tudo o que de alguma forma nos conecta com o Império Russo deve ser descartado”.
De concreto, como já enumerou o jornal russo Komsomolskaya Pravda, com o ataque em Kiev o ataque no metrô integra a caça a monumentos a serviço da russofobia. Apenas neste ano houve ocorrências em Mukachevo (7 de abril); Uzhgorod e Ternopil (9 de abril); Zabolotovtsy, região de Lviv (11 de abril), Kropyvnytskyi (19 de abril) e Chernihiv (30 de abril). Uma aldeia com o nome do genial poeta não só teve o monumento de Pushkin derrubado, como foi anunciado que a vila será rebatizada.
De acordo com o estudioso Jorge de Sena, “Aleksander Pushkin (1799-1837), não é apenas, na sua curta vida atribulada e na sua criatividade assombrosa, a entrada triunfal do Romantismo na Rússia, após anos em que ‘antigos’ e ‘modernos’ lutavam pela supremacia: é não só, ainda hoje, o maior poeta da Rússia, como também a personalidade de quem decorre toda a literatura russa moderna, à qual abriu todos os caminhos que ela veio a trilhar, e de quem as artes vieram a inspirar-se profusamente na Rússia, para a magnificante floração estética da segunda metade do século XIX, que colocou o país na vanguarda da cultura ocidental”.