
A terceira e quarta maiores economias da União Europeia – Itália e Espanha – estão céticas sobre a ideia de dobrar a ajuda militar à Ucrânia emanada de Bruxelas ou de envio de tropas à guerra perdida por Kiev
Pelo plano apresentado pela fanática por guerra, russófoba e atual chefe de política externa da UE, a estoniana Kaja Kallas, o fluxo de caixa do bloco para o regime de Kiev aumentaria de € 20 bilhões no ano passado para € 40 bilhões em 2025, mas em caráter “voluntário”.
O ministro das Relações Exteriores italiano Antonio Tajani disse que a decisão de dobrar a ajuda a Kiev deve ser tomada levando em conta o progresso nas negociações entre Moscou e Washington. Ele também observou que Roma precisava de dinheiro para aumentar seus próprios gastos com defesa.
Ao particpar de encontro europeu onde Kallas defendeu que Europa se atolasse na guerra da Otan contra a Rússia através de Kiev, o presidente espanhol, Pedro Sanchez, enfatizou que nenhum movimento de tropas deve ocorrer antes do desfecho das negociação entre Trump e Putin, conforme registra o jornal espanhol El Mundo.
O chefe da diplomacia espanhola, José Manuel Albares, lembrou que Madri não esperou que Kallas fizesse sua proposta e já havia se comprometido a fornecer 1 bilhão de euros (cerca de US$ 1,1 bilhão) em ajuda militar à Ucrânia este ano.
Kallas admitiu que a proposta tinha apoio “amplo”, mas não unilateral entre os 27 estados-membros. Em meio aos temores em Bruxelas sobre a interrupção do fluxo de armas e dinheiro de Trump para Kiev, ela tem insistentemente pressionado os países do bloco a socorrer Zelensky.
No início do ano, ao lado secretário-geral da Otan, o holandês Mark Rutte, Kallas fez um apelo aos membros da UE por mais canhões e menos manteiga, chamando a priorizar os gastos militares e alegando que os bilhões já investidos em saúde, educação e outras áreas estariam “em risco” se o bloco não conseguisse se defender de uma suposta “ameaça russa”.
E isso quando a ‘locomotiva’ da Europa, a Alemanha, está há dois anos sob estagnação e risco de desindustrialização, enquanto o crescimento do bloco é raquítico e a vassalagem aos EUA está cobrando um alto preço.
Mas, a Reuters admitiu, capitais do sul da Europa, mais distantes da fronteira russa, têm sido “mais reticentes” sobre tal política.
Até mesmo a França, que tem sido uma das maiores apoiadoras da Ucrânia durante o conflito com a Rússia, tem dúvidas sobre o plano de Kallas, de acordo com os diplomatas. Hungria e Eslováquia, que há muito criticam a assistência militar da UE a Kiev, disseram que não participarão.
ENVIO DE TROPAS: “ARRISCADO E INEFICAZ”
Outra ideia de jerico que vem sendo cotada pelos governos inglês e francês, a de enviar tropas supostamente de paz assim que houver um cessar-fogo na Ucrânia – e apesar da Rússia já ter declarado inaceitável -, também foi questionada pela Itália, mais exatamente, pela primeira-ministra Giorgia Melloni.
Ela descreveu a proposta do eixo Paris-Londres como “complexa, arriscada e ineficaz” durante um discurso na câmara alta do parlamento italiano na terça-feira, antes de uma reunião do Conselho Europeu em Bruxelas esta semana.
Pela proposta Starmer-Macron, “alguns milhares de tropas por país” seriam enviadas para locais-chave na Ucrânia. Meloni disse que o governo italiano respeitou a proposta, mas não estava “convencido” por ela.
“Enviar tropas italianas para a Ucrânia é um tópico que nunca esteve na agenda”, disse Meloni ao Senado, conforme citado pelo jornal la Repubblica.
Melloni também afirmou que a Itália apoiou o esforço de pacificação lançado pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
Moscou rejeitou repetidamente a ideia de soldados de países da OTAN serem estacionados na Ucrânia, alertando que isso levaria a um confronto direto entre os dois lados.
Em seu segundo telefonema em um mês, os presidentes Putin e Trump aprovaram uma trégua parcial em relação a alvos do sistema de energia, uma troca de prisoneiros, já realizada nesta quarta-feira, com as conversações tendo sido consideradas, pelos dois lados, produtivas. Em seu comunicado sobre a reunião, o Kremlin assinalou que Putin reiterou a Trump de que é preciso ir à raiz dos problemas na Ucrânia, para que se chegue a uma paz duradoura. Moscou e Washington também sinalizaram sua disposição de normalizar as relações.
Sobre a resistência da Europa a enveredar pelo retorno à diplomacia, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov observou que o governo Trump se diz “guiado pelo bom senso”. “Eles dizem abertamente que querem acabar com todas as guerras, querem paz. E quem exige a continuação do banquete na forma de uma guerra? É a Europa [Ocidental]”.