Ajuste de 22% representa aumento real de quase 20% e, se aprovado pelo Parlamento, será a maior recuperação do mínimo desde a restauração da democracia no país
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, socialista, e o líder do Podemos, o partido que surgiu do Movimento dos Indignados, Pablo Iglesias, acordaram um aumento do salário-mínimo de 22%, para 900 euros na Espanha em 2019, o que representa um aumento real de quase 20% e é o maior aumento do salário-mínimo desde a restauração da democracia.
O reajuste vale para todos os 14 salários a que os trabalhadores espanhóis têm direito, numa medida voltada a reverter as perdas impostas durante os anos de brutal arrocho sob a Troika e a impulsionar a economia ao fortalecer o mercado interno e o poder de compra da população. A proposta precisa do apoio de outros partidos para ser aprovada no congresso espanhol no orçamento para o próximo ano. O acordo também aumenta em 5 bilhões de euros os gastos públicos.
A medida foi prontamente contestada pelo FMI, que recomendou “cuidado”, alegando que os países da zona do euro com elevada dívida pública, entre os quais evidentemente se inclui a Espanha, que tem uma dívida perto de 100% do PIB, têm que “fazer mais” para “ajustar suas contas agora que a conjuntura econômica é positiva”. (Quando está ruim, pau no lombo dos trabalhadores e, quando melhora, pau no lombo, preventivamente).
Conforme a cínica observação do chefe do Departamento Europeu do Fundo, Poul Thomsen, o aumento de salário mínimo na Espanha poderia “expulsar [dos empregos] aqueles empregados cujos empresários não estejam dispostos a pagar esses 900 euros”. Ele reconheceu que a medida era enormemente demandada na sociedade, o que disse “entender perfeitamente”, recomendando “equilibrar ambos os fatores”. Após o que, elogiou o arrocho sob o governo do PP, que chamou de “reformas estruturais” que “impulsionaram a produtividade”, provavelmente numa referência à teologia da especulação como valor universal e ao tudo para os bancos, pelos bancos e com os bancos.
O celerado concluiu expressando “preocupação” com os países endividados que “não criaram suficiente margem fiscal para os tempos ruins” – como se a dívida não tivesse sido catapultada exatamente para salvar bancos quebrados na orgia dos derivativos tóxicos. Ele ainda reclamou dos países que “tiveram um crescimento acima do potencial” nesses últimos tempos e não usaram isso para entupir os banqueiros com mais dinheiro público. “Isto aumenta os riscos”, assegurou.