
“O relatório [do Ministério da Defesa] sugere que não é possível afirmar que não houve fraude. É como uma ‘falácia do não saber’: se você não prova que algo não existe, então ela existe ou poderia existir”, rebateu Giuseppe Janino
O especialista Giuseppe Janino, ex-secretário de Tecnologia da Informação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), rebateu os pontos levantados pelo Ministério da Defesa sobre uma suposta fragilidade no sistema eleitoral brasileiro e reafirmou confiança nas urnas eletrônicas.
No relatório, o Ministério da Defesa reclama que teve acesso ao código-fonte apenas de maneira precária, o que o impediu de fazer uma inspeção mais detalhada.
No entanto, como contou Janino, o Tribunal Superior Eleitoral concedeu acesso a todas as instituições que fiscalizam o processo eleitoral, mas os militares perderam o prazo e pediram para acessá-lo depois.
“Esse tipo de teste, que eles gostariam de ter feito, é possível nos testes públicos de segurança, que eles tiveram oportunidade de participar e não participaram. No exíguo tempo em que resolveram analisar, isso realmente não seria possível, na amplitude solicitada”
Os testes que as Forças Armadas não fizeram poderiam ter acontecido no Teste Público de Segurança (TPS), que foi realizado entre outubro e novembro de 2021. Em agosto de 2022, quando as Forças Armadas pediram acesso, já não havia mais tempo.
“Esse tipo de teste, que eles gostariam de ter feito, é possível nos testes públicos de segurança, que eles tiveram oportunidade de participar e não participaram. No exíguo tempo em que resolveram analisar, isso realmente não seria possível, na amplitude solicitada”, explicou Giuseppe.
Na avaliação do especialista, “o relatório [da Defesa] sugere que não é possível afirmar que não houve fraude. É como uma ‘falácia do não saber’: se você não prova que algo não existe, então ela existe ou poderia existir”.
“Em um ambiente de certa ignorância sobre o assunto, que tem mesmo suas complexidades para muitas pessoas, isso me parece ter potencial de manter ânimos acirrados”, acrescentou.
Janino, apelidado de “pai das urnas” por sua participação no projeto de implementação na década de 1990, apontou que as urnas são mais seguras do que o apontado pelo Ministério da Defesa.
Veja entrevista de Janino dada à CNN Brasil em agosto/2022:
Um dos principais pontos apontados pelo Ministério foi de que as urnas estavam conectadas à rede no momento em que ocorreu a compilação do código-fonte, além da impossibilidade de detecção caso um “código malicioso” fosse inserido por hackers.
Giuseppe Janino afirmou que essa etapa é realizada totalmente offline, rebatendo a suspeita da Defesa.
“Esse procedimento é feito com equipamentos offline. As máquinas que fazem a compilação estão desligadas da rede, da internet, principalmente.”
“O teste de integridade, ele serve justamente para isso: se há qualquer software malicioso, ele teria que se manifestar durante o processo de simulação, exatamente como ocorre na votação”, acrescentou.
O Ministério da Defesa, ligado diretamente a Jair Bolsonaro, tenta transformar um relatório que não encontrou nenhum indício de fraude em uma arma contra as eleições.
“O teste de integridade, ele serve justamente para isso: se há qualquer software malicioso, ele teria que se manifestar durante o processo de simulação, exatamente como ocorre na votação”
Ao invés de enfatizar a lisura das eleições, como fizeram o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que também fiscalizam o processo eleitoral, a Defesa prefere ressaltar uma fragilidade que sequer existiu realmente.
Após a entrega do relatório ao TSE, o Ministério da Defesa publicou em suas redes sociais que não foi excluída “a possibilidade de fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas”. Essa posição tenta dar combustível para as manifestações antidemocráticas que não aceitam o resultado das eleições.
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