Zerar alíquota de importação do arroz sem nenhuma ação de controle de preço só vai beneficiar os atravessadores
Em meio à pandemia, recessão, desemprego e achatamento da renda, os brasileiros agora veem os alimentos do dia a dia, como arroz, feijão, leite, carne e óleo de soja, sumirem de seus pratos, já que o preço destes produtos registraram nas últimas semanas crescimento de mais de 100% nas gôndolas de supermercados. Diante deste quadro, o governo Bolsonaro faz cena de preocupado, mas na realidade trabalha para deixar os preços como estão.
Na terça-feira (8), a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, declarou que o governo não fará nenhum tipo de intervenção nos preços dos principais alimentos da cesta básica brasileira. “O governo não vai fazer nenhuma intervenção em preços de mercado”, disse a ministra.
Nesta semana, as famílias brasileiras que buscaram um pacote de cinco quilos de arroz em supermercados encontraram o produto por R$ 23 a R$ 44, em diversas localidades do país. Tempos atrás, este produto poderia ser encontrado ao custo de R$ 13 a R$ 15. Outro exemplo da carestia é o óleo de soja, que na capital paulista era encontrado por R$ 2,99, mas que hoje, em alguns supermercado ultrapassa R$ 6.
Esses valores absurdos refletem a inflação sobre os preços dos alimentos, que está sendo pressionada, principalmente, pelo crescimento das exportações e pela elevação do dólar. No acumulado de 12 meses, a inflação dos alimentos no domicílio subiu para uma taxa de 11,39%, número que é bem superior à inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que ficou em 2,44% no período.
Nesta quarta-feira (9), a Câmara de Comércio Exterior (Camex), órgão ligado ao Ministério da Economia, anunciou que zerou a alíquota do imposto de importação para o arroz em casca e beneficiado até 31 de dezembro deste ano.
Com essa medida, o governo propõe que os preços continuem altos, pois estes produtos serão comprados de acordo com o preço internacional, isto é, pela variação do dólar que hoje está acima dos R$ 5. Ou alguém acredita que os produtores de países vizinhos, que estão atentos à demanda chinesa, venderiam abaixo dos preços internacionais para o Brasil, simplesmente porque o governo zerou as importações?
No final do ano passado, grande parte das famílias brasileiras não tiveram como assar seu tradicional churrasco de final de ano, porque o mercado frigorífico decidiu abater o gado para outras economias, como a chinesa, por exemplo. Na época, o governo viu com normalidade e até comemorou os números da exportação da carne bovina, já que ele segue a lógica do mercado – que é a exportação sem restrição e o povo que se vire para obter o que não for exportado.
No entanto, para fugir de críticas, o governo foi atrás da carne bovina estrangeira para garantir o abastecimento e aliviar o preço da carne. A medida não surtiu efeito, as famílias brasileiras continuaram encontrando dificuldades para conseguir, por um preço justo, um produto que é fortemente produzido em seu próprio território.
Essa segunda onda de aumento nos preços no governo Bolsonaro ocorre em um período de recessão, com uma queda de 9,7% no Produto Interno Bruto no segundo trimestre em relação ao primeiro e com uma taxa de desemprego de 13,6%. O consumo das famílias brasileiras, que representa 65% do PIB, teve um queda recorde de 12,5% no segundo trimestre, e deve recrudescer ainda mais no próximo período, já que a ajuda emergencial de R$ 600, que foi crucial para impedir uma queda ainda pior do consumo e do PIB, foi cortada pela metade por Bolsonaro.
ANTONIO ROSA