Ao analisar o resultado da produção industrial de agosto, divulgado pelo IBGE, o Instituto de Estudo para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) considerou que o país viverá mais um ano com a produção industrial no vermelho.
“2020 irá concluir esta década de modo bastante sintomático, já que nos últimos dez anos seis foram de declínio da produção e um de virtual estagnação. Crescimento de fato, acima de 2%, ocorreu somente em dois anos (2013 e 2017)”, diz o Iedi.
Segundo o Instituto, apesar de quatro meses consecutivos de crescimento, de maio a agosto, depois da Covid-19 ter paralisado muitas unidades produtivas no final de março e em abril de 2020, “em agosto, porém, houve importante desaceleração, antes de compensar integralmente as perdas da pandemia e antes também da redução do auxílio emergencial, que vem dinamizando os mercados”.
Na passagem de julho para agosto, já descontados os efeitos sazonais, a produção industrial cresceu +3,2%, isto é, “menos da metade da taxa obtida no mês anterior (+8,3%). Com isso, o setor permaneceu 2,6% abaixo do nível de produção de fev/20, que precedeu o surto do novo coronavirus no Brasil“.
“Esta acomodação reflete bases maiores de comparação, mas também vários outros fatores que continuam presentes e afetam negativamente o setor, como demanda fraca, necessidade de protocolos de segurança sanitária, dificuldade de obtenção de insumos em certos setores, incertezas elevadas com a continuidade de programas emergenciais etc.”, ressalta a Carta do Iedi “Moderação na Retomada Industrial”, divulgada no dia 5 de outubro.
“Dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE, 10 deles (38% do total) não conseguiram crescer em ago/20, proporção maior do que nos meses anteriores e 16 ramos (ou 62% do total) ainda não retomaram patamares anteriores à crise”.
Embora todos os macrosetores tenham abtido algum avanço na produção em agosto, “apenas bens intermediários estão acima do nível de fev/20”.
Os destaques em agosto foram bens de consumo duráveis, único a se manter com um ritmo de crescimento de dois dígitos (+18,5%) e bens de capital (+2,4%), a despeito de grande perda de dinamismo em comparação com o mês anterior (+16%).
“A conferir se esta evolução de bens de capital é sintoma de que o investimento em máquinas e equipamentos na economia brasileira, após alguns meses de recuperação, volta a ter baixo dinamismo. Se for assim, a decorrência será um crescimento menor da economia”, alerta o Iedi.
O instituto cita as previsões divulgadas pelo boletim Focus do Banco Central que apontava uma queda de -6,3% para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano.
“Ou seja, espera-se outro ano tão ruim quanto 2016 (-6,4%), que fez parte de uma das mais graves crises da indústria brasileira”.