
Com o 5º lugar de 2024, escola centenária voltará no Desfile das Campeãs no próximo sábado junto a Vila Isabel, Salgueiro, Grande Rio, Imperatriz e a campeã Viradouro
Na madrugada do carnaval (12), a escola de samba Portela desfilou com o enredo inspirado no livro “Um Defeito de Cor”, da autora Ana Maria Gonçalves. O sucesso do desfile e do enredo foi tão grande que impulsionou as vendas da publicação. O livro está indo para sua 30ª edição, contando com a edição especial lançada em 2022.
Atualmente esgotado na plataforma de compras online Amazon, o livro de 952 páginas é o best-seller da plataforma. No momento, está disponível para compra apenas por meio de vendedores terceirizados na Amazon, não diretamente pela plataforma oficial.
Além disso, o livro aparece em quinto lugar na seção de romance, que engloba títulos disponíveis apenas para Kindle. Para termos de comparação, em junho de 2023, o livro aparecia timidamente na lista do e-commerce na posição 210.
Sucesso desde o lançamento, em 2006, e recomendado por diversas personalidades de destaque no combate ao racismo, como Lázaro Ramos e Taís Araújo, que também desfilaram com a escola, o livro ilustra a trajetória da ex-escravizada Luísa Mahin, figura importante na Revolta dos Malês, na Bahia, tida como mãe do abolicionista Luiz Gama.
Na obra, Luísa, também conhecida como Kehinde, volta ao Brasil, cega, para procurar o filho desaparecido. Apesar de ser um romance, o livro é baseado em fatos históricos.
“É interessantíssimo ver como funcionam bem duas manifestações culturais tão diversas, como a literatura, que você imagina em ambiente tranquilo para que a leitura possa acontecer, e a escola de samba que é o oposto, é cor, música e movimento. É o livro encontrando o asfalto. É maravilhoso. Só na Marquês de Sapucaí para acontecer um fenômeno desses”, disse em declaração ao portal Agência Brasil, na última quarta-feira (14), a presidente do Grupo Editorial Record, Sônia Machado Jardim.
Sonia lembrou que é comum homenagear autores e personagens de livros nas escolas de samba. A escola de samba Grande Rio, por exemplo, teve como enredo Nosso destino é ser onça, baseado na obra de Alberto Mussa Meu destino é ser onça: mito tupinambá. O livro trata da criação do mundo e o papel da onça no imaginário do povo brasileiro.
A editora-executiva responsável pelo livro de Ana Maria Gonçalves, Livia Vianna, ressaltou que, desde 2017, o título Um Defeito de Cor vem crescendo, acompanhando uma “mobilização maior do país em torno das questões raciais, em busca da história não oficial de nosso país colonizado”.
Ao longo de 2023, foram muitas conversas com a Portela. “Ana Maria Gonçalves se aproximou muito da escola. Tivemos um evento de autógrafos na quadra, onde o livro esgotou. Foi muito bonito ver a adesão de Ana Maria à comunidade da Portela e vice-versa. Ela se tornou uma pessoa querida da escola, muito presente, participando de oficinas e clubes de leitura”, disse a editora-executiva.
Na classificação geral, a escola, que ficou em quinto lugar na disputa deste ano e participará do Desfile das Campeãs no próximo sábado (17). A campeã foi a Unidos do Viradouro.
ESTANDARTE DE OURO
A Portela foi eleita a melhor escola do Grupo Especial dos desfiles de Carnaval do Rio pelo júri do Estandarte de Ouro 2024. A agremiação foi a segunda a desfilar na segunda noite de carnaval. A escola venceu também a categoria enredo.
Histórica porta-bandeira da azul e branca, Vilma Nascimento ganhou a premiação de personalidade. O Estandarte de Ouro é uma realização dos jornais “O Globo” e “Extra”.
Um dos pontos altos foi a homenagem às mães de vítimas da violência. Ao todo, 16 mulheres vieram no último carro, entre elas Marinete Franco, mãe da vereadora Marielle Franco, e Ana Paula Oliveira, mãe de Jhonata Oliveira.
A Portela também conquistou a categoria enredo. Os jurados destacaram a aposta em um tema de densidade em que “cada detalhe comunicou muito bem o enredo”, sabendo comunicar com clareza, e “até a águia se africanizou”. A escola não levava o Estandarte desde 1995.
A azul e branco ainda foi premiada nesta edição na categoria personalidade, com Vilma Nascimento, histórica porta-bandeira, de 85 anos. Em novembro do ano passado, ela sofreu uma abordagem racista em uma loja do Aeroporto de Brasília, ao viajar para a capital do país para um evento na Câmara dos Deputados em homenagem ao Dia da Consciência Negra.
Logo que o caso repercutiu, Vilma recebeu apoio dos amigos do mundo do Carnaval e de fãs. “Entramos na Justiça, mas ainda não resolvem. Tem horas que eu choro”, contou. “Mas dou graças a Deus porque todas as escolas de samba me apoiaram”, disse.