“Quem quiser tomar a vacina, repito, vai tomar, vai estar a disposição sabendo de possíveis efeitos colaterais aos quais os laboratórios não se responsabilizam”, disse Bolsonaro, ao responder ao irmão se a mãe devia se vacinar
Durante toda a pandemia de Covid-19, Jair Bolsonaro atrapalhou de todas as formas possíveis a luta contra o coronavírus. Foi contra o uso de máscara, promoveu aglomerações, disse que quem se cuidava era marica, deixou faltar oxigênio em Manaus, atacou todas as vacinas, ou seja, só criou caso. Agora, o desequilibrado está atrapalhando até mesmo a vacinação da sua própria mãe, dona Olinda Bolsonaro, de 93 anos.
A vacinação de pessoas com mais de 90 anos já começou no Estado de São Paulo desde sexta-feira (5). Mais de um terço desta população já foi vacinada, segundo dados do governo paulista. O irmão de Bolsonaro, preocupado com a situação da mãe, ligou para ele perguntando sobre a imunização dela, que mora no Vale do Ribeira. “Ô, Jair. A nossa mãe está com 93 anos e mora aqui no Vale do Ribeira. Vai tomar vacina ou não?”, perguntou o irmão.
Bolsonaro não respondeu à pergunta do irmão, num claro sinal de que pretende continuar atrapalhando e fazendo carga contra a vacina. “Quem quiser tomar a vacina, repito, vai tomar, vai estar a disposição sabendo de possíveis efeitos colaterais aos quais os laboratórios não se responsabilizam. Então, eu não estou fazendo campanha contra a vacina”, disse. “Somos meia dúzia de irmãos e estamos decidindo o que vai acontecer com a minha mãe”, contou, em entrevista ao programa Pingos nos Is. Ele próprio não decidiu se sua mãe, embora já com 93 anos, portanto, numa faixa de idade de alto risco, vai ou não ser imunizada.
Além da postura irresponsável em relação à mãe, ele pretende continuar questionando a eficácia da vacina, depois de ter recomendado o uso amplo e irrestrito de drogas, essas sim, sem nenhuma comprovação científica, gasto rios de dinheiro público na aquisição da cloroquina, entre outras inutilidades frente ao coronavírus.
“A vacina chama-se emergencial. Não está devidamente comprovada ainda. Os laboratórios e seus contratos dizem que não se responsabilizam por efeitos colaterais. No que depender de mim, a vacina não será obrigatória. E a vacina que for certifica pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) será adquirida por nós”, disse ele, resistindo a vacinar a mãe.
Outro boçal, o empresário Luciano Hang, fanático seguidor de Bolsonaro, propagandista da cloroquina, ativista histérico contra a vacina, foi internado recentemente junto com a mãe, Regina Modesti Hang, de 82 anos, vítimas da Covid.
Após a internação, saiu da hospital fazendo propaganda do tratamento precoce que utilizou através da cloroquina, de quem se transformou, ao lado de Bolsonaro, em garoto propaganda da droga.
Já sua mãe, que também tomou cloroquina e, certamente não tomaria a vacina depois que ela chegou ao Brasil por conta das idiotices de seu filho, morreu durante a internação. Ela não se “salvou” com o “remédio milagroso” alardeado pelo filho.
Enquanto o país inteiro espera ansioso pela vacina em número suficiente para que todos possam ser vacinados, Bolsonaro conspira o tempo todo em desfavor do imunizante e insiste, doentiamente, em pregar o uso da cloroquina.
Por essas atividades, o Brasil, com Bolsonaro, foi o 57º país a começar a vacinar sua população, somente agora, em janeiro, segundo apurou a Agência CNN. Enquanto isso, apenas entre os meses de abril e agosto, a Coordenação-Geral de Assistência Farmacêutica e Medicamentos Estratégicos do Ministério da Saúde solicitou ao Laboratório Químico Farmacêutico do Exército a distribuição de 1,5 milhão de comprimidos aos estados.
Ou seja, enquanto o país demandava vacina, Bolsonaro estava distribuindo cloroquina.
Em sua live, transmitida na última quinta-feira (4) pelas rede sociais, Jair Bolsonaro já ensaiou responsabilizar os outros pelo rotundo fracasso de seu governo no combate à pandemia de coronavírus. Ele quer tirar o corpo fora sobre a morte de mais de 230 mil pessoas pela doença que segue ceifando mais de mil vidas diariamente.
Jurou que não matou ninguém por ter se fixado exclusivamente no uso “precoce” da cloroquina, medicação ineficaz no combate à Covid-19.
“Pode ser que lá na frente falem que a chance é zero, que era um placebo. Tudo bem. Paciência. Me desculpa. Tchau. Pelo menos não matei ninguém. Agora, se por ventura, se mostrar eficaz lá na frente, você que criticou, parte da imprensa vai ser responsabilizada, pelo menos moralmente”, ameaçou ele.
Segundo o capitão cloroquina, toda sabotagem promovida por ele contra as medidas preventivas – uso de máscaras, distanciamento social, etc – não tiveram nada a ver com o caos que se abateu sobre o Brasil. A culpa foi de quem lutou pelos cuidados e pela vacina.
Outro sinal claro de desprezo do governo com a vacinação se deu por conta da falta de entendimento com a Pfizer, por ironia, uma vacina americana, quando Bolsonaro chegou a dizer que quem a tomasse viraria jacaré, além das agressões contínuas ao esforço do Instituto Butantan, em parceria com a Sinovac chinesa, de produzir a CoronaVac, imunizante que, por iniciativa do governo de São Paulo, já está em processo de produção no país.
Como bem sintetizou o médico Roberto Bittancourt, em artigo recente no Correio Braziliense, o mundo conheceu basicamente três estratégias de combate ao novo coronavírus.
Os países asiáticos, liderados pela China, que usaram todos os instrumentos para conter a disseminação do vírus. Basearam a sua ação na vigilância epidemiológica, isolando áreas atingidas, rastreando contatos e fazendo busca ativa de casos. Seus resultados foram positivos. Os óbitos por 100 mil habitantes ficaram muito baixos. Morreram na China 4.636 pessoas para uma população de 1,4 bilhão.
Os países europeus, cuja população de maior poder aquisitivo pode se submeter ao isolamento social e permanecer em casa, inclusive no lockdown. O resultado não foi bom. Vários desses países, segundo Bittencourt, estão com taxas acima de 150 óbitos por 100 mil habitantes.
Já nos países da América, do Norte e do Sul, onde predominou o negacionismo, como nos Estados Unidos e Brasil, a mortalidade está acima de 120 por 100 mil habitantes. São nações que lideram o número absoluto de mortes por Covid.
Esse é o legado de Bolsonaro para o país: o segundo pior desempenho do mundo no combate à pandemia, durante a qual, apesar da tragédia já consumada, nem mesmo sua mãe escapa da ignorância do filho.
S.C.