
Um dirigente do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) informou que a entidade enviou 38 comunicados ao BC de Campos Neto – indicado de Bolsonaro – pedindo esclarecimentos sobre as falcatruas do Banco Master
Neste fim de semana vieram a tona informações sobre a compra do Banco Master pelo BRB que revelam que o negócio está mais para uma operação de resgate de um banco falido do que uma simples compra de um ativo. Anunciada por seu dono, Daniel Vorcaro, e por dirigentes do Banco Regional de Brasília (BRB), a operação de R$ 2 bilhões, provocou muitas suspeitas.
Já desde os primeiros momentos do anúncio de que o BRB iria comprar o Banco Master houve uma série de protestos de vários setores e de funcionários do BRB e fortes suspeitas de que a venda seria uma operação encoberta de salvação de um banco com atuação extremamente arriscada.
O Banco Master é conhecido no mercado como um banco que atua com operações de alto risco e não possui lastro patrimonial para sustentar seus negócios. Desde o início, o escândalo vem sendo tratado pelas seções econômicas dos jornais, mas poderia perfeitamente ocupar as páginas policiais desses mesmo veículos.
Assim como o escândalo dos descontos irregulares do INSS, as tramoias dos operadores do Master nasceram muito antes, mais precisamente em 2019. Coincidentemente este é o ano em que Jair Bolsonaro chegou ao Planalto. O colunista Lauro Jardim, destacou que, segundo um dirigente do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) que prefere o anonimato, a entidade enviou 38 comunicados ao BC de Roberto Campos Neto – indicado de Bolsonaro – pedindo esclarecimentos sobre questões do Banco Master.
Uma outra fonte do mercado financeiro também lembrou ao HP que Daniel Vorcaro é suspeito de ter sido um grande doador da campanha de Jair Bolsonaro. As contribuições seriam feitas através de um cunhado, “um pastor de araque”, que usaria a igreja para lavar dinheiro desviado do esquema “ponzi” que é o Banco Master”. O episódio é tão grotesco que faz lembrar a máxima de um personagem da quadrilha de Mac Navalha, da peça “A Ópera dos Três Vinténs”, de Bertold Brecht, que, depois de adquirir um banco, disse aos seus comparsas: “o que é roubar um banco comparado a fundar um banco?”
“Vorcaro toma o dinheiro emprestado, via emissão de CDBs, Letras financeiras etc. Torra o dinheiro e arruma ativos podres para justificar o passivo. Cria lucros fictícios com esses ativos e para pagar os CDBs que estão vencendo, depende de emitir outros”, diz a fonte. “Clássico esquema Ponzi, como o do Maddof nos EUA ou do Faraó dos Bitcoins, o Gladson. Torra o dinheiro dos investidores e depende de novos investidores para pagar resgates”, completa a fonte.
Mas foi a reportagem de Consuelo Dieguez, da revista Piauí deste mês, que trouxe mais detalhes do que seria uma operação do BRB de “salvamento” de um banco falido. A reportagem revela que em dezembro passado, ou seja, quase na hora de sair do BC, o então presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, convocou os dirigentes do Banco Master para uma reunião de emergência na sede da instituição, em Brasília.
Ele não queria deixar rastros de sua leniência com a orgia patrocinada por Vorcaro durante anos com os recursos do Fundo Garantidor de Crédito.
O Banco Master, um banco de pequeno porte, já movimentava mais de R$ 50 bilhões em CDs sem cobertura. Isso corresponde a quase metade de todo o valor do fundo garantidor. E, pior. Em seu balanço havia a informação de que ele não tinha fundos para pagar os mais de 12 bilhões de reais de CDBs com vencimento neste ano.
Segundo a reportagem da Piauí, a carteira de ativos do banco, que poderia servir de garantia para os CDBs, “estava recheada de empresas à beira do precipício ou em plena recuperação judicial. Entre elas, uma construtora (Gafisa), uma companhia de serviços ambientais (Ambipar), uma empresa de saúde (Alliança), uma rede de serviços médicos (Oncoclínicas), uma telefônica (Oi) e uma distribuidora de energia (Light), todas em dificuldades”.
Só no fim de 2024, Campos Neto mandou que parassem com as operações arriscadas e abusivas, como a emissão desenfreada de Certificados de Depósito Bancário (CDBs), e fizessem um aumento de capital – ou seja, colocassem mais 2 bilhões de reais no banco. O BC deu um prazo de três meses, até março deste ano, para que os ajustes fossem feitos. Caso contrário, o banco seria liquidado, os donos teriam o patrimônio congelado e ficariam proibidos de operar no mercado.
Havia mais de três anos que o Master fazia uma emissão agressiva de CDBs. Por que só na hora de sair Campos Neto cobrou que eles parassem? O banco oferecia os papéis com rendimentos de 130%, até 140%, do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), um valor muito acima da média dos concorrentes, que raramente passa de 98%. Além disso, pagava uma comissão altíssima às plataformas que distribuíam os CDBs – coisa de 4%, quando a taxa praticada por outras instituições bancárias ficava em torno de 0,5%. Uma parte do mercado estava inquieta com os riscos decorrentes da agressividade do Master.
Na tarde de 28 de março, com o prazo dado pelo BC já entrando nos acréscimos, diz a jornalista da Piauí, “para surpresa de todos, veio o anúncio de que o Banco de Brasília (BRB), uma instituição estatal de médio porte controlada pelo governo do Distrito Federal, cujo patrimônio líquido não passa de 3,7 bilhões de reais, decidiu comprar o Master por 2 bilhões de reais – exatamente o valor do aporte de capital que o Banco Central exigira no apagar das luzes da gestão Campos Neto”.
A reportagem destaca que, assim que se espalhou a notícia do negócio Master-BRB, surgiu um oceano de questionamentos: afinal, por que o BRB estava se aventurando a comprar o Master, uma instituição que em pouco tempo de vida ganhou uma reputação tão duvidosa?
“Não foi uma operação econômica. Foi uma operação política”, afirma o jornalista Ricardo Cappelli, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). “Isso é um escândalo absurdo. Eles jogaram uma crise privada para o BRB pagar. Querem empurrar o problema para o povo de Brasília”, denunciou.