“Temos que mudar algumas nomenclaturas, porque tudo que a gente quer fazer é gasto, é gasto. Para que? Para guardar dinheiro para pagar juros aos banqueiros? Não. Nós precisamos ver uma dívida social”, acrescentou o presidente eleito
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em entrevista coletiva após a visita ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que “é possível recuperar a harmonia entre os poderes, recuperar a normalidade da convivência entre as instituições brasileiras”, referindo-se a instituições que “foram atacadas pela linguagem nem sempre recomendável de algumas autoridades ligadas ao governo”.
NORMALIDADE ENTRE AS INSTITUIÇÕES
Sobre as disputas no Congresso Nacional, Lula disse que “não cabe ao presidente da República interferir no funcionamento da Câmara e do Senado”. “Nós somos poderes autônomos. Nem eles interferem no nosso comportamento, nem nós não interferimos no deles e, assim, a sociedade vai vivendo tranquilamente, democraticamente e as coisas vão acontecendo”, disse Lula.
Lula disse que assim que tomar posse, no dia 1º de janeiro, “se depender de mim, no dia 2 nós estaremos colocando obras para funcionar, porque nós precisamos gerar emprego, distribuir e fazer esse país voltar a crescer”.
‘AINDA NEM SEI QUEM É OPOSIÇÃO‘
“Eu ainda nem sei quem é oposição. Eu apenas conversei com o presidente da Câmara e o presidente do Senado. Há muita disposição dos dois na concordância com aquilo que nós estamos propondo. Não foi especificado ainda tudo o que nós queremos. Fomos eleitos, vamos tomar posse em janeiro e precisamos governar. Esse país só tem um jeito de ser governado. Esse país tem que voltar a crescer”, destacou o presidente eleito.
Lula foi enfático na defesa do crescimento econômico. “Não podemos ficar chorando e dizendo não pode gastar. Eu quero dizer o seguinte. Muitas coisas que as pessoas falam que é gasto, eu acho que é investimento. A Saúde é investimento. Uma pessoa não ficar doente é investimento. Farmácia Popular é investimento, cuidar da vida das pessoas. Investir na Educação não é gasto, é investimento”, afirmou.
“Então”, prosseguiu Lula, “temos que mudar algumas nomenclaturas, porque tudo que a gente quer fazer é gasto, é gasto. Para que? Para guardar dinheiro para pagar juros aos banqueiros? Não. Nós precisamos ver uma dívida social. Temos uma dívida social histórica de 500 anos com o povo pobre e nós vamos tentar começar a pagá-la. Não sei se pagaremos toda, mas vamos começar a pagar. As pessoas vão ter que voltar a tomar café, almoçar e jantar todo o santo dia”, enfatizou.
VAMOS LIDAR COM QUEM FOI ELEITO
Ainda sobre o Congresso, Lula disse que vai tratar com todas as pessoas eleitas. “Já fui deputado, já fui presidente da República. O governante tem que ter clareza que tem que lidar com as pessoas que foram eleitas. Temos que convencer das coisas importantes para o país. Não tem que olhar o Congresso e ‘ah, o Centrão’. O Centrão é um conjunto de partidos que temos que conversar e tentar convencer das nossas propostas”, disse o presidente eleito.
E aí ele contou uma história que aconteceu quando era presidente. “Eu me lembro que eu ia viajar para o Suriname e o Luiz Eduardo Greenhalgh ia disputar a presidência da Câmara contra o Severino Cavalcante. Eu achei que o Eduardo ia ganhar. Não ganhou. Eu levanto de manhã e tem um papelzinho debaixo da porta dizendo: o Severino ganhou”, contou.
“Ao invés de ficar com raiva”, prosseguiu Lula, “liguei para o Severino e disse, eu estou chegando ao Brasil, quero tomar um café e conversar sobre aquilo que o governo tem interesse de colocar em discussão na Câmara. Quem ganhar a eleição vai ser presidente e é com ele que eu e o Alckmin vamos ter que conversar”, arrematou.
“Não cabe ao presidente da República interferir em quem será o presidente do Senado ou da Câmara. Ou seja, quem vai decidir quem será o presidente das Casas serão senadores e deputados. O papel do presidente da República não é gostar ou não de presidente, é conversar com quem dirija a instituição”, afirmou Lula.
OS BRASILEIROS VÃO RECUPERAR A CIDADANIA
“Eu vou tentar convencer todas as pessoas de todas as propostas que enviarmos para serem discutidas no Congresso Nacional. As pessoas na hora de votar não deverão pensar em quem mandou a proposta e sim que serão os beneficiados. Eu quero fazer com que o povo brasileiro recupere a sua cidadania. Nós precisamos recuperar o Farmácia Popular, nós precisamos recuperar o PNAE, nós precisamos recuperar o Minha Casa Minha Vida, isso é urgente”, disse Lula.
“Nós temos mais de 13 mil obras que estão paradas, que têm 80%, 50%. Então, vejam, eu vou tomar posse dia 1º, se depender de mim, dia 2 a gente estará colocando obras para funcionar porque nós precisamos gerar emprego, distribuir e fazer esse país voltar a crescer”, acrescentou o presidente eleito.
Ele explicou o motivo de ter ido a Brasília. “Eu precisava vir a Brasília conversar com as instituições. Estou viajando segunda-feira para o Egito, vou ficar fora até o dia 19 e, por isso, eu não tinha outra oportunidade. Viajo na segunda, temos reunião com a bancada dos partidos que nos apoiaram amanhã, e depois eu vou para São Paulo preparar a viagem. Eu não estou ainda pensando em nomes para o ministério”, completou o presidente.