
Com a ‘miragem republicana’ se desvanecendo na Geórgia – a vantagem inicial de Trump sumindo e caindo para 1.800 votos e com os votos vindo de Atlanta e vizinhanças, terra de Martin Luther King -, e na Pensilvânia, onde o aguarda, nas urnas de Filadélfia, um caminhão de votos para o opositor Joe Biden, o desespero começa a bater nas hostes trumpistas e o presidente bilionário foi à tevê na quinta-feira (5) repetir que há “fraude” e prometer perseverar no tapetão.
Quando Trump começou a colocar em dúvida a lisura da eleição sem apresentar qualquer prova, grandes emissoras, como CBS, ABC e NBC, tiraram seu discurso do ar.
“Se contarem os votos legais, eu ganho facilmente, se contarem os votos ilegais, eles tentam mudar o resultado”, insistiu Trump, como se os votos pelo correio e os votos antecipados não fossem tradicionais nos EUA, ainda mais em tempo de pandemia.
Anteriormente, Trump já andara ‘exigindo’ que só valessem os votos contados até à madrugada de terça-feira (dia da eleição presencial) para quarta-feira.
O novo mantra de Trump é que os democratas “estão tentando roubar as eleições”, o que disse estar ocorrendo nas “zonas corruptas” de Detroit, no Michigan, ou na Pensilvânia.
Além de mentiroso e sem provas, como assinalou um comentarista da televisão o discurso de Trump acabava se tornando “perigoso”. Na prática, insufla a base trumpista para partir para o desvario, o que foi ensaiado naquele cerco ao centro de processamento da eleição no Arizona, com a presença de gente armada.
Mais cedo, o candidato democrata, Joe Biden, pediu calma aos norte-americanos em um breve pronunciamento em Wilmington, onde mora, no Estado de Delaware. Ele se disse confiante de que a apuração irá confirmar a vitória dos democratas e reiterou que “cada voto precisa ser contado”.
Na Geórgia, a diferença entre Trump e Biden está em 0,5% e caindo, valendo 16 votos no colégio eleitoral. Na Pensilvânia, de 618 mil votos, minguou para 20.000, e ainda tem muito voto de eleitor negro para contar.
A apuração também está evoluindo favoravelmente a Biden em Nevada e no Arizona, que a Associated Press já atribuíra ao democrata na véspera, ampliando para 264 o total de votos acumulados no colégio eleitoral. Na quarta-feira, Biden havia virado Wisconsin e Michigan, abrindo o caminho para a vitória no Colégio Eleitoral.
Antes do discurso da “fraude”, Trump havia corrido ao Twitter para exigir “parem a contagem”, enquanto seus advogados recebiam a ordem de apostar tudo no tapetão nos cinco Estados ainda em apuração.
Em outra postagem, Trump afirmou que o apoio a ele cresceu BIG, “mas eles estão tentando ROUBAR as eleições. Nunca vamos permitir que eles façam isso. Os votos não podem ser lançados após o encerramento das urnas!” O que virou uma tempestade no Trumpworld digital, com os mínions freneticamente replicando #VotoFraude e #VotoRoubado.
O alvoroço trumpista não encontrou eco nos tribunais. Juízes da Geórgia e Michigan disseram não ao ‘pare a contagem’ pedido por Trump.
No Michigan, ao recusar a liminar, a juíza Cynthia Stephens mostrou-se altamente cética durante a audiência virtual na quinta-feira, citando a falta de provas e se a campanha de Trump processou a parte certa (o Secretário de Estado Benson).
“O que eu tenho é, na melhor das hipóteses, uma declaração de boatos que trata de um dano que seria significativo”, disse a juíza. “Nós não temos uma declaração que seja conhecimento de primeira mão.”
A advogada que representa o Estado, Heather Meingast, esclareceu que a contagem já havia sido concluída e, portanto, não cabia o pedido de suspensão da contagem.
Na Geórgia, um tribunal estadual rejeitou uma ação movida por republicanos da Geórgia para impedir a “contagem ilegal de votos recebidos após a eleição” em Savannah. A ação da campanha de Trump alegava que um fiscal do partido teria visto “cédulas de correio não-processadas misturadas com cédulas de correio já aprovadas para tabulação” – citaram 53 cédulas, sem apresentar provas.
Em Nevada, a campanha de Trump também pediu a suspensão da contagem, alegando, sem provar nada, que “mortos votaram” e que havia votos de gente que se mudou “por causa da pandemia”.
A única vitória parcial no terreno jurídico obtida pelos advogados de Trump foi a ordem de um juiz para que fiscais republicanos pudessem ficar mais próximos no monitoramento da contagem na Pensilvânia. No Wisconsin, obtiveram a recontagem de votos, o que é assegurado pela lei eleitoral do Estado, quando a diferença é de no máximo 1%.
Na verdade, os próprios republicanos ajudaram a montar a confusão com os votos pelo correio. Trump nomeou um novo diretor dos Correios para sabotar a eleição e a entrega de votos e inclusive um juiz federal, no dia da eleição, exigiu providências para garantir a entrega a tempo dos votos.
Na Pensilvânia, cujo legislativo é controlado pelos republicanos, mas o governador é democrata, foi a bancada de Trump que recusou lei para iniciar a contagem de votos pelo correio mais cedo, ao contrário do que fizeram na Flórida.
Sob a pandemia, o voto pelo correio e antecipado foi adotado em massa pelos democratas, enquanto o eleitorado republicano foi em pessoa votar no dia 3. Foi isso que deu margem à ‘miragem vermelha’ – a cor republicana.
À medida que os votos pelo correio e por antecipação, que ficaram por último, foram contados, a vantagem de Trump murchou. Para vencer no Colégio Eleitoral, Trump precisa dos 20 votos da Pensilvânia, não há outro caminho.
As autoridades da Pensilvânia estão dizendo que a finalização da contagem de votos não passa de sexta-feira. Em Nevada, autoridades eleitorais afirmaram que os votos do condado em que fica Las Vegas devem ser contados até o final de semana, mas que poderão ficar votos por contar até 12 de novembro. Está chegando a hora.