“Temos uma previsão fantástica de recebimento de vacinas”, disse o ministro aos governadores, sem apontar nada de concreto em termos de aquisição ou mesmo de aprovação das novas vacinas
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, pressionado por governadores nesta quarta-feira (17) a apresentar ao menos um cronograma de distribuição de vacinas, já que vários estados estão interrompendo a imunização de suas populações por falta do produto, manteve sua total falta de compromisso com a realidade, como fez no caso do oxigênio de Manaus. O ministro repetiu que está tudo sob controle em sua “logística” das vacinas.
O fato de vários estados estarem interronpendo a vacinação, entre eles o Rio de Janeiro e até o Amazonas, parece não preocupar nem um pouco o ministro. “Temos uma previsão fantástica de recebimento de vacinas”, disse Pazuello aos governadores, sem apontar nada de concreto em termos de aquisição ou mesmo de aprovação de novas vacinas. Ele incluiu no cronograma apresentado as vacinas da AstraZeneca, a CoronaVac, Covaxin, Sputnik V, Moderna e Pfizer. Dessas, só as duas primeiras estão aprovadas. Várias delas não garantem o fornecimento a tempo.
CRONOGRAMA DIFERENTE DO ENVIADO GEROU SUSPETIAS
Pazuello apontou que o Brasil receberia cerca de 454,9 milhões de doses de vacinas em 2021. A conta do ministro gerou suspeitas entre os governadores, segundo pessoas presentes na reunião. Primeiro, porque uma versão diferente do cronograma foi enviada pela manhã pelo ministério aos estados, ou seja, Pazuello não demonstra nenhum compromisso com a transparência e nem com a verdade. É tudo uma encenação para tentar disfarçar a sabotagem aberta do governo Bolsonaro à vacinação da população brasileira.
O Brasil foi o 56º país a iniciar a vacinação contra a Covid-19 e, até agora, vacinou apenas 2,5% de sua população. Nesse ritmo, avaliam especialistas, levaríamos quatro anos para completar a imunização da população. Com esta morosidade, não conseguiremos interromper a transmissão do coronavírus, dizem eles.
A balbúrdia aprontada por Bolsonaro em sua campanha anti-vacina provocou um grande atraso na contratação das vacinas pelo governo. Hoje, objetivamente, o país conta com a CoronaVac, que está em produção pelo Instituto Butantan, e com poucas doses da vacina da AstraZeneca. Não há nenhuma outra garantida.
CAMPANHA BOLSONARISTA ANTI-VACINA
A campanha de Bolsonaro contra as vacinas é evidente e está mostrando agora os seus resultados. Ele faz de tudo para atrapalhar a vacinação. Seu preposto na direção da Anvisa, por exemplo, está pedindo ao “chefe” que vete a Medida Provisória, aprovada no Senado para agilizar a liberação emergencial de vacinas pelo órgão.
Só para se ter uma ideia do nível em que está a sabotagem do governo Bolsonaro ao processo de aquisição de vacinas, a Anvisa marcou uma visita de inspeção nas fábricas da Sputnik V para março. Isso com mais de mil pessoas morrendo por dia vítimas do coronavírus. Já passam de 240 mil as famílias que perderam os seus entes queridos pela Covid-19.
A União Química, uma empresa nacional, já colocou a disposição, de imediato, 10 milhões de doses e mais 8 milhões por mês, mas o governo segue criando obstáculos à sua aquisição. Já faz quase um mês que a empresa entrou com o pedido de liberação emergencial para uso da vacina desenvolvida pelo renomado Instituto Gamaleia, da Rússia, mas até agora órgão não se dignou a se pronunciar a respeito. A Sputnik V tem mais de 90% de eficácia e segurança e já está em uso em dezenas de países.
Em sua campanha anti-vacina, Bolsonaro não se cansa de repetir que quem quiser que se vacine, mas que ele não fará isso. Espalhou irresponsavelmente que as vacinas poderiam provocar doenças, deformações e até mortes. Até mesmo a vacinação de sua mãe, de 93 anos, ele atrapalhou. Ela acabou sendo vacinada por pressão de um outro filho. Se dependesse só de Bolsonaro, ela não estaria imunizada.
NO LUGAR DE VACINAS, CLOROQUINA
Enquanto o país está ansioso para receber as vacinas, tanto o ministro quanto seu chefe, Bolsonaro, estavam se empenhando na iníqua e absurda distribuição da cloroquina em todo o país.
Agora, diante da tragédia, que sempre foi negada pelo governo, Pazuello foi obrigado a reconhecer, na reunião com os governadores, que “há forte onda de internações pela Covid”. “Essa realidade vai fazer com que a gente precise se reorganizar. Precisamos de recursos extraorçamentários”, disse ele aos governadores. A fala revela o que todos já sabem, que Pazuello não tem a menor condição e nem está preparado para ocupar o cargo de ministro da Saúde.
Ele não garantiu as vacinas a tempo, como também seringas e agulhas, além disso, não assegurou oxigênio para Manaus, nem leitos de UTI (São Paulo e Maranhão entraram no STF cobrando os recursos para leitos de UTI) e, agora, ele diz que precisa se reorganizar e anuncia que faltam recursos. Diz isso no mesmo momento em que vem a público que o governo usou apenas entre 9 e 11% da verba destinada à compra de vacinas. É a repetição da logística do desastre de Manaus.
GOVERNADORES VÃO EXIGIR MAIS IMUNIZANTES
Os governadores cobraram mais agilidade do ministro para compra das vacinas. “Não basta um calendário, é preciso, urgente, ampliar a quantidade de doses de vacina”, disse a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT). O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse que agora os govenadores vão cobrar porque antes não tinha nem o que cobrar. Segundo ele, o governo não estava nem sequer se manifestando a respeito do calendário.
O governador do Piauí, Wellington Dias, presidente do fórum de governadores, foi na mesma direção. Disse que vai pressionar o governo para agilizar a vacinação. “Se, nestes quatro meses, não for cumprido o cronograma de vacinação da população brasileira, serão mais 120 mil mortos no país”, alertou o governador piauiense.
Cronograma de aquisição de vacinas apresentado por Pazuello
Janeiro: 10.700.000 doses
- 2 milhões da vacina de Oxford / AstraZeneca fabricada na Índia
- 8,7 milhões da Coronavac
Fevereiro: 11.305.000 doses
- 2 milhões da vacina de Oxford / AstraZeneca fabricada na Índia
- 9.305 milhões da Sinovac
Março: 46.033.200 doses
- 4 milhões da vacina de Oxford / AstraZeneca fabricada na Índia
- 12,9 milhões da vacina de Oxford / AstraZeneca envasada na Fiocruz
- 2,66 milhões da vacina de Oxford / AstraZeneca comprada via Covax Facility
- 18,06 milhões da Sinovac
- 400 mil doses de Sputnik V
- 8 milhões de doses da Covaxin
Abril: 57.262.258
- 4 milhões da vacina de Oxford / AstraZeneca fabricada na Índia
- 27,3 milhões da vacina de Oxford / AstraZeneca envasada na Fiocruz
- 15,96 milhões da Sinovac
- 2 milhões da Sputnik V
- 8 milhões da Covaxin
Maio: 46.232.258
- 28,6 milhões da vacina de Oxford / AstraZeneca envasada na Fiocruz
- 6,03 milhões da Sinovac
- 7,6 milhões da Sputnik V
- 4 milhões da Covaxin
Junho: 42.636.858
- 28,6 milhões da vacina de Oxford / AstraZeneca envasada na Fiocruz
- 8,04 milhões da vacina de Oxford / AstraZeneca comprada via Covax Facility
- 6,03 milhões da Sinovac
Julho: 16.548.387
- 3 milhões da vacina de Oxford / AstraZeneca envasada na Fiocruz
- 13,54 milhões da Sinovac