“Cid avisou que iria para lá para restaurar a ordem em paz e desarmado. Tentou tudo. Antes daquilo, ele levou um soco no rosto. Estava com um megafone, não estava com arma. Ele como senador tinha o direito de liberar uma via pública onde uma minoria ínfima impedia que a maioria fosse trabalhar. Não se enfrenta o fascismo com flores”, afirmou o ex-governador
O ex-governador do Ceará, Ciro Gomes (PDT), afirmou em entrevista na quinta-feira (20), após visita ao hospital onde está internado o seu irmão, o senador Cid Gomes, que levou dois tiros no dia anterior ao tentar retirar uma grade que impedia a entrada de pessoas e de policiais militares num quartel. Nele se mantinham amotinados elementos encapuzados que se infiltraram no movimento salarial da PM e aterrorizaram a vida da cidade de Sobral, no interior do estado.
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NÃO É UM FATO ISOLADO
“Isso que aconteceu aqui não está isolado do que está acontecendo no Brasil. Nós estamos num momento de destruição do estado de direito democrático, liderada por um presidente boçal, canalha e de uma família de canalhas, porque se algum policial atirou, apertou o gatilho, ele não faria isso não fosse esse clima de absoluto desrespeito às regras da convivência democrática, que é claramente estimulado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, e pela sua família de canalhas”, denunciou Ciro Gomes.
“Como ex-governador, eu te digo que governar não é um ato de prazer, nem um ato de bondade. Governar é um ato de responsabilidade política e há que ser exercitado em conformidade com a lei. E a lei diz com muita clareza, sem nenhuma dubiedade, que cidadãos armados não podem se amotinar e usar o direito de ir e vir da população, e fazer ameaças que os bandidos, que o crime organizado e as facções criminosas fazem sobre a vida do nosso povo, como argumento para qualquer que seja a causa. E se a causa é uma justa súplica por melhorias de salários, este, que é um dos mais pobres estados do Brasil, ofereceu, numa ampla negociação, um salário mínimo para um policial jovem que começa a carreira de cinco salários mínimos. Isso é muito pouco, mas num estado pobre como o Ceará, é mais do que se paga a um professor”, acrescentou.
ACORDO SALARIAL TINHA SIDO ACEITO
“E a grande questão que se coloca é se é justo, depois de uma negociação que chega a esse patamar, uma minoria impõe pela violência, de máscara no rosto, como todos os documentos provam, máscaras no rosto, mandando uma cidade inteira, que é a minha cidade, olhe que o Ceará tem 184 municípios, mas foi lá em Sobral que as coisas ocorreram, para me puxar como provocação, mandando o comércio fechar as portas, estimulando bandidos a tomarem viaturas da polícia no meio da rua e descerem os policiais na ponta de armas. Gente sem uniforme. Um verdadeiro motim de canalhas, de bandidos. Se eu fosse governador, não tenham dúvida, estariam todos demitidos até que a gente apurasse depois algum erro que acontecesse. Estariam demitidos hoje todos eles”, prosseguiu Ciro.
Ciro falou sobre o uso da retroescavadeira. “Vamos nos colocar no lugar dele. Sua cidade sofrendo. Ele não ficou no gabinete, não ficou fazendo mensagens de twitter. O povo faz um apelo por providências. As autoridades impotentes estavam e impotentes continuaram. O Tribunal de Justiça do Ceará determinou a ilegalidade do movimento, o MP determinou a ilegalidade, as associações dos policiais militares assinaram acordo, o governador mandou para a Assembleia, que mediou o acordo, e acertou o acordo. Vem uma minoria ínfima, sem farda, mascarada, de arma em punho, mandando o comércio fechar. Ele avisou que iria para lá para restaurar a ordem em paz e desarmado. Tentou tudo. Antes daquilo, nós temos a filmagem, ele levou um soco no rosto. Estava com um megafone, não estava com arma. Ele como senador tinha o direito de liberar uma via pública onde uma minoria ínfima impedia que a maioria fosse trabalhar”, afirmou Ciro.
VAMOS ENFRENTAR COM O QUE FOR NECESSÁRIO
“Se os elegantes da política brasileira, inclusive de uma esquerda bandida, que consideram que ele agiu com pouca elegância, eu quero saber se eles acham que fascismo se enfrenta com flores. Nós aqui vamos enfrentar com as armas que forem necessárias”, salientou o ex-governador.
“Nós vamos resistir. Só por cima do nosso cadáver as milícias dominarão o Ceará. O Camilo fez tudo o que podia e o que não podia pela polícia do Ceará. Estou dizendo até, o que não podia. Porque um policial em início de carreira, um soldado nesse Estado pobre como o nosso, volto a dizer, a vida é muito dura para todo mundo, mas um soldado de polícia começar a vida, com vinte e poucos anos, ganhando cinco salários mínimos, enquanto um professor não ganha isso, é uma inversão de valores absolutamente grave. E depois que aceitaram a negociação, tudo estava resolvido, uma minoria, por interesses claramente vinculados à politicagem partidária, fazer o que estão fazendo, o povo do Ceará de refém, balear um senador no peito. Foram dois tiros no coração do Cid. Ele não morreu porque Deus é grande”, disse.
“Eu fiquei muito chocado quando vi o vídeo e lamentei muito não estar eu lá. O meu irmão estava na UTI e este canalha (Eduardo Bolsonaro), filho do canalha mor que é o senhor Jair Messias Bolsonaro, presidente da República sofrida do Brasil, botou no twitter que ele tinha sido imprudente e que tinha levado um tiro de bala de borracha. Eu imediatamente reagi como irmão. Reafirmo cada palavra e quero acrescentar um pouco mais. Eu disse a ele que só se matarem a gente é que os canalhas da família dele, principalmente o pai dele, o que fizeram no Rio de Janeiro, vão fazer aqui. Portanto, é preciso nos matar para isso acontecer”, enfatizou Ciro Gomes.
ESTÃO ENTREGANDO O BRASIL ÀS MILÍCIAS
“Só tem uma saída depois que esse quadro de anarquia e anomia se instala, é a repressão. Não há outra forma. Não tenho nenhum prazer em dizer isso. Sou uma pessoa que se dedica a vida inteira a lutar pela melhoria de vida dos trabalhadores. Não seria eu que iria desmerecer uma luta seja de quem for por melhoria de salário, porque a vida é dura para todo mundo, mas não se trata mais disso. Nós temos uma pessoa, ex-governador do Estado, um cidadão que, tocado pela notícia que uma cidade inteira, como nós vimos, estava sob terror absoluto, se dirige para lá porque não é um homem de gabinete, não é desses políticos elegantes que infestam a vida brasileira e que estão entregando o Brasil à milícia”, observou o político cearense.
Ele chamou a atenção para a intromissão de bolsonaristas de outros Estados no movimento. “Nada mais do que ontem uma deputada federal ligada à milícia do Rio de Janeiro estava aqui no Ceará acompanhando o canalha daqui, que é o miliciano daqui. Não é possível que a imprensa não dê destaque a isso. Uma deputada federal, major da PM do Rio de Janeiro, vinculada claramente ao crime organizado do Rio, desde ontem aqui despudoradamente, no Ceará. É isso que está acontecendo. Estão querendo trazer o Rio de Janeiro para cá, com apoio do senhor Jair Messias Bolsonaro, que é o homem que está implantando no Brasil uma República de canalhas”, denunciou.
Ciro agradeceu aos profissionais de saúde que atenderam seu irmão. “Quero agradecer à extraordinária equipe de profissionais de saúde cearenses que tomaram conta dele, salvaram sua vida e a todas as orações e aos amigos que desejaram que ele pudesse passar por este episódio. Ele nasceu de novo. Levou dois tiros de bala ponto 40. Brincando, nós temos osso duro e uma das balas caiu fora, não penetrou o osso e outra bateu numa costela, resvalou na costela sem ferir nenhum órgão mais grave, e foi se alojar na base do pulmão. A bala está ali alojada, mas os médicos estão avaliando a probabilidade de não retirá-la porque ela está estável sem oferecer neste momento nenhum risco”, explicou.
ESPERAMOS QUE SE CUMPRA A LEI
“Como a bala ainda está alojada na base do pulmão, ele está com um dreno, tomando antibióticos para prevenir alguma eventual infecção. Eles estão observando se a bala está estável, se ela não tem perigo de migrar e causar alguma lesão que possa eventualmente oferecer risco. Está em observação, está conversando. Está lúcido e sereno”, disse.
Sobre os riscos que eles estão correndo, Ciro foi incisivo. “Nós somos homens públicos, nós sabemos das ameaças à nossa fidelidade à causa do nosso povo e o que nós esperamos é que a lei se cumpra. Aqueles que eventualmente assumiram o risco de matar uma pessoa, seja ela quem for, porque não aconteceu só com ele. O chefe da Guarda Municipal levou um tiro na mão e no pulso. Um verdadeiro ato de banditismo explícito que nós esperamos que a lei e os poderes do estado sejam capazes de elucidar e lavá-los às devidas punições”, completou o ex-governador.
Nesse estado democrático de direito que o Ciro fala e tanto defende, tem como regra alguém tomar a justiça pelas próprias mãos, usurpar das prerrogativas funcionais do judiciário, e atentar contra a vida de pessoas com maquinário agricola?
Quer dizer que você acha que o criminoso é o senador Cid Gomes, não aqueles bandidos, aqueles covardes que atiraram contra ele e quase o assassinaram? Esse é o “Estado Democrático de Direito” dos bolsonaristas? É claro que é.