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“Escola Sem Partido é estratégia de governos autoritários”, afirma Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, comparando o projeto com a campanha “Escola Neutra” dos neonazistas alemães.
Cientista político e com atuação política marcada na defesa da educação, Daniel foi candidato ao Senado pelo PSOL nas eleições de outubro, nas quais ele obteve 440 mil votos. Para ele, o projeto têm somente pontos negativos, a começar pelo fim da confiança na relação entre o professor e o estudante.
“O Escola Sem Partido estabelece em cada sala de aula e em cada momento do processo pedagógico um tribunal ideológico e moral, que vai ter como juiz o estudante. Ele não pode ter uma relação de desconfiança e oposição ao professor, traria muita estabilidade para o ambiente escolar”, disse em entrevista à Hora do Povo.
Para Daniel, a estratégia que os bolsonaristas têm utilizado se assemelha de outros exemplos pelo mundo. “Essa estratégia está no Brasil, mas tá no Peru, na Argentina, na Bolívia. E ela está sendo liderada na Europa especialmente pelo partido Alternativa para a Alemanha, que é de ideologia neonazista”.
Na Alemanha, este partido tem feito uma campanha para que alunos dedurem professores “doutrinadores”. No Brasil, a deputada estadual eleita pelo PSL, de Bolsonaro, em Santa Catarina, incentivou em suas redes sociais que estudantes gravassem seus professores e denunciasse-os por “manifestação politico-partidárias ou ideológicas” durante a aula.
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A diferença é que estão tentando colocar essa perseguição ao professor dentro da legalidade, estão tentando aprovar no parlamento”, pontuou.
“Eles se utilizam do pânico moral e ideológico para tentar articular uma militância de ultra direita. Com base na distorção da realidade, você faz com que as pessoas tenham medo de políticas públicas e de posicionamentos políticos, esse é o pânico moral. O pânico ideológico e essa suposta doutrinação de esquerda que eles falam”.
A partir desse pânico, “o projeto estimula a cultura de ócio, que é contraproducente para qualquer relação social como a educação. O prejuízo imediato vai ser uma queda abrupta da qualidade da educação. Se ela não vai bem, vai ficar pior, já que vai ser um ambiente instável”, continuou.
“O Escola Sem Partido quer uma escola sem educação, e escola sem educação não existe. O estudante não vai ter na escola o que se deve ter na escola, como a preparação dele como indivíduo, a preparação para o exercício da cidadania e para a vida produtiva, para o mundo do trabalho”.
“Quando enfrentamos o Escola Sem Partido, estamos enfrentando a ideia de que a escola não deve existir e de que o professor é inimigo. É uma estratégia de um governo autoritário. E esse é um limite que não pode ser transpassado”, concluiu.
PEDRO BIANCO