
Aos empresários, o ex-presidente criticou Bolsonaro por mentir à população e atacar a Carta pela democracia: “Talvez a carta que Bolsonaro gostaria de ter é a escrita por milicianos, e não por empresários, intelectuais e sindicalistas defendendo o regime democrático”
O ex-presidente Lula participou, na manhã desta terça-feira (9), da sabatina realizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e defendeu que a reindustrialização do Brasil é um dos pilares para a saída da crise e o desenvolvimento econômico.
“Nosso programa de governo passa por entender que este país precisa se reindustrializar”, disse aos empresários.
O ex-presidente usou a sabatina para reforçar seu apoio à democracia e denunciar as ameaças golpistas de Jair Bolsonaro.
“Como a gente pode viver em um país em que o presidente conta sete mentiras todo dia – e com a maior desfaçatez – e que chama uma carta em defesa da democracia de ‘cartinha’?”.
“Talvez a carta que Bolsonaro gostaria de ter é a escrita por milicianos, e não por empresários, intelectuais e sindicalistas defendendo o regime democrático e uma urna eletrônica que está provado que é um dos sistemas mais perfeitos que existem no mundo”, apontou Lula.
A Fiesp elaborou um manifesto “Em Defesa da Democracia e da Justiça”, que também foi assinado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e outras entidades representativas. O documento será lido no dia 11 de agosto em um ato na Faculdade de Direito da USP.
Na sabatina, Lula criticou o pacote eleitoreiro de benefícios que Jair Bolsonaro está usando para tentar ganhar votos. Estamos vendo “um dos adversários fazendo a maior distribuição de dinheiro que uma campanha política já viu”, disse.
Nunca no Brasil se viu “alguém que faltando 57 dias para as eleições resolva fazer uma distribuição de R$ 50 e poucos bilhões em benefícios que só duram até dezembro”.
Para ele, o país passa por uma “crise quase sem precedente, porque é uma crise de credibilidade, de governabilidade, de falta de sintonia entre o Estado, através do governo, com as instituições”.

O Brasil está, hoje, “um pouco pior do que em 2003. Se a gente avaliar os números, vamos perceber que a situação do Brasil está muito difícil, com um agravante: a falta de credibilidade internacional, que é um dos entraves para ser uma referência”.
“Não é possível que o Brasil esteja nesse instante sem conversar com ninguém. Nem o presidente é convidado para ir a lugar nenhum do mundo, nem ninguém quer vir aqui”, disse.
O país passa por uma “crise quase sem precedente, porque é uma crise de credibilidade, de governabilidade, de falta de sintonia entre o Estado, através do governo, com as instituições”
O ex-governador de São Paulo e candidato a vice na chapa de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), elogiou a Fiesp “pela defesa da democracia. As pessoas passam; as instituições ficam”, comentou.
Ele também defendeu diálogo entre governo e setor produtivo, argumentando que “quem ouvir mais vai errar menos”.
De acordo com Alckmin, o próximo governo, caso ele e Lula sejam eleitos, terá “foco na questão do emprego e renda”.
INDUSTRIALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
O ex-presidente Lula afirmou “esse é o momento” do Brasil “se apresentar ao mundo com a grandeza que ele tem”, investindo em indústria, inovação e tecnologia e fortalecendo seu mercado interno.
Segundo Lula, o Bolsa Família “era apenas uma vírgula” na política de desenvolvimento econômico de seu governo. “O grande programa foi o aumento do salário mínimo, aumentar de acordo com o crescimento do PIB”.
“Nosso programa de governo passa por entender que este país precisa se reindustrializar”, continuou. Ele apontou que o país deve, mais uma vez, buscar “colocar o povo no orçamento da União” e fortalecer o mercado interno.
O ex-ministro Aloizio Mercadante, coordenador do programa de governo de Lula e Alckmin, fez uma exposição sobre o que está sendo planejado para que o Brasil se reindustrialize.
“No nosso programa de governo, uma das preocupações centrais é o papel da indústria de transformação. É o setor que mais efeito multiplicador tem na economia, é onde você gera mais emprego qualificado, onde você impulsiona a inovação, onde você muda a qualidade do desenvolvimento”, disse.
Mercadante avalia que o Brasil deixou de ser um país baseado na exportação de matérias-primas devido à política de industrialização de Getúlio, que “se deu em um momento de crise internacional. Getúlio trouxe o impulso industrializante com a Vale, com a Companhia Siderúrgica Nacional, com a Fábrica Nacional de Motores, com a Fábrica Nacional de Vagões”.
Porém, “nós perdemos essa bússola e esse rumo na história recente”.
A reindustrialização “estará no topo de nossas políticas públicas. Sem reindustrialização, esse país não será desenvolvido, não será moderno, não distribuirá renda e não terá lugar entre as nações mais desenvolvidas do planeta”.
“Para isso, nós precisamos de Estado. A ideia neoliberal de Estado mínimo não serve a essa casa”, afirmou.
Mercadante comentou que o Brasil pode “liderar a transição energética” para fontes de energia limpa sem deixar de se industrializar. Também avaliou que “nós não temos chances no mundo digital se não dominarmos os microprocessadores. Nós construímos a Ceitec para aprender a fazer”.
O ex-ministro ainda enfatizou que o juro alto “inviabiliza o processo de industrialização”, pois torna ainda mais desigual a competição com países desenvolvidos.
“Precisamos olhar o chão da fábrica e fazer mais, melhor e mais barato”, disse Mercadante ao comentar o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no financiamento. Ele também disse que o governo Lula fará uma “reforma na reforma Trabalhista”.
FIESP E A REINDUSTRIALIZAÇÃO
O presidente da Fiesp, Josué Gomes, apresentou caminhos para a reindustrialização que são parecidos com o que foi exposto por Lula e sua equipe.
Gomes destacou o potencial do Brasil e fontes alternativas de energia e apontou barreiras financeiras para a competição com países desenvolvidos, especialmente de crédito.
“Ao nos depararmos com condições creditícias tão desiguais em relação aos países com os quais competimos internacionalmente, crescemos menos do que poderíamos, não atingimos escalas de produção adequada e regredimos em produtividade”, comentou.
“Nações bem-sucedidas foram construídas com produção, com obras, com investimentos, com educação de qualidade e com fartura de empregos criados graças ao desenvolvimento”, acrescentou.
Para ele, “não há razões para estarmos com a economia exibindo baixo desenvolvimento há anos, muito atrás da taxa de crescimento médio das outras economias emergentes”.