“Estou fazendo o que é certo”, diz israelense preso por se negar a participar do genocídio em Gaza

Tal Mitnik recebe apoio de jovens israelenses em ato diante da base de Tel Hashomer onde seria preso por sua recusa em servir neste trágico momento (Linda Dayan/Haaretz)

“O que o governo quer é aprofundar a ocupação e desautorizar qualquer voz discordante”, afirmou Tal Mitnick, de 18 anos, ao começar a cumprir sentença de 30 dias em prisão militar israelense por se recusar a se alistar em meio ao massacre perpetrado pelas forças de Israel na Faixa de Gaza

“Estou aqui, de pé, diante da base de Tel Hashomer [próxima a Tel Aviv] e anunciando minha recusa ao alistamento, minha recusa em tomar parte na guerra em Gaza. Massacre não resolve massacre”, declarou o jovem Tal Mitnik ao se despedir de apoiadores e de sua mãe que o acompanharam e realizaram um ato de despedida e repúdio ao genocídio em Gaza antes dele entrar para a base de onde seria enviado para a cadeia para cumprir uma sentença inicial de 30 dias, que pode se estender caso ele se mantenha na posição de se negar a servir às forças de ocupação israelenses.  

Ele abraçou os demais e sua mãe e ouviu de um dos presentes com lágrimas nos olhos: “Não é um tempo fácil. Meu amigo está indo para a prisão”.

“Estou um tanto estressado”, disse Mitnik na noite anterior, 26, ao jornal israelense Haaretz, “mas eu sei que conseguirei enfrentar e sei que estou fazendo o que é o certo”.

Mitnik está cumprindo com um compromisso assumido em setembro, quando estava no auge a revolta israelense contra a supressão do Judiciário por Netanyahu, uma carta foi assinada por centenas de jovens israelenses intitulada “Jovens contra a ditadura”, quando ele afirmara: “Nós adolescentes às vésperas do alistamento dizemos não à ditadura – tanto em Israel quanto nos territórios palestinos ocupados – e anunciamos que não serviremos até que a democracia seja garantida a todos que vivem sob regime israelense”.

À época, Mitnik, um dos organizadores da carta, deixou claro sua visão sobre o momento dramático de Israel sob o tacão nazifascista de Netanyahu e dos colonos Smotrich e Gvir: “Queremos mostrar que há muita gente que não servirá a esta ditadura que já se estende por dezenas na Cisjordânia palestina”.

Aí veio o ataque do Hamás em 7 de outubro e o número de apoiadores à recusa diminuiu, mas ainda persiste.

Mitnik manteve a decisão e acrescenta que “desde o início da guerra, minha decisão se fortaleceu. O ataque de 7 de outubro levou a dor a todos os lares de Israel, mas também demonstra que não é possível realizar uma ocupação e manter milhões sobre cerco a 12 quilômetros de sua casa [referindo-se ao cerco a Gaza] e não sentir as consequências disso”.

Mas a decisão de Mitnik, como ele mesmo admite, não teve um apoio amplo como ele gostaria. “Desde o dia 7 de outubro, houve um enorme crescimento do espírito macarthista contra palestinos israelenses e também contra judeus israelenses que se declararam em solidariedade com os civis em Gaza e contra a guerra. Pessoas foram demitidas de seus empregos, ou até pior, têm sido presas simplesmente por publicarem suas opiniões via internet. Este governo está basicamente usando esta guerra para levar adiante o golpe que já estava buscando perpetrar antes, para se fortalecer, para aprofundar a ocupação e proibir qualquer tipo de dissidência”.

Os manifestantes que acompanharam Mitnik trouxeram cartazes e tambores para a frente da base militar e conclamaram os jovens que chegavam para se alistar a seguirem o exemplo e também se recusarem a servir.

“Essa guerra não tem vitoriosos”, “Você também pode se recusar” e “Em Gaza e Sderot (cidade israelense próxima à Faixa de Gaza] as crianças querem viver”.

Os jovens manifestantes proclamavam: “Nem como secretária, nem como piloto, não vamos para o exército!” e “Soldado, atenção, recuse-se ao massacre!” e ainda: “Libertem os reféns, libertem os prisioneiros palestinos”.

https://twitter.com/i/status/1739633100034809981

Alguns jovens que tinham acabado de se alistar ameaçaram agredir os manifestantes, mas foram repelidos aos brados de “Fim à guerra”, entoados em hebraico e árabe.

Para Mitnik, inspirar outros a seguirem seu exemplo vale o sacrifício de parar em uma prisão militar. “Se uma pessoa seguir meu ato e decidir não se juntar ao exército por razões políticas e humanitárias eu ficarei mais otimista”.

Também este ano, antes do ataque do Hamás, Yuval Dag esteve preso por 64 dias por se recusar a servir e se pronunciou a favor de Mitnik: “Não é fácil, mas eu consegui enfrentar e você também o fará”.

Outros dois jovens israelenses, Sofia Orr e Iddo Elam, já declararam que devem seguir os passos de Mitnik e Dag e se recusarão publicamente a servir quando chegar o momento de seus alistamentos.

Sofia Orr, espera ser convocada em fevereiro e já declara que no seu entender “não há outra opção que não a recusa”. Ela destaca que tomará esta decisão apesar de “assustadora” diante das consequências e de saber que muitos se afastarão dela devido a seu gesto.

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