Segundo os senadores, Marcos Tolentino da Silva é sócio oculto do FID Bank, que deu garantia financeira para a Precisa participar da negociação na compra de vacinas. O contrato, posteriormente cancelado, era no valor de R$ 1,6 bilhão
Na quinta-feira (12), durante a oitiva do líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), os senadores da CPI da Covid-19 chamaram à atenção para o fato de o deputado ter ido prestar depoimento à CPI acompanhado do advogado e empresário Marcos Tolentino da Silva.
O defensor é apontado na comissão como sócio oculto da empresa FID Bank, que, segundo os senadores, foi garantidora da Precisa Medicamentos na negociação de venda da vacina Covaxin ao Ministério da Saúde, por meio de oferta de “carta de fiança”.
A informação foi ressaltada pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). “Marcos Tolentino estava hoje [quinta-feira] no depoimento acompanhando o Ricardo Barros. Ele seria o proprietário oculto do FID Bank, tem toda uma vinculação com o Ricardo. O próprio Ricardo reconheceu ser um amigo próprio. É a FID Bank o garantidor da operação da Precisa, que deu a garantia financeira”, explicou.
A Precisa fechou contrato com o Ministério da Saúde para venda de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin, a R$ 1,6 bilhão, mas governo anunciou o cancelamento após suspeitas divulgadas pela CPI envolvendo a negociação.
No começo do mês, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentou requerimento de quebra de sigilos telefônico, bancário, fiscal e telemático da FID Bank, que já foi aprovado. No pedido, ele cita que o termo de contratação da Covaxin previa “a necessidade de uma garantia no valor de 5% do total contratado — R$ 80,7 milhões de R$ 1,61 bilhão destinados à compra”.
“CARTA DE FIANÇA”
Segundo documento, a Precisa entregou ao governo “carta de fiança” emitida pela FIB Bank, mas que a própria empresa “descreve o documento entregue ao ministério como ‘fiança fidejussória’”.
“O site da empresa também afirma que o serviço prestado é o de ‘garantia fidejussória’, que consiste em uma ‘garantia pessoal, seja ela de pessoa física ou jurídica’. O contrato entre Ministério da Saúde e Bharat Biotech, assinado pela Precisa Medicamentos no papel de representante, não prevê garantia do tipo pessoal”, pontua.
CONVOCAÇÃO
O senador também pediu a convocação de Marcos Tolentino, que foi aprovada. No requerimento, ele escreve que Marcos Tolentino da Silva é “apontado como sócio oculto da empresa que forneceu uma garantia irregular no negócio de compra da vacina indiana Covaxin”.
“A FIB Bank Garantias S.A. foi usada pela intermediadora do negócio da Covaxin — a Precisa Medicamentos — para oferecer uma ‘carta de fiança’ ao Ministério da Saúde”, explica no pedido.
Barros foi convidado à CPI justamente por suspeita de ter atuado na negociação da vacina Covaxin. Questionado, o deputado afirmou que os senadores “podem fazer a tese deles”. “O Tolentino é meu amigo, dono de uma rede de televisão”, disse.
Em entrevista coletiva, Barros disse que não sabia da transação envolvendo a FID Bank. “Não tinha informação sobre isso. Tolentino é meu amigo, porque é dono de rede de televisão, eu sou de radiodifusora há mais de 40 anos. Nos encontramos em inúmeros eventos do setor de radiodifusão, é meu amigo, é um bom advogado, e não vou permitir que essas ilações venham a dificultar qualquer relacionamento meu”, frisou.
NOTA À IMPRENSA
Em nota, Tolentino afirmou que é presidente da Rede Brasil, “uma das maiores redes de televisão do país, há mais de 15 anos, e que não é sócio da empresa FID Bank.”
“Diante da relação profissional e de amizade que teve com o saudoso Dr. Ederson Benetti, a quem conheceu na militância da advocacia em 1999, prestou, ao longo dos anos, serviços advocatícios ao seu filho, Sr. Ricardo Benetti, e para as empresas que ele representa, dentre as quais a B2T Prestação de Serviços Ltda., atual denominação Benetti Prestadora de Serviços, que, por sua vez, possui participação sobre a empresa Pico de Juazeiro, empresa esta que, no ano de 2015, tornou-se acionista da Companhia FIB Garantias”, está escrito na nota.
Eis a nota na íntegra:
Marcos Tolentino, advogado e Presidente, há mais de 15 anos, de uma das maiores redes de televisão do Brasil, Rede Brasil, confirma que esteve na CPI da covid, no dia 12/08/2021. O advogado não tem motivo para esconder que esteve no Senado, o que foi feito de forma pública, exatamente porque não há nada contra si em tal Comissão.
Inclusive, informa o advogado que, ao tempo dos fatos investigados, estava internado, em estado grave, no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, chegando a ser entubado em UTI. Somados o tempo de internação e tratamento em home care, ficou por 98 dias enfermo, no período de 07/02/21 a 16/05/21.
No que tange à sua suposta relação com o FIB Bank, esclarece o Presidente da Rede Brasil que não é sócio. Em verdade, diante da relação, profissional e de amizade, que teve com o saudoso Dr. Ederson Benetti, a quem conheceu na militância da advocacia em 1999, prestou, ao longo dos anos, serviços advocatícios ao seu filho, Sr. Ricardo Benetti, e para as empresas que ele representa, dentre as quais a B2T Prestação de Serviços Ltda., atual denominação Benetti Prestadora de Serviços, que, por sua vez, possui participação sobre a empresa Pico de Juazeiro, empresa esta que, no ano de 2015, tornou-se acionista da Companhia FIB Garantias.
A sociedade FIB Bank, como diversas outras no mercado, presta serviços de emissão de garantias em favor dos clientes do escritório jurídico de Marcos Tolentino, se limitando a tanto a dita relação.
No que diz respeitos aos últimos acontecimentos envolvendo o Ministério da Saúde, a Precisa Medicamentos e o Laboratório Bharat Biothec, empresa fornecedora da vacina Covaxin, que se tornaram públicos, volto a esclarecer que nada poço [sic] informar, pois não tive qualquer informação ou relação com o contrato celebrado com o Poder Público, pois não exerço qualquer ato de gestão perante o FIB Garantias e, especialmente pelo fato já informado, e que volto a repetir, pois diante do quadro agudo de Covid 19 fiquei internado desde o dia 07.02.2021 na UTI do Hospital Sírio-Libanês “em estado de coma” e portanto totalmente fora das atividades profissionais e sociais.
Creio que em situações normais, somente este fato já seria suficiente para o entendimento e compreensão de que o que a imprensa tenta imputar a mim é “impossível”, ainda assim me esforcei para poder de alguma forma ser útil ao esclarecimento dos fatos e estou certo de que o bom senso irá levar ao entendimento de todo o aqui exposto.
Feitas essas considerações, Marcos Tolentino ratifica que não tem qualquer envolvimento com os fatos investigados na Comissão Parlamentar de Inquérito e se coloca à disposição para contribuir com as investigações, no que for necessário.