Lançado pela Casa Branca, “Corolário Trump” quer a “América para os americanos” e revive a Doutrina Monroe, agora com objetivo de submeter a região para tirar Império da crise
Intitulado “Estratégia de Segurança Nacional”, o “Corolário Trump” publicado nesta sexta-feira (5) explicita como o governo dos Estados Unidos pretende ampliar controle sobre a América Latina diante das dificuldades do Império de sustentar sua hegemonia, bem como manter a Europa servil aos seus interesses.
Reforçando cada vez mais a ladainha da “América Primeiro”, esta nova estratégia busca um redirecionamento supremacista, anteriormente concentrada na Ásia, embora continue identificando a China como seu principal concorrente.
Revivendo aspectos nevrálgicos da “Doutrina Monroe” (1823), expandida pela política do “Big Stick” (Grande Porrete) de Theodore Roosevelt (1904), a guinada geopolítica tem por objetivo impedir o continente de manter relações econômicas com outros países de seu interesse. Reforça, ainda, que a “América para os americanos [do norte]” significa consolidar a hegemonia sobre quem quer que seja.
O documento assegura que Washington reajustará sua “presença militar global para lidar com ameaças urgentes em nosso Hemisfério e se afastar de cenários cuja importância relativa para a segurança nacional dos EUA diminuiu nas últimas décadas ou anos”. De forma categórica, expressa que, sob a presidência de Trump, a Casa Branca se empenhará em acabar com as migrações em massa ao redor do mundo e fazer do controle de fronteiras “o principal elemento da segurança dos EUA”.
As linhas do texto ignoram as mais de duas dezenas de ataques perpetrados – sem qualquer prova – a pescadores em lanchas no mar do Caribe sob a acusação de que estariam carregando drogas. Bombardeios covardes que deixaram pelo menos 87 pessoas mortas desde 2 de setembro, fortalecendo a figura de um EUA “xerife” do mundo.
Além do interesse evidente nas riquezas petrolíferas da Venezuela e dos recursos naturais da Colômbia – lideradas respectivamente por Nicolás Maduro e Gustavo Petro – que não se dobraram aos seus ditames e condenaram os crimes contra a autodeterminação e a soberania de suas nações, há por detrás da investida a tentativa de retomar o controle do Canal do Panamá.
Sem fazer menção aos nomes por detrás dos números, o texto assume que os EUA se empenhará em buscar acesso a recursos e localizações estratégicas na América Latina, a fim de que os países sejam “razoavelmente estáveis e bem governados para prevenir e desencorajar a migração massiva”.
“Algumas influências estrangeiras serão difíceis de reverter devido aos alinhamentos políticos entre certos governos latino-americanos e certos atores externos. No entanto, muitos governos não estão ideologicamente alinhados com essas potências, mas fazem negócios com elas por razões como custos mais baixos ou menos regulamentações”, admite Trump.
O presidente dos EUA destaca que atores externos aumentaram sua presença na América Latina por meio de projetos que podem prejudicar os interesses econômicos de Washington e representar riscos estratégicos futuros. Permitir que os países latino-americanos exerçam sua soberania e negociem com outros países de seu interesse representaria um “grave erro”, diz.
Embora seja difícil reverter a influência de outros países devido a afinidades políticas, Trump afirma que a Casa Branca tem sido bem-sucedida ao fazer sua chantagem, explicando os custos ocultos dessas ofertas externas, incluindo riscos de espionagem, vulnerabilidades de segurança cibernética e aumento da dívida. Ao mesmo tempo, propõe o aprofundamento das alianças de segurança por meio da venda de armas, compartilhamento de informações e exercícios conjuntos.
CONCEPÇÃO NAZISTA
Entre outros “pensamentos” propagandeados no corolário trumpista está o de que “a era da migração em massa deve acabar” e que “a segurança das fronteiras é a pedra angular da segurança nacional”. A “nova estratégia” propõe que os EUA deve “proteger o país contra invasões, não apenas contra a migração descontrolada, mas também contra ameaças transfronteiriças como terrorismo, drogas, espionagem e tráfico de pessoas”. Neste quesito, em parceria com grandes meios de comunicação, governantes subservientes como Noboa, Bukele e Milei trabalham mancomunados para transformar grupos criminosos internos em “narcoterroristas”. A manipulação da opinião pública lhes daria aval para uma intervenção externa.
O documento de Washington também critica duramente os aliados do velho continente e indica que os Estados Unidos apoiarão todos aqueles que se opõem aos valores promovidos pela União Europeia (UE), especialmente no que diz respeito à imigração.
Para Trump, a Europa enfrenta a “grave perspectiva de um colapso civilizacional”, o que torna necessário que os Estados Unidos apoiem partidos “patrióticos” – leia-se de extrema-direita – com programas similares em todo o continente para evitar um futuro em que “certos membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) se tornem maiorias não europeias”. Com tal propósito, assinalou, se deve “cultivar a resistência” em toda a Europa, apoiando partidos políticos que lutam contra a imigração e promovam a exclusão. Isso inclui partidos reconhecidamente neonazis, como o Reform UK no Reino Unido – com proposta de deportar 600 mil imigrantes em cinco anos – e o Alternativa para a Alemanha (AfD), cujo atual candidato à direção da ala juvenil, Alexander Eichwald, discursou evocando a retórica de Adolf Hitler.
Numa completa inversão de valores, o documento da Casa Branca acusa a União Europeia (UE) e outros “organismos transnacionais” de minarem a liberdade e a soberania, censurarem a liberdade de expressão e atropelarem princípios democráticos básicos para suprimir a oposição política, posicionando a Trump como o guardião dos valores da humanidade.
O relatório prega também que a Europa está caminhando para se tornar “irreconhecível” devido a políticas de imigração que estariam minando as identidades nacionais dos países europeus e que a política dos EUA deve ser a de ajudar a “corrigir sua trajetória atual”. “Queremos que a Europa permaneça europeia, que recupere sua autoconfiança como civilização e que abandone sua abordagem fracassada de estrangulamento regulatório”, complementa o documento de 33 páginas.
Referindo-se à China, a estratégia sustenta ainda que os Estados Unidos “negarão aos concorrentes de fora do hemisfério a capacidade de posicionar forças ou outras capacidades ameaçadoras, ou de possuir ou controlar ativos estrategicamente vitais”.
LEONARDO WEXELL SEVERO
Veja o documento na íntegra:https://www.whitehouse.gov/wp-content/uploads/2025/12/2025-National-Security-Strategy.pdf










