Quando o tradicional “Estadão” conclui, em matéria publicada nesta quinta-feira, que o principal articulador e estrategista do governo durante a audiência pública com o ministro Paulo Guedes, ocorrida nesta quarta-feira (08) na Comissão Especial da Reforma da Previdência, foi o deputado Alexandre Frota (PSL-SP) é porque a coisa não está nada boa nas hostes palacianas.
Além de se engalfinhar novamente e ofender deputados ao ser questionado a respeito de investigações sobre investimentos com recursos de fundos de pensão sob sua gestão, Guedes foi advertido pelo presidente da Comissão, deputado Marcelo Ramos (PR-AM), para que se ativesse apenas ao tema da Previdência. Marcelo Ramos pediu tranquilidade e que, tanto Guedes quanto os deputados, se restringissem ao debate previdenciário.
“Não vou permitir que um fato político encerre esta sessão”, avisou.
Na verdade, a denúncia dos deputados da oposição sobre rombos nos fundos de pensão, que tiveram a participação de Paulo Guedes, é um tema altamente ligado à Previdência. Ele é que saiu do tema e caiu na baixaria.
A tática adotada por Alexandre Frota (PSL), segundo o Estadão, foi a de futebol americano. Ocupação de espaços. Sentar na primeira fila. A ideia era blindar Guedes com ‘bloqueio físico’ e marcação ‘homem a homem’.
Sem esquecer de destacar que, seguindo rigorosamente seu planejamento, o deputado Alexandre Frota escoltou o ministro todas as vezes que ele foi ao banheiro.
Mesmo com toda a ‘marcação’, idealizada milimetricamente pelo “deputado ator”, ocorreram vários confrontos com o ministro, depois que ele baixou o nível da discussão.
No embate de ideias, ficou evidenciado, como denunciaram os deputados Alessandro Molon (PSB-RJ) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que o plano do governo não passa de desmontar a Previdência pública, tirar R$ 1,2 trilhão dos mais pobres e entregar esse dinheiro aos bancos, ou seja, privatizar a Previdência.
Eles gostariam também que os trabalhadores morressem antes de se aposentar para sobrar mais dinheiro para os especuladores. Por isso insistiram tanto em aumentar a idade mínima para 65 anos.
Não é porque no ano de 2060 poderá teoricamente ter problemas com a saúde da Previdência, como eles alegam, que eles querem fazer a “reforma”. Isso é conversa fiada. Eles querem mesmo é desviar o dinheiro para os bancos agora.
A líder da Minoria na Câmara, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), criticou a proposta do governo Bolsonaro e a vinculação de uma eventual aprovação da reforma com uma suposta “retomada da economia”.
“É uma mentira atrás da outra”, afirmou. “Por que não dizem que a reforma é para privatizar a Previdência Social?”, questionou.
Ao responder à afirmação de Guedes que a Previdência atual já está falida, Jandira afirmou que esta [falir a Previdência] é a verdadeira intenção do governo. “O que o governo quer com essa proposta é desmontar a Previdência pública do nosso país”, observou.
“O sistema de Previdência do Brasil é perfeitamente sustentável”, disse a deputada. “O governo não conseguiu provar que existe o rombo que ele fala”, prosseguiu. “O que querem é tirar as fontes de financiamento definidas pela Constituição, a contribuição dos trabalhadores, dos empresários, do governo e do capital, para jogar nas costas do trabalhador sozinho o financiamento de sua aposentadoria”, denunciou a deputada fluminense.
“Se não há desconhecimento e má fé, nós precisamos interpretar a apresentação do governo como um projeto claro de eliminação da Previdência pública brasileira”, denunciou a líder da Minoria.
Quando o ministro disse que os deputados ganham um salário muito alto e repetiu a ladainha de que “a velha” Previdência é uma “fábrica de privilégios” e uma “máquina perversa de transferência de renda”, a deputada demonstrou que o governo não pretende combater privilégios.
“O que Bolsonaro quer é retirar os R$ 1,2 trilhão dos mais pobres, do Regime Geral de Previdência, onde a média de benefícios está em R$ 1,3 mil, e dos benefícios sociais, que atendem os miseráveis”, destacou.
“Nenhum privilégio foi atacado na proposta do governo”, acrescentou a deputada. “Só os mais pobres foram atingidos pela reforma”, observou a líder da Minoria.
O líder a oposição Alessandro Molon (PSB-RJ) afirmou que “a fórmula do governo de cálculo da aposentadoria com a alteração da idade mínima e tempo de colaboração, está errada. “Se for aplicada como está, quem paga mais vai receber menos”, disse Molon, apresentando exemplos que confirmam o erro grosseiro da equipem de Paulo Guedes.
Molon argumentou que, “se nem uma fórmula matemática simples o governo consegue fazer, que dirá das previsões para daqui a trinta, quarenta anos”, ironizou.
A resposta do ministro foi não ter resposta.
Foi dizer que vai checar os números apresentados pelo deputado. “Eu confio na minha equipe, mas vou checar os números apresentados aqui”, disse Guedes. O deputado denunciou outros aspectos da proposta do governo e destacou que “o PSB vai combater com todas as nossas forças o regime de capitalização”.
Quando o ministro viu que não tinha argumentos, mais uma vez ele se irritou e deu chilique, gerando gritaria no plenário da comissão. A confusão começou quando Guedes afirmou que não iria reagir “nem à ameaça nem à ofensa”. O ministro disse ter notado um “padrão” na Câmara. Segundo ele, após algumas horas de audiência, as perguntas ficam mais pessoais e a “baixaria começa”.
O governo mais uma vez manda seus representantes ao Congresso e estes promovem baixaria, ofendem os deputados e não apresentam números convincentes para aprovar sua proposta.
Não é à toa que uma pesquisa do IBOPE, divulgada na terça-feira (07), mostrou que 80% da população brasileira está contra a elevação da idade mínima para a aposentadoria para 65 anos, como quer o governo. O povo já está percebendo as más intenções do governo.
S.C.
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