
Alunos afirmam que há risco de fechamento de cursos devido à falta de docentes. Universidade afirma que contratação de professores está em andamento
Estudantes da Universidade de São Paulo (USP) aprovaram, em assembleia nesta terça-feira (19), a realização de uma paralisação geral na próxima quinta (21) pela contratação de professores. Segundo os alunos, a ameaça de fechamento de turmas na USP por falta de corpo docente motivou a mobilização estudantil.
A falta de professores atinge principalmente a Faculdade de Letras, Filosofia e Ciências Humanas da USP (FFLCH), da Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Faculdade de Educação (FEUSP), entre outras unidades da universidade, que reivindicam a contratação de professores.
Em abril deste ano, o Centro Acadêmico de Estudos Linguísticos e Literários (CAELL) Oswald de Andrade elaborou um dossiê para apontar os problemas do curso. No documento, os alunos reivindicavam a contratação de novos professores e denunciam o desmanche da faculdade.
Segundo levantamento dos alunos, a FFLCH tem necessidade de contratação de 114 novos professores para manter o Departamento de Letras Orientais em funcionamento.
Na ECA, assim como, na FEUSP e na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) as unidades também contam com uma grande falta de professores, com riscos grandes para o ano que vem, caso não haja a reposição de professores.
Unidades como a Escola Politécnica (POLI), que conta com os cursos de Engenharia da USP, não sofrem com a falta de professores, mas, no entanto, um estudo realizado para mensurar o problema da falta dos profissionais mostra que até 2025, ao menos 30% dos professores da POLI estarão aptos a se aposentar, sem ter substitutos.
Para o diretor de pesquisa e extensão da União Nacional dos Estudantes (UNE) e estudante de Letras da FFLCH, Caio Guilherme afirmou que a luta dos estudantes é legítima e necessária para não prejudicar a formação dos estudantes, que são os que mais sofrem com a falta de professores em seus cursos e institutos.
“Na USP há um tempo tem tido uma movimentação sobre o problema da falta de professores. Desde o semestre passado, outras reivindicações como a assistência estudantil também ganharam forças a serem reivindicadas, mas objetivamente a discussão se agravou com o problema de falta de professores que a Letras tem sofrido, assim como em outros cursos na própria FFLCH ou em outras unidades. Um exemplo como a POLI, que hoje não sofre tanto com esse problema, mas até 2025, ao menos 30% do corpo docente estará apto a se aposentar, então vai sofrer com a falta de professor e não existe um plano para resolver esse problema”, disse.
“A USP afirma que até 2026 vai ter o seu quadro de docentes completo, num patamar mais elevado inclusive, ao patamar que teve em 2014, que foi o período onde mais teve professores na USP. O problema é que não dá pra esperar até 2026. Hoje, os estudantes correm o risco de não se formarem porque está faltando professor em determinada matéria na USP. E é uma semana absurda, pois semana retrasada a USP sobe pro ranking da melhor universidade da América Latina, entra no top 100 das melhores universidades do mundo e hoje sofre com o problema de falta de professor”, continuou Caio.
“Essa denúncia que nós temos feito, esse é o debate que tem sido travado, é uma luta legítima por parte dos estudantes, tem outras reivindicações colocadas, mas o central é o problema da falta de professor, que tem sido vinculado nos meios de comunicação por aí a fora e outra coisa que a gente também tem colocado é a questão da reforma tributária, que vai acabar com o ICMS daqui alguns anos, que é o que financia as universidades estaduais aqui em São Paulo e ainda hoje não existe um plano por parte do Governo do Estado de qual vai ser o modelo de financiamento das universidades. Então esse é um problema que acende e nos alerta, que devemos nos preocupar”, afirmou o diretor da UNE.
POLÍTICA EMERGENCIAL
Para a estudante da EACH, Thayna Malta, a discussão da contratação de professores também condiz com a permanência do estudante na USP. “O que a gente mais vem discutindo no primórdio também é a questão da contratação imediata de professores, que tenha uma política emergencial para isso”.
“Desde o ano passado, mas se intensificando este ano, essas grandes mobilizações vêm acontecendo dentro da USP principalmente na FFLCH, mas também na EACH e na ECA, que foram lugares bem afetados, tudo pela falta da contratação de professores. Com disciplinas obrigatórias, que são necessárias para a formação nesses cursos, neste semestre, por conta da falta de professores, as disciplinas não poderiam ser ofertadas. Então quando a gente fala da questão da falta de professores, a gente está falando diretamente sobre a própria permanência do estudante na USP”, disse.
“Nessa última semana, a USP foi colocada como a melhor universidade da América Latina pelos rankings das universidades e como que a gente fala da melhor universidade da América Latina, da universidade pública dos nossos sonhos, quando não se tem professor que é o principal. Essa é só uma das coisas que vem acontecendo dentro da universidade em geral, que só a mobilização do conjunto dos estudantes em assembleias, em greves, para que se tenha a contratação de professores”, afirmou a estudante.
CONTRATAÇÕES EM ANDAMENTO
A direção da USP reconhece a falta de professores e afirma que novas contratações estão em andamento. O reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior divulgou nesta quarta-feira (20), um vídeo em que fala sobre a distribuição dos cargos docentes para as Unidades de Ensino e Pesquisa da Universidade.
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Carlotti destaca a preocupação da Reitoria na reposição dessas vagas e na definição do número de claros a serem repostos. O reitor explica que o número total de cargos concedidos, que foi 876, representa a diferença entre o número de docentes de 2014 em relação a 2022. Também são apresentadas tabelas com as vagas distribuídas para cada Unidade e o status de contratação em cada uma delas.
Já o diretor da FFLCH, Paulo Martins, afirma muitas das declarações sobre a possibilidade de fechamento de cursos não corresponde à realidade. Também em vídeo divulgado, o diretor também apresenta a previsão de contratação de professores e afirma que, no caso da FFLCH, deverão ser contratados 70 professores.
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