Reitoria tenta aprovar desvinculação do HC e serviços em sessão remota; estudantes, servidores e sindicatos alertam para risco de precarização e privatização do SUS regional
Estudantes e servidores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizaram um dia de mobilizações e manifestações contra a chamada autarquização da área da Saúde da instituição, que estava prevista para ser votada no Conselho Universitário (Consu), nesta terça-feira (16). O projeto pretende desvincular o Hospital das Clínicas (HC) e demais serviços de saúde da universidade sob o argumento de “aliviar” o orçamento da Universidade em detrimento da assistência à saúde da população, desenvolvimento do processo formativo de estudantes e pesquisadores.
Presente no ato, o vereador de Campinas Gustavo Petta (PCdoB), destacou que a autarquização da saúde “é um risco para a saúde pública”. “Se procura desvincular toda a saúde da universidade da autonomia universitária, criando uma nova autarquia. No governo Tarcísio isso é um risco muito grande para o Hospital das Clínicas, para o Hospital da Mulher e para o Hemocentro. Por isso somos contra essa proposta […] um grande risco que pode levar a privatização e a diminuição de serviços tão essenciais para a população”.
Em nota conjunta, a Associação de Pós-Graduandos (APG) e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) destacam a importância do complexo da saúde da universidade para a assistência e garantia de acesso à saúde da população residente na Região Metropolitana de Campinas (RMC). As entidades destacam que a defesa do HC e do complexo de saúde da Unicamp é inseparável da defesa da universidade pública e do SUS.
“O fortalecimento da saúde universitária exige investimentos públicos adequados, recomposição de quadros por meio de concursos, políticas de médio e longo prazo para infraestrutura assistencial e valorização dos profissionais que atuam na linha de frente. Qualquer solução que vise exclusivamente ao alívio do orçamento universitário, sem considerar a relevância regional e científica da rede de saúde da Unicamp, incorre em grave equívoco estratégico e institucional”, diz a nota.
Lucas Marçal, o Vamp, coordenador geral da APG e representante discente no Consu destacou que os atos foram uma importante demonstração de força e que “uma pauta tão séria não pode ser debatida no final de ano, sem a presença dos estudantes e da comunidade acadêmica aqui da Unicamp”.
“A desvinculação desses dispositivos da universidade tende a gerar ruptura entre ensino, pesquisa e extensão, prejudicando a qualidade da formação, reduzindo a capacidade de pesquisa em saúde e restringindo ações extensionistas que dependem de forte interação institucional. Além disso, é um desserviço para a população que deve ter a qualidade dos serviços precarizadas e abre margem importante para que estes serviços sejam entregues para o setor privado, seja por privatização direta ou por meio de sua terceirização para uma OSS”, destacou o mestrando em economia.
Os trabalhadores também se somam na defesa dos dispositivos de saúde hoje dirigidos pela Unicamp. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp, cerca de 30% dos servidores da saúde estão paralisados por conta da votação da proposta, desde segunda-feira (15).
Na terça (16), estudantes e trabalhadores ocuparam o prédio onde ocorria a reunião do Consu, com o objetivo de evitar que a votação seguisse. A reitoria, por sua vez, tentou retomar a votação de maneira online e estudantes e servidores ao descobrir onde estavam os representantes da reitoria, favoráveis a autarquização, seguiram até o prédio e mais uma vez impediram que votação ocorresse. Ainda assim, em mais uma manobra, a reitoria tentará votar nesta quinta-feira (18) o projeto mais uma vez, também de remotamente para evitar oposição da comunidade acadêmica.
A APG e o DCE destacam a preocupação com a fuga da reitoria do diálogo durante o processo. “Preocupa também a condução do processo, que não tem assegurado debate amplo, transparente e efetivamente participativo junto à comunidade universitária e aos trabalhadores da saúde. Alterações dessa magnitude exigem não apenas justificativas detalhadas, mas sobretudo avaliação criteriosa de impactos sobre a missão pública da universidade, sobre seus compromissos constitucionais com a sociedade e sobre sua autonomia administrativa, acadêmica e financeira”, diz em nota.
Ao tentar empurrar goela abaixo a autarquização, a reitoria ignora que “experiências de autarquização em outros estados brasileiros revelam que tais mudanças frequentemente resultam em precarização das condições de trabalho, vulnerabilização de equipes assistenciais, redução de direitos e instabilidade de financiamento, além de fragilizar o controle social previsto no SUS”.
O plano foi apresentado pela reitoria em meados de novembro e tem como pretensão ser aprovado no primeiro semestre de 2026, com uma mudança gradual. Como forma de driblar estudantes e servidores, interditando o debate democrático, a reitoria deve tentar nova manobra para votação, em caráter extraordinário, nesta quinta-feira (18), em formato remoto, a partir das 15h.











