
Segundo ato pela revogação do projeto neoliberal do Novo Ensino Médio foi realizado nesta quarta-feira
Estudantes secundaristas voltaram às ruas nesta quarta-feira (19) exigindo a revogação da reforma do Ensino Médio pelo governo federal. Na capital paulista, os manifestantes se concentraram na Avenida Paulista pela manhã para denunciar o caráter neoliberal da mudança da grade curricular do ensino que penaliza os estudantes da escola pública.
“Os estudantes estão voltando para as ruas no dia de hoje, pela revogação do novo Ensino Médio. Continuaremos nos organizando enquanto essa reforma não for revogada”, destacou o presidente da UMES, Lucca Gidra, durante o ato. Segundo ele, protestos estavam organizados em 40 cidades brasileiras.
“Essa reforma é um grande crime contra a educação pública, pois abre margem para a privatização, abre margem para a precarização, a desigualdade do ensino que ajuda e reforça a manter a desigualdade social”, destacou o líder estudantil.

Lucca defendeu ainda a necessidade da reforma ser revogada e uma nova proposta de ensino, que contemple o conjunto das necessidades do país seja apresentada. Após determinação do presidente Lula, o Ministério da Educação suspendeu os prazos de aplicação da reforma, mas a gestão do MEC tem se manifestado contrária à revogação da medida adotada pelos governos Temer e Bolsonaro.
“Queremos um Ensino Médio com formação e tempo integral de qualidade. Com direito a ensino técnico voltado à indústria e demais áreas necessárias para a reconstrução nacional”, defendeu Lucca.
“Queremos a revogação imediata da deforma do Ensino médio e vamos continuar mobilizados para que isso aconteça!”, ressaltou.

O ato contou com a participação de alunos de escolas de toda a capital, além de estudantes da região metropolitana, professores, lideranças de juventude e políticos.
REFORMA NÃO CONTEMPLA AS NECESSIDADES DA ESCOLA
A presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas, Luisa Martins, ressaltou que os estudantes voltaram às ruas “para manifestar a nossa revolta com esse ‘novo ensino médio’, que não nos serve, que não contempla as necessidades da escola pública hoje”.
Ela criticou a postura do governo de São Paulo que impediu o uso de um carro de som pelos manifestantes alegando questões burocráticas. “Estamos aqui para pedir paz e, por incrível que pareça, o governador Tarcísio utilizou dos aparelhos públicos para proibir a manifestação dos estudantes, embargando nosso carro de som”, criticou.
“Vamos continuar nas ruas, continuar na luta, até a revogação do ‘novo ensino médio’ e para que a gente tenha paz nas nossas escolas, além de estrutura e uma formação de qualidade”, ressaltou Luisa.
O governo de Tarcísio Freitas tem abertamente se pronunciado contrário à revogação, ou a qualquer alteração dos prazos do chamado Novo Ensino Médio. Após o governo federal suspender os efeitos da reforma, a Secretaria de Educação de São Paulo afirmou que descumprirá a orientação do MEC.

SUCATEAMENTO
Presente no protesto, o deputado estadual Guilherme Cortez (PSOL) ressaltou que os estudantes já estão sofrendo as consequências dessa reforma que sucateia a escola pública.
“O novo Ensino Médio é uma medida absolutamente anti-democrática, na época, eu estava no movimento estudantil em 2016/17, quando o governo golpista do Temer, aventou essa proposta, a gente já dizia que essa é uma proposta muito ruim para a educação. Hoje infelizmente a gente está vendo os estudantes que estão no Ensino Médio na escola pública sofrendo essas consequências”, criticou.
“O novo Ensino Médio, por trás de um discurso de que vai modernizar a educação, só serve para sucatear ainda mais a escola pública. Porque os estudantes da escola pública que estão no Ensino Médio, que já tem dificuldade de competir em condição de igualdade com a educação particular, eles estão tendo menos aulas, menos aulas de disciplinas essenciais, como português, matemática, biologia, e estão com a insuficiência daquelas disciplinas dos itinerários, que eles diziam que seria oferecido”, afirmou o deputado.
“É uma medida completamente para aprofundar a desigualdade entre a educação pública e educação privada. A suspensão da aplicação pelo governo federal é uma medida importante, mas a gente está aqui para dizer que vamos continuar lutando até que essa reforma seja revogada completamente”, defendeu.
SEGURANÇA E INVESTIMENTOS
Além da revogação do novo ensino médio, os estudantes reivindicam mais investimentos e segurança nas escolas. “A gente pode fazer o nosso currículo dos sonhos, mas nada vai adiantar se as nossas escolas não tiverem estrutura”, ressaltou a diretora da UMES, Valentina Macedo.
Para ela, é necessário ainda medidas que evitem ataques como os que aconteceram nas últimas semanas. “O caminho para ter mais segurança nas escolas é os estudantes se sentirem mais acolhidos dentro dela. É ter apoio psicológico, ter mais funcionários nas escolas. Não é ter polícia nas escolas, é ter mais inspetor”, acrescentou.
PRECARIZAÇÃO
Laura Neris, estudante da EE Dom Pedro l, na Zona Leste de São Paulo, afirmou que é preciso revogar o novo ensino médio porque ele está precarizando ainda mais o ensino público. “A gente sabe que sempre foi muito precarizado, só que piorou ainda mais. Está fazendo os alunos evadirem das escolas, está fazendo ter mais aulas vagas, os professores mesmo não sabem que aula eles tem que passar, o que tem que falar. Isso não é culpa deles, é porque realmente não foi ensinado”, disse Laura.
Ela ressaltou que os estudantes “tem que começar a se preparar para o ENEM, para a FUVEST, para vestibulares para entrar em escola pública, e não vão conseguir justamente por conta da falta de aulas, porque tem itinerários totalmente desinformativos. Na realidade, a gente não aprende nada, não temos nada que de fato vamos levar para a nossa vida, algo que a gente vai usar no vestibular e ajudar a gente a passar em uma universidade pública”.
“Só precariza ainda mais e da mais oportunidade para aquele aluno de escola particular que pode pagar uma faculdade particular. Então, esse novo Ensino Médio vem com o intuito simplesmente de tirar cada vez mais a oportunidade do pessoal de periferia, de classe baixa”, concluiu.

ELITIZAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
Estudante da ETEC Horácio Augusto da Silveira, Gabriel Gonçalves de Oliveira Santos, destacou a necessidade da manifestação para garantir uma educação pública de qualidade.
“Essa reforma do Ensino Médio faz com que o pessoal pense que está aprendendo, pense que vai sair da escola e entrar para o mercado de trabalho, mas infelizmente quando a galera sai da escola, não consegue fazer uma entrevista de emprego. Não consegue fazer um ENEM, não consegue fazer a FUVEST, então não consegue fazer uma prova para entrar em uma universidade pública”, criticou.
Segundo ele, a reforma “vai elitizar as universidades públicas e fazer com que as pessoas mais pobres tenham que estudar nas universidades privadas e fazendo com que a educação cada vez caia mais”.
“Você tem o aluno que necessita estudar para entrar no mercado de trabalho. Ele entra para uma universidade privada e não consegue pagar, abandona a universidade e a gente acaba criando uma mão de obra barata porque a gente não tem educação que era para ser a base do nosso país. Então esse é um dos principais problemas dessa reforma”, ressaltou Gabriel.