
Segundo um levantamento realizado pelo Observatório Social da Petrobras (OSP), se as refinarias da Petrobrás que o governo Bolsonaro pretende privatizar já tivessem sido vendidas o preço da gasolina estaria, em média, 19% mais caro do que o cobrado sob gestão da estatal. O diesel S-10, por sua vez, estaria custando 12% acima do valor atual.
O cálculo foi feito com base nos valores cobrados pela refinaria de Mataripe na Bahia, ex-Landulpho Alves (RLAM), privatizada no governo Bolsonaro em dezembro de 2021.
Ela é controlada pela empresa Acelen, que pertence ao fundo árabe Mubadala Capital – que assim que assumiu o controle da refinaria passou a modificar a métrica e a forma de divulgação dos reajustes dos combustíveis.
O economista do OSP e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), Eric Gil Dantas, explica que “para chegar a esses números, levamos em conta o comportamento passado —antes da privatização— dos preços cobrados pelas refinarias em relação à RLAM e colocamos todos os valores em função do que é efetivamente cobrado pela Acelen, gestora da refinaria de Mataripe, desde 1º de janeiro de 2022”, disse.
De acordo com Dantas, a simulação teve como premissa que as empresas compradoras das refinarias se comportariam tal como a Acelen na definição de preços.
“Essa simulação mostra que o efeito imediato da privatização da Petrobrás é a subida geral de preços e não a diminuição, como o atual ministro de Minas e Energia [Adolfo Sachsida] quer fazer crer com sua declaração”, conclui o economista. A projeção mostra que a diferença média do preço da gasolina e do diesel ao longo deste ano, entre janeiro e maio, seria de 7% e 12%, respectivamente.
A Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim (MG), teria a maior alta entre as refinarias privatizadas, passando a cobrar R$ 4,86 pela gasolina, ao invés dos atuais R$ 3,94, e R$ 6,25 pelo diesel, no lugar dos R$ 5,04 de hoje – um aumento de R$ 0,92 e R$ 1,22, respectivamente.
Segundo a estimativa ainda, a refinaria Isaac Sabbá (Reman), em Manaus (AM), se já fosse privada, cobraria 65 centavos a mais pela gasolina e 86 centavos mais caro pelo diesel.
A Reman comercializa hoje a gasolina por R$ 3,79 e o diesel a R$ 4,88 o litro. A venda da Reman para o grupo Atem foi aprovada, na última quinta-feira (12), pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Já a Refinaria Potiguar Clara Camarão (RPCC), em Guamaré (RN), teria o litro negociado a R$ 4,37, ou seja, 61 centavos a mais do que o preço atual. Por sua vez, o preço do diesel da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Ipojuca (PE), subiria 80 centavos no preço – de R$ 4,80 para R$ 5,60.
O governo Bolsonaro sucateou o refino de petróleo do país para sair entregando as refinarias da Petrobrás ao setor privado.
De 2019 a 2020, o fator de utilização (FUT) da produção de combustíveis da Refinaria Gabriel Passos (Regap), administrada pela Petrobrás em Betim, na Grande BH, por exemplo, passou de 83,5% para 75%. Em 2013, o FUT era de 94,1%, considerando uma capacidade máxima de produção de 166.051 barris por dia de combustíveis. Ou seja, a refinaria deixou de entregar ao varejo 41.377 barris por dia em 2020.
Os dados são do Anuário Estatístico Brasileiro do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, publicado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O último levantamento disponível é o de 2021, divulgado com dados do ano anterior.
Com menor utilização das refinarias, o Brasil é obrigado a importar mais combustível, que precisa ser comprado em dólar, hoje cotado acima de R$ 5. No caso do diesel, quanto mais caro for seu custo, mais caro ficam os alimentos e demais serviços que dependem do transporte. A inflação vai para o alto.
Em abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – inflação oficial do país, registrou alta de 1,06% – a maior para o mês desde 1996 – e acumula alta de 12,13%, em 12 meses.
Bolsonaro não quer nem que o Brasil seja autossuficiente em refino de combustíveis e nem desvincular os preços dos combustíveis que são produzidos no Brasil ao dólar e à cotação do barril do petróleo no mercado internacional.
Seu objetivo é aumentar ao máximo os ganhos dos acionistas da estatal – na maioria estrangeiros – e desmontar a companhia para privatizá-la – acabando com a soberania do povo brasileiro sobre as reservas petrolíferas do país.
Na quinta-feira (12), o novo ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, anunciou que pediu estudos para a privatização da Petrobrás e da Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA) – estatal responsável por comercializar o óleo e o gás extraídos da camada pré-sal.