Estudos do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos identificaram oficialmente como “sem teto”, numa única noite do ano passado, 553.742 pessoas. Uma verdadeira “bomba-relógio”, na avaliação dos especialistas, uma vez que “eles estão por toda parte”.
Mesmo na cidade de Portland, a maior de Oregon, no noroeste dos Estados Unidos, beneficiada por sua localização no Vale do Silício, que concentra várias empresas de alta tecnologia e melhores empregos, a situação é extremamente tensa. “A desigualdade está crescendo a um ritmo alarmante e os benefícios de uma economia em crescimento se concentram cada vez mais em menos mãos”, explica o prefeito Ted Wheeler, do Partido Democrata, para quem a situação vai piorar.
Conforme estudo da Universidade de Portland, a tecnologia pode ter como consequência o corte de milhares de empregos, agravando ainda mais as coisas.
Na avaliação dos estudiosos, o que aconteceu no Vale do Silício é algo que se repete em várias cidades estadunidenses, incluindo Nova Iorque, Los Angeles, São Francisco e Seattle, onde a falta de moradias é uma epidemia. Submetidos a condições subumanas, centenas de milhares estão confinados em abrigos públicos, barracas de acampamento e até mesmo veículos nas ruas.
“É muito assustador. As pessoas que conheço têm origens de vida muito diferentes, e a população de rua só cresce”, diz Tequila, que tem 37 anos e vive em um acampamento em Portland. “Estando na rua você lida com todos os tipos de situações, como ter que relaxar convivendo com ratos. Você também começa a apreciar a água corrente ou o fato de poder ir ao banheiro sempre que quiser”, acrescenta.
A gravidade da situação fez com que, em 2015, a cidade declarasse pela primeira vez “estado de emergência” devido à crise dos sem-teto. Em Los Angeles, a situação é igualmente alarmante e crescente, somando mais de 50 mil desabrigados, logo atrás de Nova Iorque, com cerca de 75 mil pessoas.
Se do lado dos sem-teto a realidade é tenebrosa, resta aos moradores se queixarem cada vez mais do cheiro de urina, fezes humanas e objetos abandonados que se acumulam pelas ruas e calçadas, às vezes nas suas próprias escadas.
De acordo com o acadêmico australiano Philip Alston, relator especial das Nações Unidas para a pobreza extrema e os direitos humanos, “as políticas do atual governo federal estão focadas em cortar, ao máximo possível, os subsídios para moradia”. Sendo assim, disse, “o pior ainda está por vir”.