
“Ele deveria ter consultado sua consciência para decidir se deveria ou não subir naquele palanque”, disse o general.
O general Sergio Etchegoyen, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), afirmou, na quinta-feira (10), em entrevista ao jornal Valor Econômico, que considera um fato extremamente inadequado o comparecimento do general da ativa Eduardo Pazuello num palanque político comandado por Jair Bolsonaro.
Para o militar, trata-se de “uma fotografia horrorosa da nossa história” que deveria sofrer uma punição. O general afirmou, no entanto, que não iria comentar a decisão do comandante do Exército de arquivar o caso, porque não conhece os detalhes do processo e as razões que levaram o comandante a tomar essa decisão.
Etchegoyen, que participou da entrevista junto com o professor Vinícius Mariano de Carvalho, afirmou ainda que o general Pazuello não é visto como um militar em atividade dentro da tropa e que o episódio não deverá ter grandes repercussões dentro das FFAA. “O general Pazuello é um oficial general que exercia função política já há bastante tempo e continuava vinculado ao Palácio do Planalto. Agora foi nomeado para a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência”, disse.
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“Não tinha naquele palanque nenhum comandante, ninguém que exercesse um cargo efetivo na Forças Armadas. Pelo contrário, Pazuello era ali um general na véspera de completar seu limite de tempo no Exército. Ele não exerce função militar. É general da ativa? Sim. É conveniente? Absolutamente não”, afirmou Etchegoyen, ressaltando que Pazuello deveria ter consultado sua consciência para decidir se deveria ou não subir naquele palanque.
O general prosseguiu em seu raciocínio de que Eduardo Pazuello não é visto como um militar em atividade ou que exerça alguma influência dentro da Força. “Ele é visto muito mais hoje como um general que cometeu, na minha opinião, uma indisciplina. E que tem um projeto político, ou teria um projeto político, e que está fora do Exército há muito tempo. Essa é a minha opinião”, destacou o militar.
Questionado sobre o fato do processo envolvendo o general Pazuello ter sido classificado como sigiloso por 100 anos, Sergio Etchegoyen explicou que “isso não é uma decisão do Exército, como a mídia noticiou”. Ele informou que todos os processos que envolvem situações específicas são classificadas com base na legislação. “Foi isso o que o Exército informou, que não iria comentar o episódio e que cumpria a lei”, disse o general, acrescentado que a lei fala em prazo de até 100 anos, mas, explicou ele, “quem decide quando divulgar é a Controladoria Geral da União”.
Sobre a proposta de uma PEC que impediria a participação de militares da ativa na administração pública, o general classificou como uma discriminação que poderia provocar até mesmo uma perda de talentos por parte da administração pública.
Ele lembrou que o militar é um servidor do Estado, assim como são servidores do Estado os diplomatas, os policiais e a Receita Federal. “Por que os militares, como servidores do Estado é que não podem exercer cargo na administração pública?”, indagou, lembrando que “é a única dessas carreiras que tem um limite temporal para permanecer nessas funções, que é de dois anos”. “O militar que ocupar cargo na administração tem que ir para a reserva quando completa dois anos fora da atividade nas FFAA”, explicou.