O ex-assessor do deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), Fabrício Queiroz, saiu de seu esconderijo na quarta-feira (27/12), em uma entrevista ao SBT, mas não esclareceu a movimentação milionária em sua conta, a partir dos depósitos de outros funcionários do gabinete do filho de Bolsonaro.
Muito menos sobre o depósito de R$ 24 mil, que fez na conta da mulher de Jair Bolsonaro, segundo ele já esclarecido pelo “nosso presidente”.
Ao contrário, Queiroz, que faltou a dois depoimentos ao Ministério Público (MP), quis obscurecer a questão, quando perguntado sobre os depósitos suspeitos de nove funcionários na sua conta.
Porém, suas juras de que não é laranja (“Eu não sou laranja. Sou homem trabalhador, tenho uma despesa imensa por mês”), merecem uma consideração: laranja de quem?
Mas, disse ele, “só falo ao MP”.
Pois, até agora, foi ao MP que recusou-se a falar.
Na entrevista, outra vez, disse que nada tinha a declarar sobre a movimentação de R$ 1,2 milhão que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) encontrou em sua conta.
Sobre uma de suas filhas, Nathalia Queiroz – conhecida como a personal trainer Nat Queiroz -, que recebia salário da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), ao mesmo tempo que cursava faculdade e trabalhava como recepcionista em uma academia, no horário em que deveria estar no gabinete de Flávio Bolsonaro, explicou que “o número de funcionários é tão grande que eles não cabem no gabinete”.
Deve ser por isso que o funcionário Wellington Servulo Romano da Silva estava lotado no gabinete, mas morava em Portugal. Não tinha mesa para o coitado trabalhar na Alerj…
Entretanto, a repórter insistiu: “Mas, de onde vem o dinheiro movimentado na sua conta e por que, então, o Coaf convocou o senhor para dar explicações?”.
Queiroz repetia sempre que só falaria ao MP. Mas, com uma expressão cínica, disse que é chegado a um “negócio”.
“Eu sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro”, explicou. “Eu faço, assim, eu compro, revendo, compro, revendo. Compro carro, revendo carro. Eu sempre fui assim. Sempre. Eu gosto muito de comprar carro em seguradora. Na minha época, lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar, vendia. Tenho segurança”.
“Mas, e os depósitos de funcionários, de sua mulher e de sua filha na sua conta?”, retrucou a repórter.
“Sobre isso eu só vou falar para o MP”, repetiu Queiroz.
De fato, ele “faz tanto dinheiro” que o Coaf, em relatório à pedido da Polícia Federal (PF), na Operação Furna da Onça, desconfiou.
Por exemplo, o Coaf apontou depósitos de R$ 97.641,20, feitos por sua filha, Nathalia Queiroz, em sua conta. Descobriu também que outros oito funcionários, da mesma forma, faziam depósitos repetidos na conta de Queiroz.
O relatório do Coaf mostrou que Nathalia Queiroz repassou para a conta do pai, dependendo do mês, entre 72,23% e 99% do que recebeu da Alerj.
A esposa de Fabrício Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar, também contratada por Flávio Bolsonaro pela Alerj, repassou entre 31% e 46% – dependendo do mês – para a conta do marido.
Outra funcionária, Luiza Souza Paes, transferiu entre 24,8% e 33,5% do seu salário para a conta de Queiroz.
Além disso, 57% dos depósitos feitos na conta de Fabrício Queiroz ocorreram no dia do pagamento dos salários na Alerj ou até três dias úteis depois.
Não era só Fabrício Queiroz, portanto, que era laranja (ver, ao lado, foto da sua casa, no Rio).
No entanto, segundo disse ao SBT, sua mulher e filhas (houve outra, Evelyn, contratada por Flávio Bolsonaro pela Alerj) estavam no gabinete “por méritos próprios”.
Perguntado sobre os depósitos feitos em favor de Michelle Bolsonaro, Queiroz disse que “nosso presidente já esclareceu. Tinha um empréstimo de R$ 40 mil. Foram 10 cheques de R$ 4 mil. Nunca depositei R$ 24 mil”.
Porém, não explicou por que, sendo um “homem de negócios”, que “fazia dinheiro”, com uma movimentação de R$ 1,2 milhão na conta, precisou pedir emprestado a Jair Bolsonaro – dinheiro que este último disse que era seu, mas não declarou no Imposto de Renda.
Queiroz, aliás, tentou livrar o chefe: “Não tem nada com eles [Michelle e Jair Bolsonaro], o problema é comigo. Eu é que vou explicar tudo ao promotor”.
Por várias vezes disse que só servia a Flávio Bolsonaro – e não ao seu pai.
No entanto, ele era amigo de Jair Bolsonaro, desde 1984, quando serviram no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista. Seu vínculo jamais foi sobretudo com o filho de Bolsonaro, mas com o pai.
Além disso, quando sua filha, Nathalia Queiroz, saiu do gabinete de Flávio, no Rio, foi imediatamente nomeada secretária parlamentar de Jair Bolsonaro, em Brasília, sem necessidade de mudar para a capital. Continuou no Rio, como personal trainer, apesar de receber, como assessora em Brasília, um salário de R$ 10 mil, pagos pela Câmara dos Deputados.
Na entrevista, a repórter quis saber por que ele desapareceu e não foi depor ao Ministério Público.
Queiroz respondeu que estava doente e que tinha “gente estranha” rondando a casa dele, e que essas pessoas não eram da imprensa.
“Eu podia ser morto”, disse ele.
Mas disse que está evacuando sangue (“antes era pouquinho, mas, agora, depois disso tudo, veio sangue vivo”). Por isso, disse ele, não foi depor ao MP.
A repórter, então, perguntou em qual hospital esteve internado, mas Queiroz não soube dizer. Não se lembrou onde esteve internado. Relatou dor no ombro e tosse. “Uma bursite”, explicou.
Não garantiu presença na data em que está convocado pelo Ministério Público, porque “poderá ser na mesma época da cirurgia”.
Assista ao vídeo da entrevista de Queiroz ao SBT
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Procurando um site que divulgue uma notícia de forma imparcial, dá nojo de ler as ofensas forçadas pelo escritor só pelo seu viés político, tentando insinuar algo entre linhas.
Não é por nada que esteja “insinuado” que você não gostou da matéria. Pelo contrário, é pelo que está dito. Sabe por quê? Porque, bem ao jeito bolsonarista, você acham que “imparcialidade” é ignorar a corrupção baixo-clero do Bolsonaro & cia. – ou, ainda pior, elogiar o dito cujo.